Um método explosivo

Os monumentos do Antigo Egipto conheceram o zelo de Richard Vyse. Com algum engenho e um pouco de dinamite, este oficial britânico fez uma descoberta importante no coração da Grande Pirâmide.

O coronel Richard Vyse era um homem determinado. Se os monumentos do Antigo Egipto teimavam em não lhe revelar os seus segredos, ele ia ter de descobri-los à força, que nem um arrombador de cofres. E, como oficial do exército que era, ia recorrer ao método que melhor conhecia: explosivos. «Vyse, apesar da sua evidente admiração pelos monumentos, não tinha pejo em desmantelar partes das pirâmides, usando brocas de perfuração em busca de câmaras escondidas e abrindo caminho através dos obstáculos com dinamite», escreve o americano Mark Lehner, estudioso das pirâmides e uma espécie de Indiana Jones da vida real, no livro The Complete Pyramids. Foi, por assim dizer, à bomba que Vyse forçou a entrada na pirâmide de Khafre (ou Quéfren, em grego) e mais tarde na de Menkaure (ou Miquerinos), «pedindo aos seus trabalhadores que viessem para cima de cada vez que tinha lugar uma nova explosão», continua Lehner. A esfinge também não escapou ao seu zelo. Em busca de uma câmara secreta, Vyse voltou a recorrer a brocas e a explosivos. De nada serviu – a esfinge continuou a negar-lhe o seu enigma, se bem que tenha pago por isso: a parte de trás da cabeça do gigante de pedra ficou, digamos assim, um tanto amassada… Mas no coração da grande pirâmide de Khufu (Quéops) o método da dinamite deu resultados. Em 1837 Vyse e os seus homens descobriram uma das particularidades desta maravilha arquitetónica: um conjunto de cinco pequenos compartimentos sobrepostos, para aliviar e distribuir a pressão da massa de pedra sobre a câmara funerária do faraó. Vyse não foi o primeiro nem o último a ficar obcecado com os monumentos do Antigo Egipto. O livro de Lehner fala-nos também, entre outros, do brilhante e peculiar William Matthew Flinders Petrie (1853-1942), natural de Charlton, Londres, que viria a morrer aos 89 anos em Jerusalém. «Ainda não tinha seis anos quando aprendeu o alfabeto hieroglífico e, encorajado pelo pai, mais tarde combinou os interesses pela matemática e medições e pela arqueologia», explica o autor. Petrie chegou ao Egipto em 1880 decidido a fazer um levantamento rigoroso das pirâmides de Giza (ou Gizé) e da sua posição relativa, o que concretizou com um complexo cálculo de triangulações. Nos dois invernos em que duraram os trabalhos, ficou instalado num túmulo escavado na rocha – ou melhor, três túmulos que, derrubadas as paredes, formavam um único quarto. «Petrie conseguiu forjar uma coexistência confortável com os cães que viviam na zona, controlava os ratos e ratazanas com armadilhas, e lidava com o calor e com os turistas trabalhando em roupa interior», continua Lehner. E não era uma roupa interior qualquer. «Se for cor-de-rosa, mantém os turistas à distância», dizia Petrie. Quem diria que até no meio do deserto um pouco de nonsense britânico poderia dar jeito? * Biblioteca Pessoal estará ausente nas próximas duas semanas