Definitivamente, acabaram todas as desculpas. Oito anos é muito tempo! E oito anos, neste caso, é o tempo que tem levado a não perceber o que estava a acontecer, a demonstrar a incapacidade de realizar políticas a prazo, a exibir a falha do governo, a demonstrar o ridículo de tentar lançar a culpa sobre históricas soluções. E tão absurdo é ver um ministro que devia estar informado esfregar os olhos de espanto, como assistir a uma entrevista de um primeiro-ministro a declarar-se incapaz de resolver um problema. O mundo caminhou mais rapidamente do que as competências. A incompetência ganhou à evolução. A quem atribuir a responsabilidade? Às maiorias que propiciaram as soluções governativas dos últimos tempos. Por quem foram elas constituídas? Claro que pelo Partido Socialista, mas é conveniente recordar que durante um substancial período não esteve sozinho. A ‘geringonça’ foi um alfobre de ideias, tristes. A’ geringonça’ foi um biombo. A ‘geringonça’ foi uma muralha de aço. A ‘geringonça’ foi um verbo de encher. Deixou um vazio mais vazio. E hoje que tudo parece correr mal no que respeita às respostas do Estado às essenciais solicitações dos cidadãos, conclui-se que a festa da ideologia esqueceu o resto. Que Estado é este que deixa os cidadãos sem casa, sem saúde, sem educação? Num golpe de rins, os ‘compagnons de route’ sacodem as responsabilidades como quem sacode a poeira de um guarda-pó ocasional. Uns apoiam a atividade frenética da CGTP e da sua funcionária presidente especialista em todas as lutas, teórica de todas as soluções, voz do dono do Sol que nasce. O Partido Comunista é isto nos dias que correm. Outros promovem a iniciação da atividade contestatária na rua tentando conquistar os jovens para o radicalismo de pacotilha. O Bloco de Esquerda é a imagem da morte aos ricos ou do ato revolucionário fundador do estilhaçar de uma montra, da mancha da tinta, da interrupção do trânsito. Não terão eles percebido para onde caminhava o país? Não terão eles tido capacidade para prever, para inventar, para influenciar o poder? Qualquer das hipóteses é condenável. No primeiro caso dividiram a incapacidade. No segundo caso não se consegue descobrir o que andaram a fazer formando uma maioria para esquecer. Quantas casas conseguiram que se construíssem nos últimos anos? A quantos doentes mais foi possível dar médico de família? Quantas filas de espera se reduziram nos centros de saúde? Quantos professores e alunos mais receberam alojamento condigno? Ou seja, tirando a ocupação mediática, a palavra mais exata para definir o seu concurso é inutilidade. Tentam inventar uma nova função. Agora que a temperatura do país sobe dedicam-se à contestação climática. São eficazes, distraem. Mas, mesmo neste setor, são de vistas curtas. Nós, os portugueses, não os merecemos. Exportemos a ‘expertise’. Temos algumas culpas no cartório, não fizemos tudo o que devíamos, corrói-nos o problema da falta de água, da guerra das culturas agrícolas, mais uma vez da incapacidade em prever. Mas sou levado a pensar como seria útil que a China e a Rússia tivessem um Camargo e uma organização como a Climaximo para fazer as guerras que precisam, os boicotes, os atos de indisciplina cívica. Afinal neles se concentra a produção ou o uso de boa parte dos combustíveis fósseis. Aqui é um desperdício.
Os que não se importam, exportam
Que Estado é este que deixa os cidadãos sem casa, sem saúde, sem educação?