Cláudio Ramos. ‘O que conta na televisão é a magia do embrulho’

Apresentador nunca teve vergonha de correr atrás dos sonhos. Aliás, segundo o apresentador, há poucas pessoas que tenham feito tantos sacrifícios. Apesar do público o conhecer enérgico, é na calma da sua casa que se encontra. Quase a completar o 50.º aniversário, reflete sobre o seu percurso

Numa altura em que vai completar meio século de vida (este sábado, dia 11 de novembro), qual é o balanço que faz?

Mudou tanta coisa. O balanço é super positivo! Cheguei aos 50 anos onde achava que ia estar, quando sonhava que chegaria a esta idade. Era isto que eu queria. Dizia sempre: ‘Quando chegar aos 50 anos gostava de ter isto, aquilo, esta realização profissional’. Quando comecei a chegar perto dos 40 e não estava pleno profissionalmente, comecei a ter algum medo. Aos 45 ainda não tinha conseguido aquilo que queria e tenho a sensação de que até aos 50 nós conseguimos muito, depois disso é manter. Não há grande espaço para grandes oportunidades se não as agarramos até ali. Eu tinha medo disso, mas fui conseguindo. Estou contente, mas não gosto de fazer 50 anos. Pesa muito.

Há uns anos, numa entrevista, revelou que aos 55 anos queria estar reformado… 

Sim e tenho essa ideia. Quando eu digo reforma, não é chegar e meter os papéis para a reforma. Acho que nem se pode! O que quero dizer é que quero chegar aos 55 e não depender de nada nem de ninguém para tomar as minhas decisões, incluindo as laborais. Ou seja, eu quero ter estabilidade que me permita aos 55 dizer: ‘Isto eu não quero fazer!’. E não fazer por obrigação, como tive de fazer muitas coisas até aqui. Fazer menos se me apetecer, não acordar tão cedo, escolher os programas, dedicar mais tempo a outras coisas.

Parece uma pessoa extremamente segura de si. É mesmo assim? Ou existe alguma carapaça que esconde a fragilidade? 

Tem de se criar uma espécie de carapaça! Não sou tão seguro como as pessoas pensam. Aliás, sou muito inseguro em vários aspetos. Eu sou muito seguro na minha profissão, naquilo que eu faço. O que eu estou a fazer, eu sei que estou a fazer bem. Preparo-me muito bem para isso, é como se eu canalizasse tudo para aquilo. Mas noutras coisas, sim, sou muito inseguro. Sou muito nervoso, muito ansioso, muito chato, muito perfeccionista.  

Já disse várias vezes que é duas pessoas diferentes: a que trabalha e a que chega a casa. Como se gere isso? 

Eu acho que é tranquilo. A partir do momento em que saímos de casa nós mudamos. Acontece com toda a gente. Mudamos o tom de voz, a maneira como colocamos as mãos, como andamos… Não fazemos com os outros aquilo que fazemos com os nossos. Então, numa profissão tão exposta como a minha, tenho necessariamente de estar bem. O público quer-me bem. Posso mostrar fragilidades, mas não posso ser tão frágil ao ponto de não conseguir entregar um produto que as pessoas querem receber. Quando estou em casa posso tudo. Não falo alto em casa, não gosto de confusão, não há gritos. Eu não sou em casa aquilo que a maioria das pessoas pensa. Como às 10 da manhã já estou tão bem disposto, as pessoas pensam que sou assim o dia todo. Na realidade, a partir das 14h começo a esvaziar. 

É por isso que é um bocadinho ‘bicho do mato’? 

(risos) Eu sou só bicho do mato! Eu acordo às 5h30, saio da cama às 5h45 para sair de casa às 6h. Sou o primeiro a chegar ao estúdio, tenho reunião, no programa é muita energia a fluir, muitas pessoas, muitas conversas… Há uma altura do dia em que a bateria acalma. É como se eu estivesse sempre em ressacas pós-laborais. Eu, às vezes, obrigo-me a sair, mas prefiro ter os meus momentos em casa sossegado. 

Cresceu em Vila Boim, em Elvas, no Alentejo. Como é que um menino num meio tão pequeno se apaixona pela televisão tão cedo? 

