Eis o panorama político nacional revolucionado. À hora a que escrevo, o Presidente da República ainda não falou. Mas vamos admitir a decisão mais provável, a da dissolução da AR.
Deixemos de lado a ala esquerda do regime e passemos à ala direita. Esqueçamos o CDS, cuja única possibilidade de sobrevivência política é chegar à meta às costas do PSD. E também a IL, a quem as sondagens colocam hoje como quinto partido, atrás do BE e que, as mesmas sondagens unanimemente o dizem, não elegerá os deputados suficientes para fazer, com o PSD, uma maioria no Parlamento.
Centrais são, assim, na ala direita do regime, o PSD e o Chega. É da relação – ou da falta dela – entre estes dois partidos que dependerá uma renovação desse regime.
Primeiro apontamento: A ala direita do PSD apostava no regresso de Passos Coelho após a previsível derrota do seu partido nas europeias. A súbita aceleração do tempo político deitou por terra qualquer hipótese desse regresso. Para a mal e para o bem, é Montenegro quem vai a eleições legislativas, não PPC. A Direita do PSD ficou órfã. E isso vai ter consequências. A curto prazo. E que se irão refletir nos resultados eleitorais, contra o PSD e a favor do Chega.
E, aqui chegados, cabe voltar ao «não é não» do dr. Montenegro e dizer claramente: O Chega está longe de pretender governar a todo o custo. Ao Chega só interessa governar para mudar o país e isso exige reformas estruturais. A começar pela difícil, mas indispensável reforma da máquina do Estado. E só valerá a pena entrar numa coligação com o PSD com esse objetivo. Daí o não serem aceites meros acordos de incidência parlamentar. Ou a recusa em ficar acantonados e cúmplices no Parlamento «para não dar o poder ao PS». Não contem com isso. A ser assim, faremos sozinhos o nosso caminho, e lá chegaremos. Há tempo a dar ao tempo. E na campanha isso ficará bem claro para todos os eleitores de Direita.
Segundo apontamento: Conta o dr. Montenegro capitalizar, com este «não é não», o mítico e hoje lendário voto útil. O que prova não ter o líder do PSD entendido que o mundo, a Europa e Portugal mudaram radicalmente. Os tradicionais partidos de centro-direita, viciados em fazer campanha à Direita para depois, ganhando, governar à Esquerda, estão a acabar. Os eleitores de Direita acordaram, aqui e em todo o lado. Perceberam a inutilidade do voto útil e será esta a principal razão do crescimento dos partidos de Direita por todo o Ocidente. Rui Rio e Feijóo em Espanha foram por aí. Os resultados de um e de outro falam por si. E se for às sondagens e resultados eleitorais dos últimos meses pela Europa fora, o dr. Montenegro entenderá.
Mas quem é responsável pelo PSD é o dr. Montenegro, não o Chega. Este estará sempre aberto a falar com todos os partidos à Direita. Se esses não quiserem falar com o Chega, assumirão as responsabilidades. O Chega não cederá a chantagens.
Apontamento final, com palavras de José Miguel Júdice ao Observador no rescaldo da derrota de Rio nas últimas legislativas: «A missão histórica do PSD está acabada. Qualquer líder que venha a ser eleito terá pela frente uma luta inglória». O JM Júdice é, e sempre foi, particularmente lúcido e perspicaz exceto quando entende que o não quer, ou não deve ser. O caminho seguido por Montenegro parece confirmar aquele epitáfio. Veremos o que sucede.
Deputado do Chega