Em junho, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) anunciou que ia rever os valores das tarifas de acesso às redes, uma das componentes cobradas na fatura da eletricidade que é paga por todos os clientes, quer estejam no mercado livre, quer no regulado, justificando que a ideia é adequar a tarifa de energia e as tarifas de acesso às redes às atuais condições de mercado, de forma a assegurar a estabilidade tarifária.
No entanto, a entidade reguladora explica que para os consumidores domésticos que permaneçam no mercado regulado (969 mil clientes que representavam 6,7% do consumo total em abril) ou que, estando no mercado livre – mas que tenham optado por tarifa equiparada – terão acesso a uma redução da tarifa de energia em baixa tensão, o que permite compensar o acréscimo das tarifas de acesso às redes e, por esse motivo, as tarifas de venda a estes clientes não sofrem qualquer alteração.
Desta forma, a fatura média mensal em julho continuará a ser de 36,62 euros para o típico casal sem filhos (com uma potência de 3,45 kVA e um consumo de 1.900 kWh por ano). Para um casal com dois filhos – potência 6,9 kVA, consumo 5.000 kWh por ano –, a fatura deverá ser de 92,43 euros.
Já para os clientes que estão no mercado livre, os comercializadores poderão ajustar o preço das suas ofertas. Ainda assim, o regulador recomenda que os consumidores “estejam atentos às diversas ofertas disponíveis no mercado” e que recorram ao simulador da ERSE para as comparar, seja no mercado regulado ou no liberalizado. E acrescenta: “Se encontrarem uma melhor oferta de mercado devem mudar de comercializador”, sublinha a ERSE, recordando que o processo de mudança de comercializador de eletricidade “é simples e gratuito”, não havendo qualquer número máximo de mudanças estabelecido (ver coluna ao lado).
Mas apesar de os preços da energia terem vindo a oscilar há pequenos gestos que, no seu dia-a-dia, poderá adotar ou alterar para ver a sua fatura de luz reduzir-se consideravelmente (ver coluna ao lado).
Uma das regras base passa por analisar a potência contratada, uma vez que esta tem de estar adequada ao consumo de energia em casa. Mas para isso tenha em conta que os atuais eletrodomésticos, sobretudo os de categoria energética A, são mais eficientes, e há também lâmpadas mais eficientes (como as LED) que, apesar de serem mais caras, consomem seis vezes menos energia e duram oito vezes mais.
Também ao desligar os aparelhos elétricos, em vez de os deixar em standby, e os carregadores de telemóvel, por exemplo, que por vezes ficam esquecidos nas fichas, o nível de poupança aumenta.
Deve ter ainda em consideração o número de pessoas na habitação e analisar muito bem qual a tarifa que melhor se adequa ao seu caso. A tarifa bi-horária apresenta preços diferentes por kWh consoante a utilização em horas de vazio ou horas cheias, sendo o valor mais baixo nos períodos noturnos ou ao fim de semana (horas vazias) e mais elevado nas restantes horas. Pode parecer tentador, mas é importante que tenha em consideração que, se escolher a tarifa bi-horária, o encargo para a mesma potência durante as horas cheias será, por regra, ligeiramente superior ao da tarifa simples. Significa isto que sempre que estiver a utilizar a luz fora das horas vazias, o preço a pagar será mais elevado. No entanto, os ganhos obtidos se fizer grande parte dos consumos nas horas vazias podem trazer uma poupança significativa.
cuidados a ter Apesar de defender que é fundamental comparar a oferta dos vários comercializadores de luz que atuam no mercado livre e escolher o preço mais baixo, a ERSE também alerta para atenções redobradas a ter noutras frentes (ver perguntas ao lado).
O regulador do mercado tem vindo a lançar alertas sobre as más práticas comerciais existentes e dá sugestões aos consumidores de como estas podem ser evitadas. “Alguém o aborda dizendo que tem uma oferta de energia para lhe apresentar e pede-lhe que assine um documento que apenas comprove que esteve presente em sua casa. O que deve fazer: nunca assine um documento sem o ler. Exija sempre e guarde cópia do que assina. Se tiver dúvidas depois de ler, recuse assinar”, diz a ERSE, lembrando ainda que, nas vendas à distância, se assinar e se arrepender, tem 14 dias para resolver o contrato.
Os alertas não ficam por aqui. “Se alguém o aborda dizendo que tem de mudar de fornecedor para não ficar sem gás ou eletricidade, não acredite nesta história. Os consumidores só devem mudar de fornecedor se quiserem e quando estiverem convenientemente informados do novo contrato”, avisa o regulador.