Não faço ideia! Recentemente falou-se muito dos 40 anos do O Tal Canal. Portanto, se o programa tem 40 anos e eu 50, eu tinha 10 anos. Havia gravações em VHS, eu parava, falava, fazia play e o ator dava-me a deixa. Eu fazia isto com o Diário de Marilu. Fazia com as locutoras de continuidade. Era assim que eu brincava. Eu queria fazer isto, nunca quis fazer outra coisa! Nós tínhamos uma garagem grande e era um depósito de arrumações. Eu fazia cenários. Já tinha noção que os programas de televisão tinham vários sets. Eu colocava qualquer coisa a fazer da câmara e apresentava sempre a olhar para isso. Tinha convidados imaginários e, às vezes, os meus irmãos… Coitados! 

Como é que a família via essas brincadeiras? 

Eu acho que nenhum pai, se recuarmos 30 anos, queria que o filho fosse artista. Ainda hoje vemos isso. Eles querem que o filho tenha segurança e estabilidade. Eu também nunca cheguei e disse que queria ser apresentador de televisão. Para eles eram brincadeiras. Eles começaram a ver as coisas a ganharem um tom mais sério quando vim para Lisboa. Mas eu também comecei a trabalhar muito cedo… Sempre fui muito independente. Os meus pais nunca me disseram: ‘Não vás!’. Fomos criados com base na liberdade/responsabilidade.

Com 16 anos saiu de casa para ir trabalhar… Vendeu anúncios no jornal, vendeu vinho do Porto de uma amiga sua, esteve numa loja de montar móveis… Nessa altura, o que é que procurava? 

Fiz uma data de coisas… Estava à procura de dinheiro. Eu só queria ganhar dinheiro para as minhas viagens a Lisboa. Sempre fui muito poupado. Não queria ficar em determinado trabalho, o meu objetivo era precisamente chegar aqui. 

Sente que todas essas experiências o tornaram uma pessoa mais versátil? 

Sinto que me deu margem para aquilo que eu faço hoje. Quando eu tenho à minha frente alguém que trabalha no campo, eu sei o que é trabalhar no campo. Eu sei o que é acordar às 6 da manhã no inverno para me meter numa carrinha de caixa aberta durante quilómetros, atravessar um olival para ir à azeitona. Sei o que é quando tenho uma pessoa à minha frente que me conta que ganha o ordenado mínimo e que isso não lhe dá para viver. Eu vivi essa realidade. Não invento! Os meus irmãos viveram isso. Eu quando fui viver sozinho sabia que não podia chegar ao supermercado e comprar tudo o que queria. Aprendi a comprar avulso. Não tendo sido um privilegiado nesse aspeto, deu-me um laboratório gigante para quando leio uma história ou faço uma entrevista. Eu percebo o que a pessoa está a sentir. Deu-me empatia. 

Inventou muitas formas de lutar pelo seu sonho… Com o pouco dinheiro que tinha, vinha de Vila Boim para Lisboa. Às vezes tinha de cá ficar para o dia seguinte com o dinheiro contado… 

Eu não sei se contado as pessoas acreditam, porque eu não sei se há mais alguém que tenha tido este espírito de sacrifício. Antes de me estrear na televisão em 1999 e começar a ganhar dinheiro, tinha cá vindo muitas vezes. Tinha de vir de autocarro. Como não sabia vir até Lisboa, o autocarro parava do outro lado, em Cacilhas. Saía do autocarro, apanhava o barco e depois, já em Lisboa, andava a pé, de um lado para o outro, tanto no verão como no inverno. Eu fazia isto tudo, mas nunca me passou pela cabeça que podia ser feito de outra maneira. (risos) Uma vez respondi a um anúncio, da Patrícia Vasconcelos. Era um anúncio ainda no jornal, procuravam um apresentador. Na altura eu achava que, quando te chamavam, já estava garantido. Não… Era na altura em que os castings tinham centenas de pessoas. Tu até pensas: ‘O que é que eu estou aqui a fazer?’. Mas ficas, já que chegaste até ali. Sempre com a pressão de que tens de apanhar um autocarro de volta que não espera por ti. A primeira vez que eu trabalhei e ganhei dinheiro em Lisboa foi numa série chamada Uma casa em Fanicos, do Nicolau Breyner. Era gravado no Teatro Vasco de Santana. Eu ganhava 4 contos, gastava 3 vezes mais para vir… (risos)

Andou muito tempo atrás do Nicolau Breyner… 

Pois foi! Eu na série não fazia nada! Chegava muito cedo, tinha de ficar à espera… Nem queria ir almoçar porque pensava que depois não me iam abrir a porta! Sempre tive o pensamento de que somos substituíveis. Se não estivermos, chamam outra pessoa qualquer.  Andei atrás do Nicolau muito tempo. Mandei uma carta para o monte dele porque eu era só figurante na série, mas eu achava que ele podia ter um caso de amor com a filha da empregada! (risos) No primeiro episódio só se via a minha mão, no segundo, já se via o corpo inteiro! Como sou muito teimoso, disse que podia fazer mais. O Nicolau recebeu a carta e convidou-me para fazer A Raia dos Medos. Fui fazer produção. Nunca tive vergonha de ir atrás. 

