Não sei se existe outro país com tamanha singularidade, mas acredito que seja difícil existir algum onde políticos fazem de jornalistas e jornalistas fazem de políticos. É nas televisões que jogam as suas cartadas e posicionam-se, alguns, para outros voos. Vejamos o que se passa no PS, onde três figuras usam o tempo de antena para dizerem aquilo que o líder não gosta e revelam a sua liberdade de pensamento: Sérgio Sousa Pinto, o ex-menino, mas ainda rebelde, é uma lufada de ar fresco, dizendo o que lhe vai na alma, estando um pouco a borrifar-se para o que pensa António Costa e sus muchachos. Sousa Pinto é ainda das poucas figuras socialistas que não tem pejo em descrever de uma forma cristalina o que são o BE e o PCP – penso que já chegou mesmo a dizer que são uma excrescência da democracia, pois sonham com uma sociedade totalitária. Depois, há Alexandra Leitão e Álvaro Beleza, que não se servem dos seus programas para se promoverem no partido, mas que gostam de dizer como fariam se fossem eles a mandar. Por fim, Pedro Nuno Santos, desculpem, mas só me faz lembrar John Cleese a andar, que quer usar o palco mediático para marcar a sua agenda política, mostrando como sonha com uma nova geringonça.
O homem sonha chegar a S.Bento com uma bandeira ao lado de Mariana Mortágua – que se tem revelado uma verdadeira guarda revolucionária de Mao Tsé Tung ao atacar Israel, só lhe faltando dizer que os israelitas têm de ser despachados para o mar – e Paulo Raimundo. Há ainda outras figuras socialistas que enchem os ecrãs, mas nenhuma delas consegue ter tantas informações como o jornalista, perdão, candidato presidencial Luís Marques Mendes, dos vários ministérios. Marques Mendes dá notícias semanalmente que ninguém tem da área governamental, o que não deixa de ser irónico. Se é fácil entender que o gabinete de Fernando Medina jamais dará informações a Pedro Nuno Santos, não deixa de ser estranho que outros ministros não passem informações aos seus camaradas comentadores. Ah! E Marques Mendes não dá só notícias de política, basta recordar que foi o único que anunciou que em Portugal irão decorrer 20 jogos do Campeonato do Mundo de futebol.
Mudando de agulhas, ou nem tanto, o que dizer dos comentários do BE e do PCP aos acontecimentos de Israel? Se o Bloco põe a tónica no povo palestiniano, dizendo que tem direito a ter o seu Estado e a não ser atacado, acabando por condenar os «crimes de guerra cometidos pelo Hamas e por Israel» – como se Israel decapitasse crianças, queimasse palestinianos até à morte, violasse em grupo mulheres jovens, etc, etc. Já o PCP, mais uma vez, entra numa narrativa assustadora, atacando Israel, não condenando o grupo terrorista Hamas, que matou a sangue frio indiscriminadamente cerca de duas mil pessoas, entre as quais bebés e idosas. Como é possível um partido que vive em democracia não condenar tais atos hediondos? Nada justifica não se condenar tamanha barbárie. Outra coisa completamente diferente é defender os direitos legítimos dos palestinianos a terem o seu Estado, e que nada tenham a ver com o Hamas. l
P. S. Irá Luís Montenegro ser o António Guterres do PSD? Guterres entrou na liderança do PS quando Cavaco era primeiro-ministro há sete anos e as sondagens não eram nada animadoras. Precisamente o que se passa agora com Montenegro, que deu uma boa entrevista à TVI.