Portugal fechou a fase de grupos com uma vitória vistosa sobre a modesta Islândia (2-0), que é uma sombra da talentosa seleção que surpreendeu no Euro 2016 e impôs um empate aos portugueses. O estádio José de Alvalade encheu-se para ver Cristiano Ronaldo e Companhia festejarem a qualificação para o Campeonato da Europa da Alemanha só com vitórias – foi o nono apuramento consecutivo. Na história da competição apenas oito seleções conseguiram fazer um apuramento limpo, e Roberto Martínez já o tinha feito enquanto treinador da Bélgica.
A equipa das Quinas fez a melhor qualificação de sempre. Para o Mundial de 2006, a seleção treinada por Luiz Felipe Scolari fez 30 pontos em 12 jogos – a equipa de Roberto Martínez conseguiu o mesmo número de pontos em 10 jogos. Além de Portugal, só a França conseguiu garantir o apuramento só com vitórias entre 53 seleções. O “poder de fogo” da seleção nacional foi brutal. Com 36 golos marcados – é a mais concretizadora da fase de qualificação –, bateu o recorde da equipa de Scolari (35 golos). Já a França obteve o resultado mais desnivelado na história do Europeu, ao esmagar Gibraltar por 14-0 e tornou-se o segundo melhor ataque da prova com 27 golos, e menos um jogo.
O apuramento foi conseguido defrontando seleções de segundo plano do futebol europeu, apenas a Eslováquia colocou alguns obstáculos, que Portugal demorou tempo a ultrapassar. Ficámos, por isso, sem saber o que vale esta equipa perante adversários mais fortes, mas isso não retira mérito à seleção, até porque houve alturas em que Portugal era claramente favorito, mas jogava mal e perdia ou empatava com equipas de menor calibre. Na era Martínez, salvou-se sempre o resultado.
“Os jogadores gostam de jogar na seleção e mostram um compromisso incrível”, salientou o selecionador. Relativamente ao Europeu, não dá favoritismo a ninguém: “Há seleções que têm qualidade para poder ganhar o torneio. Nós estamos nesse grupo, os valores no balneário e a qualidade individual são de nível máximo”, declarou.
O sorteio da fase final realiza-se a 2 de dezembro. Portugal é cabeça de série e fica no pote 1 com a Alemanha, França, Espanha, Bélgica e, muito possivelmente, Inglaterra. A competitividade e o grau de dificuldade vão aumentar, Portugal vai ter de dividir o favoritismo com outras seleções e fazer jogos mais conseguidos, quase de excelência, se quiser lutar pelo título europeu.
Bruno Fernandes mostrou grande lucidez num momento de festa: “Há que perceber que nem tudo foi um mar de rosas. Há coisas a melhorar se quisermos chegar à final do Europeu”, disse. O médio do Manchester United foi o único que realizou dez jogos; nestes, marcou seis golos, fez oito assistências e teve 83,7% de eficácia nos passes. Houve outros jogadores fundamentais nesta campanha. Cristiano Ronaldo foi o melhor marcador, com 10 golos em nove jogos, Rúben Dias disputou nove jogos e teve uma eficácia de passe de 94,6%, João Cancelo e Bernardo Silva disputaram igualmente nove partidas e cada um marcou três golos. O médio ofensivo do Manchester City como não sabe jogar mal teve 90,8% de eficácia no passe. O guarda-redes Diogo Costa participou em sete jogos e foi decisivo para que Portugal tivesse sofrido apenas dois golos em dez jogos. Roberto Martínez elaborou uma lista inicial de 200 jogadores, que foi reduzindo até chegar aos 82 que acompanha em permanência, analisando o sistema tático em que jogam, a posição, o calendário, os minutos por jogo e dados de desempenho. Durante a qualificação utilizou 30 jogadores e estreou quatro nomes: Gonçalo Inácio, João Neves, Toti Gomes e João Mário. Como disse o selecionador, “jogar na seleção é caro”, pelo que o núcleo principal para o Euro 2024 está praticamente feito.
O jogo e o apuramento de Portugal tiveram impacto na imprensa internacional. Em Espanha, o desportivo Marca escreveu: “Alucinantes. Portugal ganhou o décimo jogo e conseguiu uma qualificação imaculada, batendo recordes alucinantes. Frente à Islândia, deram uma lição de futebol”. O principal jornal desportivo italiano, La Gazzetta dello Sport, fala de “show de Portugal”, e, no Brasil, o GloboEsporte, vai mais longe e diz: “Portugal é o favorito ao título no Campeonato da Europa de 2024. Esta é a conclusão a chegar após a qualificação, que foi perfeita. No último jogo, só faltou o golo de Cristiano Ronaldo”.