Nova ferramenta de diagnóstico poderá reconhecer estágios iniciais de Alzheimer

O estudo foi financiado por doações do Conselho Sueco de Pesquisa, da Fundação Sueca de Alzheimer e do Fundo Sueco para o Cérebro e por meio de doações privadas. 

Investigadores do Instituto Karolinska, na Suécia, identificaram um aumento metabólico no hipocampo como uma fase inicial no desenvolvimento da doença de Alzheimer, de acordo com um estudo publicado na revista Molecular Psychiatry. Esta descoberta abre caminho para potenciais novos métodos de intervenção precoce. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência e atinge cerca de 20 mil pessoas na Suécia todos os anos.

Naquilo que diz respeito a Portugal, aproximadamente 200 mil pessoas sofrem desta patologia. Com o aumento da expectativa de vida e a população a envelher, o risco de doenças relacionadas à idade, como a demência, está a crescer significativamente. Estima-se que o número de pessoas com demência em todo o mundo aumentará de 57,4 milhões em 2010 para 152,9 milhões em 2050, sendo as pessoas com mais de 65 anos as mais vulneráveis. Em Portugal, essa tendência também é evidente, com a previsão de que o número de casos de demência mais que dobre nas próximas décadas, chegando a 347 mil casos em 2050. O envelhecimento da população é um desafio global que requer atenção e estratégias de saúde pública para lidar com o aumento associado de condições relacionadas com a idade.

Há cinco anos, a demência foi responsável por 6.275 mortes em Portugal Continental, das quais 1.629 foram atribuídas à doença de Alzheimer. Esses dados foram obtidos a partir dos Certificados de Óbito na Plataforma da Mortalidade da Direção-Geral da Saúde. Um estudo realizado pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, em colaboração com a Biogen, uma empresa de biotecnologia, revelou que a Alzheimer representa aproximadamente 7% do total de anos de vida perdidos por morte prematura em Portugal. Esse impacto é mais pronunciado nas mulheres, atingindo 7,6%, em comparação com os homens, que registam 6,4%.

Não há estimativas representativas a nível nacional para a prevalência da doença em Portugal, mas o estudo sugere que as mulheres entre 65 e 80 anos são mais afetadas, com 13,61% dos casos de Alzheimer no universo da demência. Para os homens, as percentagens variam de 1,76% a 12,75%, aumentando com a idade.

Além disso, a Alzheimer foi responsável por 45.754 anos perdidos por incapacidade, representando mais de dois terços dos gerados pela aterosclerose. As mulheres também lideram nesse aspecto, perdendo 60% desses anos.

Os investigadores estimam que cerca de 36.789 pessoas em Portugal vivem com demência leve, 59.245 com demência moderada e 47.300 com demência grave, totalizando aproximadamente 143.334 doentes. Assim, em Portugal, existem cerca de 194 mil pessoas com diferentes formas de demência, das quais 60% a 80% são casos de doença de Alzheimer, totalizando cerca de 145 mil casos.

Os custos associados à Alzheimer em Portugal são significativos, totalizando cerca de 2 mil milhões de euros anualmente. A maior parte desses custos, 1,1 milhões de euros, refere-se a despesas diretas não médicas, como cuidadores informais. Os custos sociais, incluindo apoios sociais, somam cerca de 551 milhões de euros, representando uma despesa média anual de cerca de 3.800 euros por doente.

Os custos médicos, que constituem 11% do total, estão relacionados com internamentos, tratamentos ambulatórios, diagnóstico, seguimento, reabilitação e tratamento farmacológico, totalizando cerca de 166 milhões de euros, com um custo médio anual por doente de cerca de 1.700 euros.

A descoberta Os investigadores mostram agora que um aumento metabólico nas mitocôndrias, as centrais elétricas celulares, é um indicador precoce da doença. As equipas por trás do estudo usaram ratos que desenvolveram a patologia da doença de Alzheimer de maneira semelhante aos humanos. O aumento do metabolismo em ratos jovens foi seguido por alterações sinápticas causadas pela perturbação do sistema de reciclagem celular (um processo conhecido como autofagia), uma descoberta que lhes valeu o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2016. Depois de um tempo, o metabolismo no cérebro da pessoa com Alzheimer geralmente diminui, o que contribui para a degradação das sinapses. Os investigadores também puderam observar isso nos camundongos mais velhos, que tinham a doença há mais tempo.

“A doença começa a desenvolver-se 20 anos antes do início dos sintomas, por isso é importante detectá-la precocemente – especialmente tendo em conta os medicamentos retardadores que começam a chegar”, diz Per Nilsson, professor associado do Departamento de Neurobiologia, Ciências do Cuidado e Sociedade do Instituto. “As alterações metabólicas podem ser um fator de diagnóstico”. Maria Ankarcrona, professora do mesmo departamento, continua: “Curiosamente, as mudanças no metabolismo podem ser observadas antes que qualquer uma das placas insolúveis características se acumule no cérebro. Os diferentes balanços energéticos coincidem com o que vimos nas imagens do cérebro com Alzheimer, mas agora detectámos estas alterações numa fase anterior”. O estudo foi realizado em estreita parceria entre os dois grupos de investigadores, que analisaram a parte do cérebro do rato chamada hipocampo, estrutura que desempenha um papel importante na memória de curto prazo e que é afetada no início do processo patológico.

Aplicando a técnica de sequenciamento de RNA para verificar que genes estão ativos nas células do hipocampo durante os diferentes estágios da doença, os investigadores descobriram que um dos estágios iniciais da doença é o aumento do metabolismo mitocondrial. Estudaram as mudanças que apareceram nas sinapses entre os neurónios do cérebro usando microscopia eletrónica e outras técnicas, e descobriram que os autofagossomos, por meio das quais as proteínas gastas são quebradas e os seus componentes metabolizados, se acumularam nas sinapses, interrompendo o acesso ao funcionamento das proteínas.

Os investigadores irão agora estudar mais detalhadamente o papel das mitocôndrias e da autofagia no desenvolvimento da doença de Alzheimer – por exemplo, em ratos cuja doença fornece um modelo ainda melhor do cérebro da doença de Alzheimer. “Essas descobertas destacam a importância de manter as mitocôndrias funcionais e o metabolismo normal das proteínas”, afirma Per Nilsson. “No futuro, poderemos fazer testes em ratos para ver se novas moléculas que estabilizam a função mitocondrial e autofágica podem retardar a doença”.

O estudo foi financiado por doações do Conselho Sueco de Pesquisa, da Fundação Sueca de Alzheimer e do Fundo Sueco para o Cérebro e por meio de doações privadas.