Estes são muitos dos problemas que podem surgir, com o regulador a afirmar que estes alertas de más práticas “são focados em aspetos específicos que resultam da análise sistemática que se faz às reclamações que a ERSE recebe e procuram estar numa linguagem simples e acessível. Cada alerta identifica uma má prática que é seguida e sugere como o consumidor pode evitá-la, sendo divulgada sempre que identificada e considerada relevante para a informação aos consumidores”.
E o gás?
No caso do mercado regulado – onde estão presentes 431 mil, o que representa cerca de 4,1% do consumo nacional – os preços subiram no início deste mês 1,3% com a entidade regulador a justificar a subida com o “aumento das tarifas de acesso às redes no ano gás 2023-2024, devido à diminuição da procura que resulta num incremento dos custos das infraestruturas por unidade de energia entregue”.
E, de acordo com a simulação apresentada pela ERSE, um casal sem filhos que esteja no primeiro escalão de consumo pagará 13,69 euros, o que corresponde a um aumento de 15 cêntimos face à fatura de setembro, enquanto um casal com dois filhos no segundo escalão de consumo pagará 25,78 euros, refletindo um agravamento de 10 cêntimos.
No entanto, aponta para um desconto de 31,2% sobre as tarifas transitórias para os consumidores com tarifa social.
Por seu lado, a Galp aumentou os preços do gás natural em média em 4%, mantendo inalterado o preço da eletricidade até ao final do ano. “Para o cliente tipo mais comum na carteira de clientes da Galp, correspondente a uma família com dois filhos, a atualização na faturação de gás natural face à tabela atual traduz-se num aumento médio de 70 cêntimos por mês, no primeiro escalão de gás natural, com um consumo médio mensal de 134 kWh (quilowatt-hora)”, salienta.
Já a a EDP anunciou em 8 de setembro que iria descer o preço do gás natural. “Perante alguma melhoria sentida nos mercados internacionais de energia para a aquisição de gás natural, a EDP Comercial tem condições para reduzir a componente de energia da fatura dos clientes residenciais, em média, em 26%, a partir de 1 de outubro”, indicou a empresa.
Truques para poupar na conta
Dicas
• Uma das regras básicas passa por desligar todas as luzes que se encontram acesas desnecessariamente
• Opte por lâmpadas economizadoras
• Desligue carregadores da tomada e não deixe aparelhos em standby
• Compre eletrodomésticos da classe A
• Use carregadores solares e prefira computadores portáteis, que consomem menos
• Evite a acumulação de gelo no congelador porque isso aumenta o consumo energético
• Deve pintar as paredes e os tetos de cores claras para que reflitam melhor a luz, reduzindo a necessidade de iluminação artificial. Evite abajures muito opacos, já que obrigam à utilização desnecessária de lâmpadas mais potentes, e instale sensores de movimento nos locais de passagem
Melhorar isolamento
• Não se esqueça de instalar um bom isolamento nas paredes, chão e tetos, e utilize vidros duplos, reduzindo as necessidades de climatização.
Conheça os passos para mudar de fornecedor
Como mudar de fornecedor?
Pode consultar a lista de fornecedores que está disponível no site da ERSE. Depois é só comparar as propostas recebidas com a do seu fornecedor atual para saber quais as vantagens
e, acima de tudo, analisar os preços cobrados.
O que devo ter em conta?
A comparação de preços,
a periodicidade de faturação
e as condições de pagamento
são os principais critérios. Deve também analisar as condições
dos contratos, a sua duração mínima
e as condições de denúncia.
Quais os cuidados a ter na comparação das propostas?
Deve ter em conta que os valores
em análise são comparáveis e, sempre que possível, use os consumos históricos para simular os valores
a faturar em cada proposta. Não se esqueça de analisar as condições contratuais de fornecimento. Para isso, poderá recorrer à Deco e à ERSE, que dispõem de simuladores de preços.
É necessário substituir o contador?
Não, o contador é propriedade do distribuidor, e não do comercializador. Só haverá substituição do contador
no caso de existir alteração
de consumidor.
Quais os motivos que impedem
a mudança de fornecedor?
A identificação insuficiente ou inválida da instalação, a sobreposição de pedidos, potência (eletricidade) indicada não normalizada ou superior
à requisitada, dados do cliente não coincidentes com os registados e a existência de processos de fraude podem impedir esta mudança.
Quanto tempo demora a mudança?
Geralmente, o processo não demora mais do que 15 dias úteis. Mas, em alguns casos, pode prolongar-se para além deste período quando existe
a necessidade de uma intervenção
no local de consumo.
Quanto custa a mudança?
Este processo não tem qualquer tipo de custos para o consumidor.
Qual a entidade responsável pela gestão dos processos de mudança?
A entidade responsável é o operador logístico de mudança de comercializador, que irá acumular
esta função nos setores da eletricidade e do gás natural.