Sente que os jovens fazem cada vez menos sacrifícios? 

Esta persistência de que eu te falo, não há! Esta forma de encarar a profissão com seriedade, de ir atrás, não há! Para já, hoje é tudo muito imediato. Depois, não sei se hoje as pessoas procuram necessariamente o amor à profissão, se procuram o reconhecimento que a profissão lhes dá. Claro que há pessoas que o fazem, mas são muito menos. Não sei se depois de um ‘não’, ou de dois, três, ou mil – eu nunca tive um ‘sim’, na verdade –, continuam a lutar. 

Também fala muito da solidão, do quanto gosta de estar sozinho. Nessa altura, a solidão era algo imposto. Agora, o que é que a solidão lhe traz? 

Sou uma pessoa muito sozinha desde sempre, gosto de estar só! Sinto que sou uma boa companhia para mim próprio. Gosto da solidão se eu tiver a certeza absoluta que amanhã posso agarrar no telemóvel e ligar para uma pessoa qualquer. 

Mas há pessoas que distinguem a solidão da solitude… 

Eu acho que as pessoas que usam a palavra ‘solitude’, querem provar ao mundo que não estão sozinhas… Ou não… Cada um tem a sua maneira de olhar para as coisas. Eu gosto desta forma de sentir as coisas. Eu sou uma pessoa solitária. Ponto. As grandes decisões são tomadas por mim, as viagens são feitas por mim, sozinho. Tenho amigos, família e uma filha. Tudo maravilhoso! Mas se me perguntares onde é que eu me encontro mais… é quando estou sozinho. Gosto de ir ao cinema sozinho, ao teatro… Nada me impede de fazer as coisas. Só não gosto de jantar fora sozinho! (risos)

Porquê?  

(risos) Tenho vergonha! Uma vez li um romance que dizia que quando alguém está a jantar sozinho, num restaurante – não numa praça de um centro comercial –, é porque não tem ninguém para a esperar. Isso ficou-me para sempre. Não é o almoço, é o jantar… Não sei se fiquei traumatizado. (risos) 

Mas ao mesmo tempo é poético…  

É! Eu tenho medo que as pessoas pensem que ninguém me espera!

Em 2015, numa entrevista, admitiu que quando entrou em televisão, não gostava de si. Porquê? 

Ainda não gosto de muitas coisas. Não gosto da minha voz, por exemplo. Mas fui aperfeiçoando as coisas. Em 2015 eu era uma pessoa muito diferente daquela que sou hoje. Faço terapia há muito tempo e acho que a mim, pessoalmente, o que me ensinou foi a pensar que há coisas de que eu não gosto, mas há outras que gosto muito. Ao invés de olhar para as que não gosto, olho para as que gosto muito! Depois, não vale de nada, com tanta gente a dizer que não gosta de mim… eu ser mais uma! (risos) Devemos agarrar-nos às melhores coisas que temos. Não gosto da minha voz, mas gosto da forma como falo. Não gosto dos gestos que faço com as mãos quando falo, mas as mãos sublinham as coisas que digo. Não quero que nenhum realizador me diga que não posso falar com as mãos. Eu falo mais com as mãos do que com a boca. 

É quase uma marca… 

Eu não consigo fazer de outra maneira! É como se eu estivesse a assinar uma coisa que estou a dizer! As pessoas que veem a minha televisão, às vezes estão a fazer o almoço, não estão a olhar para os meus olhos. Estão só a ouvir! O tom da minha voz pode fazê-las olhar. O horário que eu faço é para as pessoas da idade da minha mãe, às vezes mais isoladas. Elas quase ouvem rádio, não televisão. Vão fazendo coisas ao mesmo tempo. Tem de haver uma emoção que as faça voltar para trás, parar para me ver. Nem que seja um grito! Em rádio, o ocutor tem de te prender. Eu tive de ir provando aos realizadores que as coisas resultavam. 

E também improvisa muito! 

