China considera Biden irresponsável por chamar ditador a Xi Jinping

Na reunião que mantiveram na quarta-feira, à margem da cimeira da APEC, os presidentes norte-americano e chinês concordaram na em restaurar algumas comunicações militares entre as duas Forças Armadas

A China classificou como irresponsáveis as declarações do presidente dos EUA, que voltou a chamar ditador ao seu homólogo chinês depois de uma reunião, em São Franciso, na qual concordaram em restaurar algumas comunicações militares. 

“Esta declaração é extremamente errada e um ato político irresponsável. A China opõe-se firmemente”, disse a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning. “É preciso notar que há sempre pessoas com segundas intenções que tentam instigar e minar as relações entre a China e os EUA”, acrescentou. De acordo com Mao, “essas pessoas estão bem cientes de quem está a tentar danificar as relações sino-americanas” e sublinhou que “não terão sucesso”.

Joe Biden reiterou Xi Jinping é um ditador durante uma conferência de imprensa, depois de  uma reunião de mais de quatro horas entre ambos à margem do Fórum da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC). Em resposta a um repórter que lhe perguntou se ainda considera Xi um ditador, o líder dos EUA respondeu: “bem, olha, ele é”.

Numa angariação de fundos para a sua campanha para as eleições de 2024, em junho passado, Biden começou por chamar “ditador” a Xi, o que causou grande desconforto em Pequim e num outro evento de angariação de fundos na véspera do encontro, o líder norte-americano disse que a China tem “problemas sérios”, sem especificar.

Comunicação militar

Na reunião que mantiveram na quarta-feira, à margem da cimeira da APEC, os presidentes norte-americano e chinês concordaram em restaurar algumas comunicações militares entre as duas Forças Armadas.

Ambos os lados prometeram uma cooperação para aproximar EUA e China em conversações regulares no âmbito do que é conhecido como Acordo Consultivo Marítimo Militar, que até 2020 foi usado para melhorar a segurança aérea e marítima.

“Acabei de concluir um dia de reuniões com o Presidente Xi e acredito que foram algumas das discussões mais construtivas e produtivas que tivemos”, disse Biden no final do encontro. Partimos do “trabalho de base estabelecido ao longo dos últimos meses de diplomacia entre os nossos países e fizemos progressos importantes”, acrescentou. 

Por seu lado, e de acordo com um comunicado divulgado pela emissora estatal chinesa, Xi Jinping afirmou, depois da reunião, que os dois líderes concordaram em retomar os diálogos militares de alto nível com base na equidade e no respeito.

Os responsáveis militares norte-americanos têm vindo a manifestar repetidas preocupações sobre a falta de comunicações com a China, em especial tem havido mais incidentes entre navios e aeronaves dos dois países. 

Os acordos de comunicação militar significam que o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, poderá reunir-se com o homólogo chinês, assim que este for nomeado e também permitir que o comandante das forças dos EUA no Pacífico, com base no Havai, se envolva em conversações com comandantes homólogos.

O relatório mais recente do Pentágono sobre o poder militar da China informa que Pequim “negou, cancelou ou ignorou” comunicações entre militares e reuniões com o Pentágono durante 20222 e 2023, o que “aumenta o risco de um incidente operacional ou um erro de cálculo evoluir para uma crise ou conflito”. Os EUA consideram as relações militares com a China essenciais para evitar erros e manter em paz a região do Indo-Pacífico.

A reunião entre os dois líderes foi a primeira no espaço de um ano, depois de um encontro de cerca de três horas, em novembro de 2022, em Bali, na Indonésia, à margem da cimeira do G20. A última vez que Xi se deslocou aos EUA foi em 2017, quando se reuniu com o  então presidente Donald Trump. 

Os dois líderes devem voltar a encontrar-se esta semana no segmento de alto nível da cimeira da APEC, que decorre até sexta-feira em São Francisco e na qual participam também os presidentes do México, Chile, Colômbia e Vietname, bem como os primeiros-ministros do Canadá, Austrália e Japão, entre outros.