Em agosto de 2019, iniciei uma colaboração regular de base quinzenal com o semanário SOL, agora Nascer do SOL.
Decidi, nessa altura e quando terminou o meu segundo mandato no PE, abandonar toda a intervenção no Partido Socialista, embora me mantenha como militante.
Contudo o afastamento voluntário da vida partidária não me isentou do dever de cidadania e foi esta a única razão pela qual aceitei, pro bono, o convite que me foi feito.
Sempre afirmei, às vezes de forma demasiado solitária, que discordava completamente da estratégia de ascensão ao poder que o líder perdedor do PS utilizou.
Em 2015, deviam ter sido proporcionadas à coligação que ganhou as eleições condições para governar em minoria.
O país tinha acabado de sair da ‘asfixia’ da troika através de uma ‘saída limpa’ um ano antes do previsto (mérito que é, no essencial, dos portugueses) e, por isso, com a confiança restaurada junto dos mercados financeiros, estavam criadas as condições para uma ansiada e necessária recuperação económica e social. Neste desígnio teriam que se envolver, numa forma ou noutra, os dois principais partidos do regime.
Se algo corresse mal e face à um governo de base minoritária, haveria sempre a possibilidade de corrigir o rumo. É assim que se fortalece a democracia, se respeitam os resultados eleitorais e se dignificam as instituições.
Mas a gula (ou “a ida ao pote” como diz o povo) foi mais forte e António Costa que não ganhou nem por poucochinho, construiu a sua ‘geringonça’.
Sempre abominei a deslealdade, mesmo se reduzida à área política, e sempre pensei que a solução encontrada foi imoral e acabaria por ser prejudicial para Portugal.
Infelizmente tinha razão pois desde 2015 o país tem vindo a perder lugares nos rankings europeus. Estes oito anos foram um período de estagnação económica e de ausência de reformas estruturais, que se traduziram na deterioração dos serviços públicos e no aumento constante da carga fiscal.
Em vez de tratar do país, o PS e o Governo preocuparam-se, doentiamente, com Passos Coelho e Cavaco Silva.
Foi assim natural que a minha colaboração no jornal fosse orientada para a denúncia desta situação pantanosa.
Desde o inicial ‘Fundo? Fica um pouco mais abaixo’ (15/8/2019) até ao mais recente ‘Fundo? Não há dúvidas, já lá estamos’ (05/09/23), com pequenas variações semânticas intermédias, foram 102 crónicas sobre o assunto.
Recentemente, por reestruturação do jornal, esta série de crónicas terminou, sendo substituída por uma colaboração mensal que está a ser desenvolvida, desde 26/9/23 em obediência ao lema ‘A crise dá à Costa’.
Perante a grave situação política agora evidenciada (e que só os distraídos não previam) é necessária uma pausa para pensar, uma colaboração entre os partidos do sistema, uma intervenção moderadora do Presidente da República e o reforço da competência política do eleitorado.
Sempre foi claro para mim que António Costa, ao contrário do que pensam muitos e (parece) que querem continuar a pensar outros tantos, foi um intérprete negativo nos últimos vinte anos da democracia portuguesa.
Os ‘casos e casinhos’ que o primeiro-ministro tantas vezes referiu, de forma displicente, são, realmente, de natureza sistémica e resultam de uma deplorável cultura de ‘jotada’ (predomínio das jotas partidárias) que António Costa transferiu para o Governo e para o aparelho de estado.
Para bem da democracia vai ser necessária uma enorme ‘vassourada’.
E tal ocorrerá seguramente.
O que tem de ser, tem muita força
Em vez de tratar do país, o PS e o Governo preocuparam-se, doentiamente, com Passos Coelho e Cavaco Silva.