O primeiro presépio faz oito séculos

O Presépio completa este Natal 800 anos. Foi em Grecco, Itália, o local em que São Francisco de Assis pediu para se representar pela primeira vez a noite do nascimento de Jesus. A este propósito o Papa Francisco publicou o livro O Meu Presépio, acabado de chegar às livrarias portuguesas

Quinze dias antes do Natal, Francisco chamou João, um homem daquela terra, para lhe pedir que o ajudasse a concretizar um desejo: ‘Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incómodos que ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha de uma manjedoura, entre o boi e o burro’”. É assim que no seu livro O meu Presépio, o Papa Francisco descreve detalhadamente e com base em fontes franciscanas – nomeadamente o biógrafo do santo, Tomás de Celano – a origem do presépio. “Mal acabara de o ouvir, o fiel amigo foi preparar, no lugar designado, tudo o que era necessário segundo o desejo do santo. No dia 25 de Dezembro chegaram a Greccio muitos frades, vindos de vários lados, e também homens e mulheres vindos das casas da região, trazendo flores e tochas para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao chegar encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro. À vista da representação do Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram uma alegria indescritível, como nunca tinham sentido antes”, relata o Papa descrevendo o primeiro presépio vivo.    

Completa-se no próximo mês de dezembro 800 anos deste acontecimento que serve de propósito para a publicação do novo livro de Papa Francisco editado pela Princípia e que chegou a semana passada às livrarias. Lembra o Papa que foi São Francisco de Assis, o santo a quem pediu o nome emprestado, que criou o presépio tal como o conhecemos. “Assim nasce a nossa tradição, todos à volta da gruta repletos de alegria, sem qualquer distância entre o acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no mistério”, escreve o Papa.  

O lugar em que tudo surgiu foi Greccio, em Valada de Rieti, onde o fundador dos Franciscanos descansou quando voltava de Roma depois de receber, em 29 de novembro de 1223, a aprovação pelo Papa Honório III da sua Ordem. Greccio era e é um local de grutas que fizera lembrar a São Francisco de Assis a paisagem de Belém, e onde tinha recentemente voltado. Desde então esta pequena localidade no centro de Itália “torna-se um refúgio para a alma que se esconde na rocha, deixando-se envolver pelo silêncio”. Neste livro, e a propósito deste acontecimento com 800 anos, o Papa tem como intenção explicar o significado do presépio e, mais do que isso, do próprio Natal. Os paralelismos, as metáforas, a tradição e os significados preenchem as páginas desta nova publicação. O objetivo é que sirva também de apoio à preparação que os católicos fazem para o dia de Natal durante o Advento, período que começa no próximo domingo. 

Escreve o Papa: “São dois os sinais que, no Natal, nos guiam para reconhecer Jesus. Um é o céu aberto de estrelas. São tantas, infinitas, mas entre todas brilha uma especial, que impele os Magos a deixar as suas casas e a iniciar uma viagem”. O convite do Papa é que cada um procure a “estrela que nos impele para além dos nossos hábitos”. O outro sinal é “a pequenez de Deus”, não como um sinal de poder ou de soberba, mas sim apresentando-se como um “ser humano indefeso, pobre e humilde”. 

Ao longo de cerca de 150 páginas, o Papa destaca cada uma das figuras que compõem o presépio. Dividindo desta forma os capítulos do livro. De escrita simples, parágrafos curtos e mensagens diretas, o Santo Padre pretende ensinar e fornecer textos que ajudem a meditar o sentido do nascimento de Jesus. Desde o Menino Jesus, aos Reis Magos, passando pelo próprio estábulo ou os pastores, o Santo Padre revela o sentido e o significado de cada um dos personagens ou locais e, a partir de cada um, destaca várias mensagens que tenham tradução e façam sentido na vida prática e atual dos leitores a quem se dirige. 

O Papa, no entanto, vai mais longe e faz mais do que uma simples dissertação de tudo e de todos o que compõe o presépio. E aventura-se para além das figuras tradicionais como sejam a Sagrada Família, os pastores, os anjos e a estrela que se pendura no alto de cada presépio. O rei Herodes, a cidade de Belém, as várias figuras que são acrescentadas e inventadas nas recriações de cada um, tal como a própria árvore de Natal e o seu significado cristão, têm várias páginas que lhes são dedicadas. Retirando em cada uma um sentido evangélico.

A preocupação do Papa é a atualização do significado do presépio de forma a que a recriação da noite de Natal não fique apenas reduzida a uma mera tradição. “O presépio é um Evangelho doméstico. A palavra presépio significa literalmente manjedoura, enquanto a cidade do presépio, Belém, significa ‘casa do pão’”, explica o Papa. “Manjedoura e casa do pão: o presépio que fazemos em casa”. Quanto à sua pertinência nos dias de hoje, acrescenta: “O presépio é atual como nunca, enquanto todos os dias se fabricam no mundo tantas armas, com imagens violentas, que entram nos olhos e no coração. O presépio é, ao contrário, uma imagem artesanal da paz. Por este motivo é um Evangelho vivo”. Um Evangelho que faz no próximo mês 800 anos e que vai sendo representado em todo o mundo por milhares de formas diferentes conforme os locais, os costumes e os tempos. Exatamente dia 10 de dezembro, conforme reza a história, por obra e graça de São Francisco de Assis e pelas mãos de um seu amigo de nome João.