O que aconteceu em Israel, às mãos de assassinos do Hamas, escapa à racionalidade, não tem comparação e não tem perdão. É por isso que é inqualificável que haja à esquerda quem se permita uma narrativa justificativa ou complacente dos atos, pondo no mesmo plano o que é diferente e normalizando a selvajaria, com exemplo no BE, em Mariana Mortágua e na Marisa Matias.
Afirmar-se que “as vítimas inocentes dos dois lados são o efeito da ocupação”, soa quase a declinação da posição do Líder Supremo do Irão, Aiatolá Ali Khamenei, patrocinador do terrorismo internacional, que usou o X para dizer em hebreu aos israelitas: “Trouxeram esta calamidade sobre vocês mesmos”.
Pelo ridículo e pela ignorância, é também extraordinário que haja quem participe em manifestações de rua desculpabilizando o Hamas, com bandeiras LGBT à mistura, sabendo-se que a homossexualidade é reprimida e a morte a pena praticada a propósito na Faixa de Gaza.
Sejamos claros: uma coisa são as expressões de um conflito larvar, com múltiplos atos de enorme violência, de parte a parte, desde o momento em que o Estado de Israel foi criado em 1948, após proposta da ONU em 1947 e até aos nossos dias. Outra coisa bem diferente, é a aquilo que o Hamas fez, traduzido em mais de 1.200 civis indefesos – crianças, mulheres e homens (40 bebés só num kibbutz) baleados, esfaqueados, decapitados, trucidados, tudo divulgado em redes sociais para multiplicação do terror, a par de mais de 2700 feridos e centenas de pessoas raptadas, agora usados como escudos humanos e sob ameaça de execução. Esta foi uma premeditação terrorista, uma barbárie e um genocídio só possíveis por quem não tenha mínimos de humanidade, em linha com atos antes praticados durante o holocausto.
Não se pode confundir a causa palestiniana, com o Hamas, nem elevar uma organização terrorista, que não reconhece a existência do Estado de Israel e não se senta à mesa com quaisquer representantes do povo judeu, que diz querer extirpar da face da terra, à categoria de parte no conflito. Em lugar bem diferente estão a Fatah e a OLP, que combatem Israel com convicção, mas não fecham liminarmente portas ao diálogo e a negociações.
Na União Europeia, os acontecimentos em Israel também tornaram nítida a divergência na Comissão e entre os países-membros, sobre a possibilidade da suspensão de apoios económico-financeiros à população palestiniana, defendida por um grupo liderado pelo comissário Oliver Varhelyi e contrariada por outro grupo, com Josep Borrell à cabeça.
Possa ao menos a fratura mostrar, pelo pragmatismo, o disparate do fim do direito de veto em matéria de política externa e de segurança, substituído pela regra da maioria qualificada, que neste momento, a pretexto de futuros alargamentos, federalistas de diferentes nacionalidades (portugueses também) pretendem, a toque de caixa de franceses e alemães.
A política externa e a segurança, traduzem reservas elementares e irrenunciáveis de soberania, por estarem muitas vezes necessariamente em causa interesses estratégicos dos Estados, nem sempre coincidentes, e não raras vezes antagónicos. Quando assim sucede, permitir-se sem retorno que o pensamento de alguns apenas, se possa impor a todos os outros, não é normal e é profundamente lesivo do interesse geral.