Não é não

Cá e lá, partidos socialistas, PS e PSOE a governar, tendo chegado ao governo apoiados em partidos da extrema-esquerda.

Tínhamos a aviação civil e a aviação militar. Inovador, o dr. Marques Mendes trouxe-nos a aviação política. Referindo-se ao ‘não é não’ do dr. Montenegro sobre o Chega, profetizou que agora sim, agora é que o PSD ia descolar. Poucos dias depois, sondagem com o PSD a cair cinco pontos, de 30% para 25%. O PSD não descolou, afundou-se na pista. Começou mal, a História da aviação política em Portugal.

Isto não passaria de mais um dos muitos divertidos fait-divers da bolha político-mediática indígena não se desse o caso de ser um sintoma da grave doença que atingiu o espaço da direita europeia, espaço no qual incluo a direita e o centro-direita. O caso ibérico é uma variante grave dessa doença, como as últimas eleições legislativas, em Portugal e Espanha, facilmente o comprovam.

Cá e lá, partidos socialistas, PS e PSOE a governar, tendo chegado ao Governo apoiados em partidos da extrema-esquerda. Em ambos os casos, pelas suas raízes doutrinárias, esses partidos filiam-se numa extrema-esquerda pura e dura ainda que, estrategicamente, tentando ocultá-lo através de uma práxis política e de um discurso mais consensuais.

Cá e lá, partidos de direita, Chega e Vox que, pelas suas raízes doutrinárias e pela sua práxis política e discurso se filiam numa direita conservadora e liberal, que dá a total primazia ao indivíduo sobre o Estado, nos antípodas dos clássicos partidos da extrema-direita que se centram no Estado, colocando o indivíduo exclusivamente ao seu serviço.

Cá e lá, partidos de centro-direita, PSD e PP, que tinham por seus, para além dos votos do centro-direita, os votos da direita que, até há pouco tempo, em ambos os casos, não tinham partido que os representasse. Por razões historicamente diferentes, mas nos seus resultados coincidentes, num e noutro caso iniciou-se um desvio do centro político em direção à esquerda. PP e PSD seguiram esse movimento, abrindo espaço político para o surgimento de partidos de direita com os quais se vêm hoje obrigados a dividir, gostem ou não, o grande espaço da direita. Acabaram-se, para eles, as maiorias absolutas, mas não a ilusão de que ainda as podem vir a ter, mediante a chantagem do voto ‘útil’ e centrando o seu discurso não no ataque aos socialistas, mas aos partidos à sua direita.

Percebendo isso, os partidos socialistas, cá e lá, descobriram o elixir da eternidade com o discurso das linhas vermelhas assimétricas. Eles podem coligar-se com a extrema-esquerda totalitária, mas PP ou PSD estariam proibidos de se coligarem com partidos de uma direita conservadora e liberal. Porquê? Porque sim. Resultado? Em Portugal o dr. Rio, fazendo campanha eleitoral contra o Chega, perde as eleições para um PS desgastado ao qual entrega, de bandeja, uma até então impensável maioria absoluta. E Feijóo, fazendo o essencial da campanha contra o Vox consegue, na prática, perder as eleições para um Sánchez que, depois do desastre nas eleições locais era suposto estar politicamente morto e enterrado.

Luís Paixão Martins descobriu e vendeu – espero que se tenha feito pagar bem – o elixir da longa vida política. Costa e Sánchez compraram-no. O senhor Feijóo e o dr. Montenegro fabricam-no diligentemente, sem nada cobrar mas, antes, pagando do seu bolso. Quanto ao dr. Marques Mendes, e tantos outros, fazem dele publicidade nas televisões. E é nisto que estamos.