Eu só improviso! E é uma dor de cabeça para a equipa! (risos) E não gosto nada que me digam de véspera o que querem que eu faça. Do género: ‘Amanhã, o Cláudio vai entrar pelo lado de lá, fazer não sei o quê’. Eu não sei como é que eu me vou sentir amanhã. Sei que amanhã vou estar, mas não sei por onde me apetece entrar! Já se começaram a habituar. Nunca usei teleponto na minha vida. Só para o número de telefone [do passatempo]. Acho impessoal. Um teleponto não dá para falares para 300 mil pessoas, percebes? São todas pessoas diferentes. Os meus colegas de trabalho aceitam-me a trabalhar assim. Quando fiz o Big Brother, a Teresa tinha o teleponto dela, eu tinha espaços em branco para improvisar. Sabia que tinha a responsabilidade de falar com a Teresa, tinha os tópicos. 

Durante muito tempo sofreu com a exposição. Essa altura fê-lo ganhar estofo?

Eu acho que era o reflexo do trabalho que eu fazia. Eu era comentador. Venha quem vier, na altura, eu, a Maya e o Daniel Nascimento fizemos o primeiro programa que falava de gente mediática, a Tertúlia Cor-de-Rosa. Ninguém faz como nós fizemos. Fomos os pioneiros. Cada um deles seguiu o seu caminho e eu fui o único que ficou como comentador em Portugal. Tive de me reinventar. Como é que o fiz? Vendo o que se fazia lá fora. Ser comentador não é só estares bonito e sentado a falar. Tens de fazer um espetáculo. Eu percebi que tinha de acrescentar qualquer coisa. Se não, amanhã, vinha outro e fazia a mesma coisa que eu. Eu não tinha amigos no meio, para não condicionar a minha forma de opinar. Com o tempo fui ficando mais suave e leve. Transformei o espaço de comentário num espaço de espetáculo. Porque também percebi que se ficasse muito colado ao comentário ia só fazer aquilo. O Jornal Rosa, no programa da Júlia Pinheiro, provou isso. Hoje, orgulho-me de dizer que não há um único comentador na televisão que não queira ser igual ao Cláudio Ramos! Sou uma referência. 

Ao longo da sua carreira já trabalhou em vários canais, em vários formatos, para vários públicos. Como se faz essa ginástica? 

Nós não escolhemos… Em Portugal, não se escolhem carreiras! Nós vamos aceitando o que nos dão, ou não. No meu caso, fui sempre aceitando. Como eu vejo muito o que se faz lá fora, em Itália, em Espanha, percebi que nos temos de reinventar neste meio. Cada vez que te convidam para um projeto novo, mesmo que seja a mesma coisa, tu tens de te reinventar. Inventas uma forma diferente de fazer o mesmo! O que conta na televisão é a magia do embrulho. Podes fazer a mesma coisa e embrulhares de formas diferentes! A pessoa fica encantada com a magia do produto. As histórias que vão ao meu programa, vão a todos os programas. As notícias dão em todos os canais… Eu acho que até ir para a TVI eu nunca disse ‘não’ a um projeto…

Como falávamos, durante muito tempo, o seu trabalho foi comentar celebridades. Disse várias vezes que as pessoas que estão neste meio estão sujeitas a análise. Quando é consigo, como lida com isso? 

Nós podemos comentar e não estragar a vida das pessoas, não ofender. Gostava de um dia poder dar uma masterclass aos comentadores. Isto não nasceu comigo, fui aprendendo. Podemos entreter as pessoas que estão em casa, sem magoar as pessoas de quem falamos. Não podemos trazer para a televisão o que vemos nas redes sociais! Mas lido bem com o que as pessoas dizem de mim. Durante muito tempo achei que as pessoas não eram justas, tinham uma imagem errada… Era um tormento. Quando a Leonor nasceu, pensei que tinha de haver um travão, porque ela mais tarde ou mais cedo ia ler. As redes sociais apareceram, por isso, deixámos de poder ter controlo. Claro que é melhor que digam bem do que digam mal, mas é o que é. Temos de ver sempre de onde vem a crítica. Também nunca foi segredo que queria voar mais alto e apresentar o daytime. Conseguiu! 

Nasceu outro Cláudio com esta oportunidade? Sente que estava um pouco rotulado? 

Durante muito tempo fui o menino que comentava o ‘cor-de-rosa’. Foi uma transição difícil. Foi feito na SIC. A Gabriela Sobral meteu-me a fazer especiais. Já ia tendo uma noção de daytime. A Passadeira Vermelha deu-me a parte do comentário e do espetáculo. Quando eu fui fazer de vizinho da Cristina [no O Programa da Cristina, na SIC], foi uma mistura de tudo. Foi aí que percebi que o país me meteu os olhos em cima e percebeu que eu sabia fazer mais. O Nuno Santos foi buscar-me para o Big Brother e as coisas transformaram-se. Quando ele me foi buscar para a TVI eu disse-lhe que o daytime era o meu foco. No daytime eu sinto-me como um peixe na água. Sabia perfeitamente o que queria fazer e como queria fazer. 

