Luís Carvalho. “Crescer e a internacionalização são dois grandes sonhos”

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Luís Carvalho é conhecido pelas suas criações contemporâneas e pelo seu trabalho na moda feminina. Tem uma marca homónima, criando coleções elegantes e sofisticadas, muitas vezes incorporando elementos de design moderno e detalhes cuidadosamente elaborados. A celebrar este ano 10 anos de carreira, é considerado um dos designers de moda mais talentosos e influentes do país.

Luís Carvalho tem apenas 36 anos, mas já é um conhecido designer de moda. Formou-se em Design de Moda e Têxtil na Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco em 2009. Veste várias das celebridades mais conhecidas do nosso país e a sua marca tem sido uma presença constante na Semana da Moda Nacional em Lisboa, conhecida como ModaLisboa, onde apresentou no último fim de semana a sua proposta para a primavera/verão 2024.

A celebrar 10 anos de carreira, conversa com a LUZ sobre as origens, o presente e as perspetivas de futuro.

Como é que foi crescer em Vizela?
Foi bom: cresci num meio mais ligado ao campo e isso foi muito positivo para mim enquanto criança. Hoje em dia, Vizela já não é assim e acho que viver “mais ligado às raízes” foi extremamente importante para o meu desenvolvimento pessoal.

Como é que era a sua família?
Era uma família grande, pois cada um dos meus pais tem quatro irmãos. Hoje em dia o meu núcleo principal é mais pequeno, constituído por apenas alguns elementos e os amigos próximos que são como família.

Quais foram as suas maiores influências?
A minha mãe, tanto na minha vida pessoal como profissional! Sempre foi um modelo a seguir, de determinação, de “arregaçar as mangas” e trabalhar! Ela tinha uma confeção de vestuário e aquilo que mais admirava nela era o facto de que, quando as pessoas entravam na mesma, não sabiam quem era a patroa ou a funcionária porque a minha mãe estava sempre com as “mãos na massa”, como se costuma dizer. Para mim, esse é o melhor exemplo que se pode dar a alguém que trabalha connosco.

Ia perguntar-lhe porque escolheu estudar Design de Moda e Têxtil, mas agora entendo o motivo!
Costumo dizer que pode ter influenciado, sim! Vivia no meio dos trapos! Sabia que tinha de estar ligado a artes, mas quando fiz os testes psicotécnicos percebi o caminho que tinha de seguir.

Como é que foram os anos no Instituto Politécnico de Castelo Branco?
Ao princípio, queria ter ido estudar para Lisboa, mas depois percebi: “Ainda bem que fiquei em Castelo Branco!”. Foram quatro anos essenciais para o meu desenvolvimento. Por exemplo, conheci duas das minhas melhores amigas lá. Por outro lado, como é um meio mais pequeno, acabamos por apoiar-nos mais, sermos mais unidos e há mais foco. Acho que me teria “perdido” mais na capital. Superou muito as minhas expectativas e, se tivesse de voltar a escolher uma instituição, seria esta.

E quais são as melhores recordações que guarda para além daquelas que mencionou?
A escola era no meio do campo: portanto, estávamos a ter aulas e víamos as ovelhas a passar! São imagens que nunca mais esquecerei. Agora, a escola mudou de instalações. Ainda há pouco tempo estive lá e disse aos alunos que não acho tanta piada porque falta a natureza! Que, para mim, é uma enorme inspiração. Para além disso, aproveitei ao máximo a vida académica: sou uma pessoa que gosta muito de trabalhar, mas também de se divertir!

Trabalhou nos ateliês de Filipe Faísca e Ricardo Preto, na Salsa Jeans e depois começou em nome próprio. Este foi um grande salto.
Sim! Sempre idealizei ter a minha marca, mas sentia que estava a fazer aquilo que tinha de fazer. Quando saí da Salsa, tinha duas opções: ia trabalhar para outra empresa relacionada com a área da moda, que também era sita em Lisboa, ou começava a minha marca própria. E, aí, toda a gente começou a dizer “Luís, é a altura certa!”. E parece que mudei o chip e entendi que, efetivamente, devia fazê-lo. Já tinha o know-how todo, um escritório na empresa da minha mãe, e acima de tudo, o apoio dela. Foi aí que decidi que podia começar. Precisava desse empurrão e desse aval dela para iniciar.

