Estava Hitler a escrever as suas memórias nas profundezas do inferno quando aparece Himmler a correr. Os seus olhos porcinos brilhavam.
– Mein Führer, boas notícias. Israel foi atacada e mataram uma data de judeus.
Hitler levanta a cabeça e olha-o desconfiado.
– Israel atacada, judeus mortos… as SS ainda estão ativas?
– Não foram as SS, foi o Hamas. São árabes, mas pensam como nós.
– Sim, faz sentido. Na altura, havia dirigentes árabes que simpatizavam com a nossa causa. O Mufti de Jerusalém era um tipo porreiro.
Himmler sorri.
– E agora há muitos mais a gritar morte aos judeus e a apoiar a destruição de Israel. Dizem que há entre quinze a vinte e cinco por cento de extremistas entre eles, logo poderão ser trezentos milhões.
– Que maravilha – diz Hitler. Se os tivéssemos do nosso lado, teríamos ganho a guerra.
Goebbels entra na conversa.
– Mas também há coisas estranhas. As manifestações contra Israel na Europa estão a ser organizadas pela extrema-esquerda. Aqueles comunistas todos que andam sempre a protestar contra alguma coisa e precisam desesperadamente de um inimigo.
– Os comunistas são novamente nossos aliados? – pergunta Hitler.
– Na verdade, eles aproveitam-se de tudo para atacar o capitalismo e os americanos. E como dominam a comunicação social e as universidades, têm doutrinado milhões de jovens europeus. É praticamente impossível encontrar um sociólogo ou jornalista que não seja contra o capitalismo ou contra Israel. Propaganda, Mein Führer.
– Então, o sistema capitalista está em perigo? – pergunta Hitler.
– Pelo contrário, nunca houve tantos consumistas, a começar por eles próprios – diz Goebbels.
– A democracia é mesmo uma aberração. Se os nossos amigos disserem alguma coisa contra os judeus, são presos; se forem os outros, está tudo bem. E também há Kristallnacht más e boas. Onde é que isto vai parar? – pergunta Hitler.
– Mein Führer, veja a coisa pelo lado positivo – diz Goebbels. Nós já não temos ninguém nas universidades e nos jornais para atacar os judeus, mas os que lá estão fazem esse trabalho por nós. E digo-lhe mais, são muito sofisticados: falam de paz, de tolerância e fraternidade enquanto legitimam o ódio e terrorismo.
– Eu preferia aqueles teus filmes com judeus e ratazanas – diz Hitler.
– Vai dar ao mesmo. Porque o objectivo é desumanizá-los e transformá-los em monstros.
– Deixa-me lá ver se eu entendi isto – diz Hitler. Nas democracias europeias, os jovens universitários estão a defender as nossas ideias de lutar contra os judeus e o capitalismo.
– A juventude hitleriana não faria melhor – diz Himmler.
– Bem, parece-me que há esperança. A Eva tinha razão, deveríamos ter tido alguns filhos.