E o que é que o apaixona mais na televisão? 

As pessoas… Se me perguntares: ‘Queres apresentar o Chuva de Estrelas ou continuar a fazer o daytime?’. Quero continuar a fazer o daytime! Quando as pessoas deixarem de ver daytime, a televisão desaparece. A televisão é feita para as pessoas dessa geração. Os críticos é que pensam que o horário nobre da televisão é à noite, porque há mais gente a ver. Certo, mas e as pessoas que estão de manhã em casa sozinhas, que só precisam de uma companhia? A televisão é nobre desde o momento em que alguém a liga! Eu recebo cartas de pessoas que querem ir ao programa porque ninguém as ouve.  

E também gosto de mostrar que há pessoas que tiveram uma vida complicada, mas que conseguiram. Porque é que é tão útil que as pessoas saibam que eu sou homossexual e que estou a apresentar um programa de manhã? Não é para mim. É para que as pessoas que estão nos sítios mais afastados, as mães, os avós e os pais pensem: ‘O meu filho é homossexual, mas olha para o Cláudio. Conseguiu. Olha que bem que está. Uma coisa não invalida a outra!’. E os adolescentes em casa, que me podem ver e identificarem-se. Quando eu assumi a minha orientação sexual não foi para me libertar de coisa nenhuma! Foi para mostrar a muitas pessoas que esta pessoa pode ser o filho. Não precisam de condicioná-lo.  

E o que é que o entristece mais no meio? 

As pessoas. É um meio muito bonito, mas muito mal frequentado. Não sei se a frase é do Manuel Luís Goucha, ou da Cristina. A maioria das pessoas não são verdadeiras e não podes confiar nelas. 

É uma ginástica que se tem de fazer? 

É, mas se não quiseres fazer, eles já sabem com o que é que podem contar. Não gostas daquela pessoas, dizes que não gostas. Não queres trabalhar, não trabalhas. A maioria das pessoas não são amigas e, se quiserem o teu lugar, menos ainda. É um meio muito competitivo e há pessoas que acham que, quanto mais tu falas, mais brilhas. Mas não. Os mais crescidos, alguns, têm muito medo da nova geração. Agarram-se à ideia de que são eles que sabem fazer e não querem passar. Eu sou da opinião que devemos ter todo o tipo de pessoas. Adoro trabalhar com gente mais nova. Gosto de partilhar respeitando os espaços. A pessoa tem de ter a humildade de perceber que, em determinado assunto, aquela pessoa é melhor do que tu. E o espetador ganha muito mais se for aquela pessoa a fazer a pergunta.  

O que se segue? Tem projetos de sonho?  

Tenho! O que gosto de fazer, como já disse, é o daytime. Mas gostava de ter mais tempo em algumas conversas. Por isso, na TVI, gostava de fazer o Conta-me. Mas tinha de ser eu a escolher os meus convidados! (risos) Está muito bem entregue à Maria [Cerqueira Gomes] e ao Goucha, mas era o que eu gostava de fazer. E, já o disse várias vezes, gostava de ter um programa de conversas com o Manuel Luís Goucha. Um programa de conversas entre duas gerações diferentes. O Manuel é uma referência para mim, da vida toda. É a pessoa mais culta no meio. Trabalhei com ele no Big  Brother e foi das melhores coisas que me aconteceu. Nessa edição, eu renasci! Não ia trabalhar… eu ia ser feliz. Até já tenho nome para o programa: Par de Jarras. Adorava! (risos)

Estamos a aproximar-nos da época natalícia. Tem algumas tradições nesta altura do ano?  

Gosto muito do Natal! Fazer a árvore, decorar a casa… Vou para a aldeia. O Natal é sempre em casa da minha mãe, com a família toda à mesa, somos muitos. A minha [filha] Leonor passa o dia 24 connosco, a mãe dela vive perto e, no 25, venho para Lisboa. Para a minha solidão. Adoro o período que vai do meu aniversário até ao Natal. Gosto de ver as ruas cheias de gente, da pressa, das músicas. É uma coisa que me traz muita nostalgia. É uma altura onde somos melhores pessoas. Não gosto da passagem de ano, acho uma seca! Mas do Natal gosto muito.