Mário Soares dizia que num ano em política tudo podia acontecer. Agora, num único dia, tudo pode mudar – que o diga Pedro Passos Coelho ou Fernando Medina. O que hoje se prevê, amanhã já pode ser o seu contrário. A política está volátil demais para merecer confiança, mais ainda quando lhe falta atitude e memória.
Não foi há muito tempo que António Costa prometia estabilidade fiscal e investimento público; que o SNS era uma porta de proximidade que levava os cuidados de saúde a cada uma das pessoas; que os jovens não teriam de emigrar; que a educação seria a primeira das prioridades e que todos teriam uma habitação pelos cinquenta anos de abril. Viu-se e vê-se.
Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro são a geração que se segue e estão condenados a enfrentar-se. Os comentadores estão embeiçados pelo primeiro e impacientes com o segundo. Sim, é verdade, a paciência está em desuso e a esperança vem do desespero. Mas é admirável a memória curta dos portugueses – basta-nos uma trela e um osso para roer e por na sopa.
Esta semana, Luís e Pedro confrontaram-se nas audiências – um na CNN Portugal e o outro na SIC Notícias. Durante trinta minutos estiveram em simultâneo. O líder do PSD mostrou-se liberal porque precisa da direita; o aspirante a líder do PS diz-se social-democrata porque lhe falta o centro. Afinal, o Luís tem ideias e o Pedro não é um perigoso bloquista disfarçado.
Pedro Nuno Santos vai repetir o caminho que José Sócrates fez na RTP – bater na direita, piscar o olho ao centro e garantir a esquerda. E chegou a primeiro-ministro. Luís Montenegro está obrigado a ganhar eleições, ou então volta para o seu escritório no mercado do Bom Sucesso, já que este regresso a Lisboa poderá não o ser.
Durante a meia hora em que estiveram em simultâneo, Montenegro levantou-se, engrossou a voz, ergueu a cabeça e olhou a audiência nos olhos, Nuno Santos, delicodoce, baixou-os e pediu que não o sentenciem pelos erros. Sim, é verdade, não devemos ser julgados pelos piores momentos das nossas vidas. O primeiro luta pela sobrevivência, o segundo pela iminência.
Neste primeiro ‘dérbi’ de Aveiro, Espinho bateu por largo São João da Madeira: 160 mil portugueses quiseram ouvir o que tem o líder da oposição para oferecer e menos de 100 mil tiveram a curiosidade em ver o regresso do menino d’oiro socialista. Mesmo assim, o futebol ficou à frente e entrou-lhes com o Pé em Riste (CMTV) e o Joker (RTP1) teve Papel Principal (SIC), porque o que interessa aos 2,5 milhões de portugueses é Festa é Festa (TVI)!
A entrevista de Luís Montenegro teve picos de 200 mil pessoas; A entrevista/comentário a Pedro Nuno Santos começou com 110 mil e foi sempre a cair até acabar com pouco mais de 70 mil e ser ultrapassado pela guerra na RTP3. A bola andou sempre acima dos 220 mil.
Se Pedro Nuno Santos não cumpriu as expectativas, Luís Montenegro não convenceu os comentadores do costume. O Luís pede o tempo que o Pedro tem, mas o que falta ao líder do PSD não é o tempo, é o projeto. Percebem-se-lhe as ideias chave, mas não se lhe conhece o sonho e a ambição que tem para o país. Como diria Miguel Torga, Montenegro precisa de mais força de inspiração e mais poder de encantação.