O dr. António Costa passou várias vezes por entre os pingos da chuva. Em todas aquelas em que o Governo falhou e nas quais as culpas recaíram sobre os ministros. Nas sucessivas trapalhadas em que tantos membros do Governo se meteram e provocaram a intervenção da justiça ou o escândalo público. No adensar da falta de previsão e de resposta do Estado a carências fundamentais da sociedade. É difícil encontrar um mosaico tão completo e tão diversificado.
Em todas as ocasiões, o dr. Costa conseguiu distanciar-se com um sorriso nos lábios e um dito de espírito. Diz um ditado popular que ‘tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia se parte a asa’. Eis que o inevitável aconteceu. Cercado pelas investigações, pediu a demissão. Foi aceite. Depois, sentiu nascer uma nova vida. Arrependeu-se. A pequena história do que protagonizou em seguida foi um momento triste. Aí estarão, em breve, as eleições. Há muito tempo fez o que um líder de saída faz para preparar a sucessão. Deixa que se identifiquem dois delfins. Neste caso, um que o desafiou e outro que mostra a sua fidelidade. Qual é o problema? É que há muitos portugueses insatisfeitos, intranquilos, donos de uma vida mais difícil. Que estão a ver de modo mais nítido que assim não vamos lá. O país gasta com o Estado mais do que deve porque a desorganização é a regra. A classe média sofre.
A pobreza aumenta. Então, a conclusão clara é termos um modelo de crescimento que não serve, não gera a riqueza necessária e consome recursos em excesso. Ou seja, o caminho será pagar cada vez mais impostos diretos ou indiretos e ter cada vez menos e chegar ao fim do mês e perceber como o rendimento encolheu. E que estamos assim depois da visita da troika, dos exageros punitivos que sobre nós se abateram, da inevitável austeridade. Foi um tempo muito duro em que se tratava de recolocar os contadores a zeros, de reequilibrar o país. Foi injusto, insensível o governo? Foi. O pânico do incumprimento gerou medidas excecionais que nenhum governo gostaria de aplicar. E não é sério dizer que foi a capacidade extraordinária dos governos seguintes que conseguiu o reequilíbrio das contas públicas. Não se pode fazer tábua rasa dos resultados. Bastaria comparar as taxas de juro de então e as que lhes sucederam. Dito isto, será admissível dizer existir uma dicotomia entre os governos do Partido Socialista e os do Partido Social Democrata? Manifestamente, não. Três exemplos.
A preocupação social esteve presente no extraordinária programa de habitação social do governo Sá Carneiro. A recuperação do tempo de serviço concedeu benefícios de monta em relação aos pensionistas e o décimo quarto mês não caiu do céu aos trambolhões durante os governos de Cavaco Silva. Portanto, o novo líder do PSD tem legitimidade histórica para reivindicar a preocupação com os economicamente mais débeis ou mais esquecidos. Terá a oportunidade de governar noutro tempo e noutras circunstâncias. E, principalmente, tem o direito de querer um país diferente, de organizar as respostas do Estado, de reconciliar os cidadãos com as obrigações deste e conseguir mais para cada um à custa de menos esforço contributivo.
É tempo de arriscar
O país gasta com o Estado mais do que deve porque a desorganização é a regra A classe média sofre…