Denominada por Velho Continente ou por Velho Mundo, a Europa atravessa uma fase crucial da sua história, sendo imperativa a necessidade de responder com urgência aos exigentes desafios pretendidos pelos seus cidadãos, tanto nos países de origem como ao nível supranacional, constantemente colocados à prova por extremismos que sussurram divisões nos seus ouvidos inquietos e desalentados.
Numa altura em que se aproximam as eleições para o Parlamento Europeu, a única assembleia transnacional do mundo eleita por sufrágio direto, este será o momento certo para colocar na agenda os principais temas diferenciadores de cada Estado-membro, proporcionadores de mais-valias ao nível global e suscetíveis de acrescentarem valor aos interesses dos residentes na União Europeia, onde o melhor de um deve ser aproveitado pelos restantes.
Ao mundo cada vez mais beligerante, onde proliferam conflitos armados com reflexos económicos transversais, o quadro europeu atual não tem sido capaz de solucionar com o sucesso desejado, seja pelo prolongar da guerra na Ucrânia, pelo eclodir de uma violenta frente no conflito israelo-palestiniano, ou pelo resultado das eleições na Eslováquia que permitiu à Hungria ter um novo parceiro ideológico no seio das instituições europeias, tornando a Europa permeável e gerando um natural desânimo que se poderá refletir numa elevada abstenção.
Neste contexto, existe o perigoso risco de juntar uma guerra cultural aos confrontos em curso, influenciando seriamente a questão do modelo das fronteiras, as migrações ou a compreensão pelas diferenças. O que está verdadeiramente em causa não são visões distintas do mundo, a economia ou o crescimento económico, mas o modelo de sociedade comum que desejamos, sendo fundamental discernir os discursos xenófobos e divisionistas das aspirações unificadoras num espaço comum.
Pelo legado que o caracteriza, Portugal tem uma obrigação acrescida e uma vantagem inestimável, por ser o protagonista da Lusofonia na Europa e o representante direto de mais de 260 milhões de pessoas que se expressam na nossa língua, devendo deixar bem claro que os problemas sociais não implicam questões raciais. A esse discurso fácil e populista, deverá responder-se com os melhores exemplos, demonstrando que nas diferentes sociedades evoluídas prevalece a diversidade, a nossa maior riqueza, transportando esse rumo certo para o contexto geográfico onde se insere, reforçando assim o que une os portugueses a vários territórios.
Nesta ampla plataforma de entendimento privilegiada, reside uma fórmula baseada numa identidade própria, alimentada por diferentes realidades e culturas, construída durante séculos para atingir uma comunidade de tolerância e de paz, alicerçada na busca por afinidades, podendo ser estendida a um continente europeu carenciado de princípios que nos permitam viver e conviver juntos na diferença.
A Lusofonia não pode ser um amor de verão, deve ser consistente e necessita de crescer nas áreas de influência de cada país, seja na União Africana, nos BRIC’s ou na União Europeia. É por esse motivo que deverá estar bem presente, pela voz portuguesa, nesta escolha eleitoral feita a cada cinco anos. Assim o entendam os partidos políticos na indicação dos seus candidatos e a população portuguesa na escolha dos seus representantes na Europa. l
Escritor, Advogado e Presidente do Estoril Praia