Se atentarmos para a evolução da vida política portuguesa das últimas quatro décadas, determinada pelos dois grandes partidos do centro, PSD e PS, vemos que a mesma derivou de dois grupos/movimentos dentro desses partidos: a ‘Nova Esperança’, no primeiro, e os ‘Estados Gerais’, no segundo.
No PSD, aquele movimento foi determinante no lançamento e apoio a Aníbal Cavaco Silva no célebre Congresso da Figueira da Foz, e aglutinou personagens como Marcelo Rebelo de Sousa, José Manuel Durão Barroso ou Pedro Santana Lopes, sendo responsável pela ‘linhagem’ das lideranças do partido até este último. Este grupo não seguiu liderando porque as suas figuras mais jovens, José Luis Arnaut e Nuno Morais Sarmento abdicaram do seu papel político no partido – possibilitando que surgissem Pedro Passos Coelho e Rui Rio na liderança, ambos apoiantes da linha de Francisco Pinto Balsemão.
No PS, quando António Guterres promoveu os ‘Estado Gerais’, incubadora do governo que veio a formar no final de 1995, realizou um movimento distinto. Não juntou pessoas com as mesmas ideias políticas, federou diferentes correntes, juntando ‘soaristas’, ‘sampaistas’ e ‘gamistas’ em torno da ‘3.ª via à portuguesa’. Passou, então, do socialismo democrático mais puro para uma aproximação ao ‘pensamento único’, conciliando o capitalismo vencedor da Guerra Fria com as teses moderadas da social-democracia nórdica (as remanescências desse tempo ainda se viveram neste último governo com António Costa procurando fazer do PS ‘o’ partido do Governo). Todas as lideranças socialistas posteriores, Ferro Rodrigues, José Sócrates, António José Seguro e António Costa estiveram ligados aos ‘Estados Gerais’ e fizeram parte daquela ‘federação’.
A realidade é que, melhor ou pior, com exceção do período da troika, no governo liderado por Pedro Passos Coelho – e daí também a rutura com o adquirido histórico da social-democracia do PSD, foram estes dois grupos que lideraram o país nestas décadas. Esse tempo acabou!
Quer Luís Montenegro, quer Pedro Nuno Santos, ou José Luís Carneiro, são figuras que saem destas dinâmicas e representam uma rutura política, que abre um tempo novo na política nacional.
Curiosamente, todos disputarão eleições antes de tempo e sem que tenham um programa consolidado para o país. Montenegro, porque imaginou uma longa travessia na oposição, estava a gerir essa travessia e a fazer o seu caminho. Santos, porque saiu do Governo há relativamente pouco tempo, tinha recentemente regressado ao espaço público no comentário da televisão e imaginava António Costa no Governo até 2026. Carneiro ficou no Governo, mas encontrava-se na mesma circunstância.
A todos importa perguntar qual o programa que trazem para Portugal. De Montenegro importa perceber se o seu programa será o do PSD, se o da troika – como alguns supostamente próximos lhe parecem querer impor. De Santos e Carneiro importa perceber qual o papel de um PS que desde 1995 governou 21 dos últimos 28 anos no país, e considerando o atual estado de coisas, o que de novo têm para oferecer.
Na realidade, a todos deve ser questionado o mesmo: o que representam politicamente estas lideranças e o que ainda têm estes partidos para oferecer ao país? A fragmentação do espaço político ‘nas margens’ decorrem destas questões: não se percebe o que os partidos trazem de novo.
Será que ainda descobrimos antes das eleições?