Portugal é um país onde as desigualdades estão a crescer de uma forma muito rápida causando um aumento enorme da pobreza, o empobrecimento da classe média, e o enriquecimento crescente de uma minoria”. A garantia foi dada por Eugénio Rosa, acrescentando que “estas desigualdades são ainda agravadas pela degradação crescente do SNS e da escola pública que são dois instrumentos fundamentais no combate às desigualdades”.
O economista aponta ainda o dedo ao atual estado da economia portuguesa. “Apesar dos enormes (auto) elogios à politica das ‘contas certas’, o Governo do PS/Costa deixa um país com uma economia frágil a caminho da recessão (-0,2% no 3.º trimestre de 2023), com uma taxa de investimento, nomeadamente público, muito baixa e inferior à média da União Europeia, com uma administração pública degradada e sem meios, e incapaz de responder aos desafios que o país enfrenta; um país de baixos salários e de baixos custos de mão-de-obra muito inferiores à média dos países da União Europeia, Portugal um país baseado em atividades de baixa produtividade”, salienta.
Eugénio Rosa recorda ainda os dados do Eurostat e diz que, entre 2013 e 2022, o ganho médio em Portugal aumentou em “apenas 2731 euros, enquanto a média nos países da União Europeia foi de 4929 euros e nos países da Zona Euro de 5128 euros”. E acrescenta que, de acordo com os mesmos dados, “em 2022, o custo médio hora da mão-de-obra em Portugal representava apenas 52,8% da média dos países da União Europeia”, acenando, no entanto que, “havia muitos países em que essa percentagem era ainda inferior: Bélgica apenas 37%; Dinamarca 34,4%; Alemanha 40,8%, França: 39,5%; etc.”.
Um cenário que leva Eugénio Rosa a concluir que estes dados “mostram que o reduzido crescimento económico em Portugal continua a basear-se em atividades de baixa produtividade e de baixos salários”.
Investimento reduzido e produtividade baixa
Para o economista, a “profunda degradação da administração pública causada pela política de ‘contas certas’ e de redução frenética da dívida pública, e também pela incapacidade dos empresários cujas empresas estão, na sua maioria, descapitalizadas quer em capital quer em conhecimento, o investimento é reduzido e a produtividade é baixa”.
E dá, como exemplo, o que se verifica atualmente nos programas comunitários, lembrando que o Portugal 2020 deveria ter terminado em 2020, mas só encerrou em 2023. O mesmo cenário, de acordo com o mesmo repete-se com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), em que do total de 16.644 milhões, Portugal já recebeu 5.142 milhões e só foi pago aos beneficiários finais apenas 1.963milhões (11,8% do total e 38,2% do recebido pelo Governo).
Uma situação que, segundo Eugénio Rosa, levanta algumas dúvidas em termos de execução. “O que não for executado até 2026 o país perderá, o que dá bem uma ideia da incapacidade do Governo e dos empresários portugueses para desenvolver o país. Após oito anos de Governo, António Costa deixa um país com uma administração Pública profundamente degradada, incapaz de promover a utilização atempada e eficiente dos milhões de fundos comunitários, com taxas de investimento público e privado muito inferiores à média da União Europeia, com baixa produtividade e baixos salários e com grandes desigualdades em que os lucros imorais da banca são a face mais visível e caminhando para uma grave crise económica e social”.
Lucros da banca “são imorais”
De acordo com o economista, os lucros dos cinco maiores bancos que operam em Portugal e que apresentaram no terceiro trimestre “são imorais e inaceitáveis perante as dificuldades crescentes que enfrentam as famílias e as empresas e o país”.
E, embora tenha reconhecido que o crédito concedido por estes cinco grandes bancos não tenha aumentado entre 2022 e 2023 – em setembro de 2022 totalizava 20.4641 milhões e em setembro deste ano tenha se fixado em 20.3779,3 milhões (-0,4%) – diz que “os juros cobrados” pelas instituições financeiras “explodiram”, dando como exemplo, os da Caixa Geral de Depósitos que aumentaram em 100%, apesar de o crédito concedido ter diminuído 2,7%.
“Tomando com base os juros cobrados pela CGD, BCP e Novo Banco, que são aqueles que apresentaram a margem financeira desagregada em que é possível conhecer o montante de juros cobrados, conclui-se que estes três bancos cobraram, nos 9 primeiros meses de 2022, 3.712,2 milhões de juros aos seus clientes e, nos nove primeiros meses de 2023, já cobraram juros no montante de 71.34,4 milhões (+92,2%)”, enquanto “a margem financeira, que se obtém deduzindo aos juros cobrados os juros pagos pela banca, aumentou, entre 2022 e 2023, de 3.803,8 milhões para 6.820,1 milhões”.
E faz as contas: “Como consequência, os lucros líquidos destes cinco maiores bancos apenas nos nove meses de 2023 somaram 3.298 milhões, em que só a CGD obteve mais de 987 milhões, quando em igual período de 2022 tinham já sido de 1.669,9 milhões”.