Durante muitas semanas, o Brasileirão parecia estar entregue ao Botafogo, na altura superiormente treinado por Luís Castro, que chegou a ter 13 pontos de vantagem para o segundo e 14 sobre o Palmeiras. Mas, nas últimas semanas tudo mudou. Ao contrário do que habitualmente acontece em competições disputadas por pontos, onde a lista de candidatos se reduz com o passar das jornadas, a Série A ganhou mais candidatos com o aproximar do final. O guião deste ano não podia ser mais interessante. Neste momento, Palmeiras, Flamengo, Botafogo, Atlético Mineiro, Grêmio e Red Bull Bragantino estão separados por quatro pontos, quando estão nove pontos em jogo, ou seja, os seis clubes podem ser campeões – nunca se tinha vista nada assim no Brasileirão.
A emoção está ao rubro num campeonato disputado por 20 equipas e avaliado em 1,44 mil milhões de euros pelo Transfermarkt. Ainda segundo este portal, o valor de mercado entre as seis equipas candidatas ao título é enorme e os mais fortes está na frente. O Flamengo (160,7 milhões de euros) e o Palmeiras (159,6 milhões) pertencem a uma liga milionária e os restantes estão num patamar bastante inferior tendo em conta os valores de mercado: Atlético Mineiro (83,4 milhões), Red Bull Bragantino (72 milhões), Botafogo (68,6 milhões) e Grêmio (57,7 milhões).
Há também dois treinadores portugueses com possibilidade de vencer o campeonato, o que causa algum desconforto nos espíritos mais conservadores, e há muitos técnicos da velha guarda que convivem mal com o sucesso dos portugueses. Abel Ferreira volta a ser notícia por liderar o campeonato e pela eventual saída para o Al-Sadd, do Qatar, com uma oferta “irrecusável”. Aos 44 anos, poderá tornar-se o treinador mais bem pago do mundo, suplantando o vencimento de técnicos como Diego Simeone, Pep Guardiola, Jürgen Klopp e José Mourinho. Devido à sua forma de pensar, Abel Ferreira colecionou algumas polémicas com outros treinadores e com a imprensa brasileira, e pode aproveitar este convite para mudar de ares em janeiro de 2024, apesar dos 6,7 milhões de euros que ganha por ano.
As contas do título
Um estudo matemático da Universidade Federal de Minas Gerais aponta o Palmeiras como o futuro campeão, mas ninguém dá nada por garantido, já que o campeonato deste ano está repleto de reviravoltas, surpresas e desafios que mantêm os adeptos em suspense.
O Palmeiras de Abel Ferreira está longe do brilhantismo da época passada a nível interno e nas competições internacionais, mas ganhou alma nova com as constantes escorregadelas do rival do Rio de Janeiro e assumiu a liderança em igualdade de pontos com o Flamengo. Isto acontece numa altura em que muitos já se preparavam para crucificar o treinador português – agora está a poucas semanas de se tornar um deus para os adeptos do Verdão.
O Flamengo chegou tarde à luta pelo título, mas os triunfos sobre o Palmeiras e o RB Bragantino colocaram o Mengão na discussão pelo campeonato. As duas equipas lideram com 63 pontos e o mesmo número de vitória (18), a vantagem vai para o Verdão pela diferença de golos (+ 9). A equipa de Tite está a jogar bem e pode ser o principal adversário do Palmeiras na luta pelo título, pode muito bem acontecer que o Brasileirão seja uma conversa entre as equipas mais fortes do campeonato. Na próxima jornada, que se realiza amanhã, vai defrontar o Atlético Mineiro, de Luiz Felipe Scolari, terceiro classificado, jogo que pode ter um peso importante na atribuição do título.
Sob o comando de Luís Castro o Botafogo chegou a ser apontado como o principal favorito – fez a primeira melhor volta de sempre – mas a passagem discreta de Bruno Lage e agora de Tiago Nunes acabaram com a vantagem de 13 pontos dos alvinegros, que foram ultrapassados pelo Palmeiras e Flamengo. Depois de ter estado na liderança durante 31 jornadas, o Fogão leva oito jogos sem vencer e o pesadelo continua. Desceu para a terceira posição a um ponto dos líderes, e já não depende de si para ser campeão. O Atlético Mineiro treinado por Luiz Felipe Scolari surge na quarta posição com 60 pontos. Está a fazer um final de época muito convincente e pode surpreender. O Grêmio e RB Bragantino estão na quinta posição com 59 pontos. Com as derrotas na jornada deste fim de semana, ficaram numa situação mais delicada na luta pelo título. O sonho de conquistar o tão almejado treféu ficou mais longe.
Dança de treinadores
No início da época havia oito treinadores portugueses no Brasil: Luís Castro (Botafogo), Pepa (Cruzeiro), Abel Ferreira (Palmeiras), Pedro Caixinha (Bragantino), Renato Paiva (Bahia), Ivo Vieira (Cuiabá), Vítor Pereira (Flamengo) e António Oliveira (Coritiba). Neste momento, apenas Abel Ferreira, Pedro Caixinha e António Oliveira mantêm o lugar. À exceção de Luís Castro, que trocou o Botafogo pelo Al Nassr da Arábia Saudita, todos os outros foram dispensados. António Oliveira foi despedido, mas manteve-se no Brasileirão como técnico do Cuiabá. Já depois da temporada ter começado, Armando Evangelista foi contratado pelo Goiás, mas saiu passados quatro meses. Em 35 jornadas foram demitidos ou pediram para sair 23 treinadores. Palmeiras, Fluminense, Bragantino, Grémio e Fortaleza são as únicas equipas que não mudaram (até agora) de treinador; em contrapartida, o Corinthians e o Santos já mudaram de técnico por três vezes.