O que sentiu quando apresentou a sua primeira coleção na ModaLisboa em 2013?
Quando contactei a ModaLisboa, a explicar que ia criar uma marca, e confirmaram que podia apresentar lá uma coleção… Foi uma das melhores notícias da minha vida! O dia em que estive lá foi emocionante para mim, a minha mãe e os meus amigos, que me apoiaram! Criar é fácil, o que vem a seguir é que é mais complicado.

A partir daí, teve medo?
Houve fases em que tive receios e inseguranças porque passei de algo estável para uma coisa instável e estamos em Portugal, um meio pequenino, mas sempre que apresentava uma coleção, sabia que tinha tomado a opção certa! Acordar e ter vontade de ir trabalhar é essencial! Por exemplo, nesta fase em que também estive a preparar tudo para os Globos de Ouro, não parei, mas a adrenalina, o stress, a correria… Tudo me fez sentir bem! Prefiro sentir tudo isto a estar parado.

E fica mais ansioso por estar nomeado ou por ver o resultado final do seu trabalho?
Por ver o resultado final, sem dúvida! Não descanso enquanto não vejo toda a gente na red carpet! É perceber que aquilo que eu fiz está lá: fico mais ansioso com isso. O foco são as pessoas que visto porque têm muito peso em Portugal. Depois venho eu [risos]!

Regressando ao início da sua carreira, abriu o seu primeiro espaço físico em Vizela, em 2014. Numa entrevista, perguntaram-lhe se não achava que perderia público dos grandes centros por estar longe dos mesmos e respondeu que as pessoas que realmente querem ser vestidas por si vão a Vizela.
Precisamente! Ainda no ano passado tive uns noivos que vieram de Barcelona, três vezes, de propósito, a Vizela! Em primeiro lugar, só compra moda de autor, em Portugal, quem realmente a valoriza. E quem a valoriza procura. É claro que seria muito mais simples se estivesse em Lisboa, por exemplo, mas estar em Vizela nunca foi impedimento para o que quer que fosse.

Foi galardoado com vários prémios como o GQ Men Of The Year em 2016, na categoria de designer de moda, ou o Globo de Ouro de Melhor Estilista em 2017. O que é que isto significa para si?
É uma honra!

Quais são as suas maiores referências no mundo da moda?
O Pierpaolo da Valentino, o Raf Simons e a Miuccia Prada. Aprecio mesmo o trabalho deles de forma constante. Nunca desiludem!

O Luís tem uma “nova faceta”: é agora embaixador da marca DS. De que forma o automóvel pode ser objeto de alta-costura?
A partir do momento em que é útil, pode ser! Eu vivo na A1, como costumo dizer, portanto, é útil ter um bom carro! Esta parceria faz sentido porque o design do carro é super moderno e associa-se bem à pessoa que eu sou. É um carro mais desportivo tipo SUV. Ando sempre com a roupa para trás e para a frente! O design está todo interligado. Posso inspirar-me num carro para desenhar uma coleção, por exemplo. Os acabamentos dos estofos, o design do carro… tudo está interligado. Umas coisas inspiram as outras.

O que significa ser embaixador da DS?
É muito bom porque é uma marca de qualidade e referência, de um nicho, mas nunca imaginei que aconteceria!

A indústria automóvel está em permanente desenvolvimento. A indústria da moda também. Como será em 2030?

A questão da tecnologia nos materiais estará muito mais desenvolvida. Como as fibras que se transformam em tecido. Em termos de design, como se costuma dizer, já foi tudo inventado e agora é reinterpretado!

Quem é que quer vestir e ainda não vestiu?
Internacionalmente, a Jennifer Lawrence. Nacionalmente, a Catarina Furtado.

O que é que falta na moda em Portugal?
Clientes e apoios – o Estado devia olhar mais para a moda e para a cultura no geral – porque temos design tão bom quanto o internacional!

Qual é o seu maior sonho?
Já tenho a minha marca, sou bem-sucedido, trabalho com pessoas incríveis… Crescer e a internacionalização são dois grandes sonhos.