A vacina israelita

A guerra entre árabes e judeus é irresolúvel, porque não se funda em temas objectivos mas em questões religiosas, em dogmas, que por definição são inegociáveis.

Quando rebentou a crise na Grécia, há oito anos – que ia atirando o país para fora da União Europeia –, escrevi que isso podia constituir uma vacina para a Europa.                  
Usei mesmo a expressão ‘vacina grega’, que depois foi adotada por muita gente.
E ela funcionou, de facto – logo à partida, para Portugal.                              

Os líderes da esquerda europeia perceberam os riscos que existem em extremar as posições políticas – e a experiência levada a cabo pela dupla Tsipras-Varoufakis (apoiada, recorde-se, pelo inefável Francisco Louçã) não teve réplicas noutros países.

Ora, perante os recentes acontecimentos em Israel, talvez possamos falar de uma ‘vacina israelita’.

Não para culparmos os israelitas por qualquer loucura política, mas para vermos a força dos extremismos religiosos e o perigo que a diferença de culturas pode representar.

O marxismo, querendo positivar tudo, defendeu que a origem das guerras estava nas questões económicas, nos interesses de classe, em suma, em problemas de ordem material, mensuráveis.

Mas estava enganado.

A maioria das guerras tem origem em diferenças religiosas.

Basta olhar para a História.

A atual guerra entre os árabes e os judeus assume formas de extrema violência, e é irresolúvel, porque não se funda em temas objetivos, que possam ser resolvidos à mesa das negociações: funda-se em questões religiosas, em dogmas, que por definição são inegociáveis.

Os muçulmanos nunca se integrarão em sociedades multiculturais, por mais esforços que se façam nesse sentido.                    

Naquela região ou noutras, constituirão sempre comunidades à parte, guetos, e jamais abandonarão as suas crenças e os seus fantasmas.

E não se diga, como alguns continuam a dizer, que o radicalismo e as ações terroristas têm origem na pobreza.

Então o Baader-Meinhof, que fez tremer a Alemanha nos anos 70 e 80, era formado por gente pobre? E o IRA, da Irlanda? E a ETA, em Espanha? E as nossas FP-25, apadrinhadas por Otelo? Era tudo gente pobre, miserável, desesperada?

Por mais reprimida que seja, permanece nos muçulmanos a vontade de acabar com os ‘infiéis’ – e é isso que alimenta o terrorismo.

O espírito de cruzada mantém-se – só que as cruzadas são hoje ao contrário.

Os ‘infiéis’ já não são eles – somos nós.

Enquanto a religião católica se moderou, se tornou pacífica, o islamismo manteve um grau de radicalismo extremo.

Recorde-se o 11 de Setembro em Nova Iorque, que fez três mil mortos; os ataques em Paris em 2015, contra o Charlie Hebdo e depois contra o Bataclan, com mais de 150 vítimas; os atentados em Londres, como o da London Bridge; as bombas em Madrid, em Atocha, que mataram 200 pessoas; veja-se mesmo, em Portugal, o assassínio de Issam Sartawi, em 1983.

Um dia o algoz chama-se Al Quaeda, noutro dia Boko Haran, depois Estado Islâmico, Hezbollah ou Hamas – os nomes vão mudando mas a origem é sempre a mesma: o ódio religioso, a eterna guerra dos muçulmanos contra os que não professam a mesma fé.

Assim sendo, o Ocidente não pode continuar a olhar para as migrações com a displicência com que o tem feito.                                                                 

Há muito tempo que chamo a atenção para isto – e não o faço por racismo, que considero odioso, mas pela observação dos factos.

Ora, depois do massacre do Hamas em Israel, já ouço comentadores a falar do problema da imigração, embora ainda a medo.

Já os ouço dizer o que até há semanas era impensável: que é preciso vigiar e controlar a imigração.

Que uma política de portas escancaradas é perigosa.

A ‘vacina israelita’ começa, pois, a funcionar.

Golda Meyr pronunciou uma frase feliz: “No dia em que os palestinianos baixarem as armas, a guerra acaba; no dia em que os israelitas baixarem as armas, Israel acaba”.

Só que Israel não é só Israel, como a Ucrânia não é só a Ucrânia: é uma guarda avançada do Ocidente. Se Israel cair, o Ocidente fica muito mais vulnerável. Tal como acontecerá se a Ucrânia cair.

O Ocidente começa a perceber a ameaça que paira sobre ele.

O problema é que a vacina já chega provavelmente tarde.

Os muçulmanos ocupam largas zonas nas grandes cidades europeias, que são verdadeiras bombas-relógio – e que, em caso de guerra aberta entre o Ocidente e o Islão, poderão provocar terríveis estragos.

Repito: a História da humanidade não se faz só de razões objetivas; está cheia de elementos subjetivos.

A guerra dos muçulmanos contra o Ocidente não tem nada de objetivo: funda-se apenas no fanatismo religioso.

E por isso mesmo é mais perigosa, implacável, impiedosa.