Guerra no Médio Oriente. 600 dias da invasão russa à Ucrânia. Ataque em Bruxelas. França em alerta devido a ameaças de bomba. Pobreza aumenta em Portugal. Mau tempo, tão mau que é só mais uma forma de depressão num país, Europa e mundo cinzentos. Com os dias a correrem entre imagens de guerra repetidas até à exaustão, na última semana só a goleada de Portugal serviu de intervalo para uma realidade que se revela cada vez mais doentia, assustadora e incompreensível.
A utopia de um mundo melhor pós-pandemia não se desmoronou, apenas provou ser isso mesmo: uma mera fantasia, sem fundamento. Disso já sabíamos, mas ainda havia pior. E de mal a pior tem continuado sem travão nem sinais de abrandamento.
Num mundo normal, uma distração pode ser suficiente para tropeçar. Mesmo olhando em frente pode não ser evitada uma cabeçada na parede. Mas bater no fundo não permite mais passar dali.
Que o absurdo não se transforme em normalidade. As guerras do passado já são presente sem futuro para muitos. E pode discutir-se quase tudo. Mas discutir o valor da vida de uma criança sobre outra é bater num fundo demasiado fundo para encontrar esperança no mundo de hoje, onde a perda de propósito vai permitindo a contraditória ordem do caos.
E talvez lá no fundo ou nalgum fim do mundo há de andar a esperança, que mantém viva a ideia de que não é imortal mas a última a morrer.