Depois do meu último artigo, em que abordei o apagamento do 25 de Novembro das comemorações do 25 de Abril, o presidente da Assembleia da República recorreu ao direito de resposta para esclarecer que a decisão foi tomada por unanimidade, em conferência de líderes. Resta-me pedir-lhe desculpa neste mesmo espaço de opinião.
Tenho estima por Augusto Santos Silva, e consideração institucional pela Assembleia da República e pelo seu presidente. É importante assumir os erros, particularmente no espaço mediático, mesmo quando são inadvertidos. É isso que aqui deixo registado.
Ainda assim, este erro tem atenuantes que suscitam alguma perplexidade. Escrevi e enviei o artigo para este jornal no dia 9 de outubro. Poucos dias antes, Carlos Moedas anunciou, no seu discurso no 5 de Outubro, que o município de Lisboa iria celebrar condignamente o 25/11, aproveitando o vazio deixado pelo programa oficial das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Como referi no meu texto, e mantenho, há uma indesmentível diferença entre o que fora anunciado três dias antes por Santos Silva e aquilo que anteriormente fora invocado pelo Presidente da República e também pela Comissária Executiva das comemorações.
O que eu não sabia, quando escrevi o artigo, porque não fora tornado público, é que o anúncio feito por Santos Silva decorria de um consenso encontrado em reunião de líderes. Ou seja, por unanimidade dos representantes dos partidos com assento parlamentar.
Nem era de suspeitar que houvesse tal consenso. É que logo no dia 5 de outubro, e na sequência do anúncio de Moedas, o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, classificaria a iniciativa como muito importante, porque “não haveria democracia plena sem o 25 de Novembro”. André Ventura, por seu turno, anunciava que o seu partido iria tentar “tornar solene” a celebração da data no Parlamento, enquanto o líder da IL, Rui Rocha, saudava o executivo municipal de Lisboa e criticava a Comissão Organizadora das comemorações por “reescrever a história” e prestar um mau serviço à democracia, ao “afastar” o 25/11.
Pelos vistos, não era só eu que desconhecia a forma como a decisão, anunciada pelo presidente da Assembleia da República, fora tomada. E isso só ficou claro dois dias depois de ter escrito o artigo, quando, no Parlamento, Santos Silva respondeu às duras críticas do líder da IL (que o acusara de “cobardia política” e de “hipocrisia” por decidir que o 25 de Novembro não seria assinalado nas comemorações do 25 de Abril), revelando então que a decisão fora sustentada num consenso entre as diferentes bancadas parlamentares. Mais: Santos Silva expressou, inclusive, o desejo de que o PS comemore o 25 de Novembro, mesmo que a data não seja assinalada no Parlamento.
Ficámos com três boas notícias: Lisboa vai comemorar o 25 de Novembro, como tem sido feito por outros municípios. O PS irá seguir esse caminho, e há muitas vozes do partido, como Ana Gomes, a exigirem que a promessa seja cumprida. A extrema-esquerda fica incomodada, o que é um sinal da importância da comemoração da data em que perdeu as suas prerrogativas revolucionárias.
Fico com a dúvida: como é que o PS, o PSD, a IL e o Chega acordaram uma coisa em conferência de líderes e depois defenderam publicamente o seu contrário? Como sou ingénuo, acredito que seja tudo por mera distração