Estudou Comunicação Social e Cultural na Universidade Católica Portuguesa e fez o primeiro estágio na SIC Notícias. Atualmente na CNN, em Londres, à qual chama casa há 9 anos, Vasco Cotovio, de 35 anos, continua a pensar no “nosso pequeno Portugal” e a ter como referência no jornalismo Cândida Pinto.
O interesse pelo jornalismo surgiu no 9.º ano. Na altura, leu um livro que era uma coletânea de alguns trabalhos de jornalistas portugueses durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais e achou que “era muito importante e incrivelmente corajoso”. Começou “a ganhar o bichinho” e compreendeu “que os jornalistas fazem a diferença”.
Depois do estágio, juntou dinheiro e foi fazer o mestrado para Londres. Estudou Relações Internacionais. Quando acabou o mestrado – a dissertação foi sobre embedding no contexto da guerra do Iraque –, estavam à procura de uma pessoa outra vez e acabou por voltar à SIC Notícias até entrar na CNN. A CNN tem um programa de estágios remunerados que funcionam de x em x meses, o formato tem vindo a variar, e Vasco já se tinha candidatado mas nunca tinha ficado. “Candidatei-me ao desporto: não era bem aquilo que me interessava, mas na minha cabeça era uma porta de entrada”, relembra.
“Em setembro, fez 9 anos que comecei! A adaptação foi boa porque há bastantes portugueses na CNN. Aquilo que me custou foi ouvir falar inglês constantemente e até acho que o meu inglês é bastante bom porque sempre o falei!”, explica, lembrando que, no primeiro dia, o chefe falou com ele e não percebeu uma única palavra do que ele disse. “Viver em Londres é diferente: apanhar o metro todos os dias de manhã a horas certas, preparar refeições, etc. Também me habituei a ir beber um copo para o pub depois do trabalho: é uma oportunidade de networking”.
Antes do estágio em desporto acabar, pediu ao chefe para ir conhecer outros departamentos onde poderia eventualmente começar a trabalhar enquanto freelancer.
Trabalho e Reconhecimento
Apesar de já ter explorado os mais variados temas ao longo do seu percurso profissional, considera que a América Latina tem sido o território que lhe tem dado mais histórias para contar.
“Os highlights da minha carreira, até agora, foram os vários trabalhos que fiz na Venezuela. Foi um país ao qual nunca tinha prestado muita atenção, mas por causa da crise política e depois humanitária que se começou a viver lá prestei mais atenção e acabei por ser um dos primeiros da CNN a fazer a cobertura de tudo o que se passava. E, juntamente com a Isa Soares, outra colega portuguesa, estive vários meses a montar uma investigação sobre as minas de ouro que há no país e como esse ouro é utilizado pelo regime para manter Nicolás Maduro no poder e como isso acontece através do contrabando para o Médio Oriente e uma série de países que abordámos em detalhe”, adianta. “E essa investigação acabou por ser reconhecida com duas nomeações e uma vitória nos prémios Emmy que foi o reconhecer do nosso trabalho e do nosso esforço para levar esta história para a frente”. Meses mais tarde, a União Europeia acabou por designar o ouro da Venezuela como ouro de sangue que era, precisamente, o título do trabalho de Vasco e Isa.
“Por outro lado, tenho tido bastante orgulho de estar envolvido na cobertura da guerra na Ucrânia. Também já recebemos prémios pela cobertura que temos feito do conflito”, sublinha.
Conselhos e futuro
E, em retrospetiva, olhando para o Vasco no início da carreira, que conselhos dá àqueles que começam agora a traçar o seu caminho? E que sonhos ainda deseja concretizar?
“Aos jovens jornalistas, aconselho-os a saberem línguas – cria-se logo afinidade, as pessoas abrem-se logo muito mais -, pois eu próprio continuo a fazê-lo. Por exemplo, estou a aprender russo desde o início da guerra e adapto palavras para ucraniano. E, depois, não ficar pelo que se aprende na faculdade. Se voltasse atrás, tentaria ter começado logo a trabalhar com um jornal local, exemplificando. Quanto aos meus sonhos, vejo-me a dar aulas quando regressar a Portugal, parece-me um projeto interessante porque muitos dos professores com que nos cruzamos na faculdade trabalharam apenas em território nacional. Escrever um livro… Talvez numa fase mais tardia. E, claro, fazer documentário!”, conclui.