Impressiona a forma como o Governo do PS, com uma estabilidade que parecia absoluta, caiu. Impressiona o percurso especialmente penoso da degradação das instituições que fomos assistindo e a uma certa impunidade que cobria quem governava à medida que os sucessivos casos se iam multiplicando. Tendo caído, voltámos a ter um problema particularmente complexo por resolver: não é a incompetência que deita abaixo um governo do PS, é a ética dos seus governantes. Não foi pela incapacidade do governo em resolver os problemas estruturais do país, mas sim, pela sua incapacidade de manter-se longe de problemas com a justiça. Isto é particularmente preocupante numa Democracia.
António Costa conseguiu formar governo por três vezes, vencer duas eleições e conseguiu uma maioria absoluta. Ninguém conhece uma reforma estrutural dos seus três governos, mas para a História ficou a habilidade aritmética de conseguir unir a Esquerda e de praticamente “mexicanizar” o regime.
Todo este legado de António Costa colocará a Direita a querer discutir essencialmente duas coisas durante a campanha: corrupção e fórmulas aritméticas que lhe permitam ter estabilidade governativa.
Se a primeira me parece absolutamente fundamental, a segunda poderá servir única e exclusivamente os interesses do PS. António Guterres deixou o país num pântano político, José Sócrates deixou o país num pântano financeiro, António Costa deixou o país num pântano moral. O centro do debate político tem de ser a concretização de um projeto político que se concentre em pontos fundamentais: o combate à pobreza estrutural do país, o crescimento económico e da produtividade, a reforma da Justiça e da administração pública, o combate à corrupção. Um projeto que seja a antítese de Guterres, Sócrates e Costa e que afaste definitivamente o extremismo de Pedro Nuno Santos.
Não existe à Direita quem discorde destes pontos previamente mencionados. A hipótese de uma maioria de Direita no parlamento é a chance de salvar o país de uma coisa muito pior do que uma bancarrota: a deriva institucional, a falência da Democracia e de alguma maneira, o fim do país. Com uma imigração massificada, com uma saída do país de grande parte dos jovens, com uma estagnação brutal da classe média, o país estará mais do que condenado em 15 anos.
Perante este cenário, a Direita pode escolher ficar a lutar entre si, ou focar-se nos próximos meses em lutar por todos os votos possíveis, com máximo respeito pela identidade de cada partido. Mais do que nunca, teremos de convencer quem vota no PS a transferir o seu voto para a Direita, quem não vota a vir votar e quem perdeu a esperança, que perceba o momento crucial que estamos a viver. Penso que todos os partidos do espaço não-socialista deveriam concorrer a votos em pista própria, até por atravessarmos um grande momento de polarização. Alianças pré-eleitorais podem facilitar aritméticas à primeira vista, mas podem afastar potenciais eleitores deste espaço e por isso, dificultar aritméticas numa segunda vista. Reeditar uma solução com mais de 40 anos, peca por não responder à realidade dos tempos inéditos que vivemos. A Direita tradicional fragmentou-se em pelo menos 4 partidos: PSD, CDS-PP, CHEGA e IL. Apesar de ter muitas dúvidas sobre o posicionamento ideológico da IL, uma coisa todos os indicadores demonstram: hoje a Direita vale mais separada do que valeu congregada entre PSD e CDS durante muito tempo. É o tempo de explorar a fragmentação para que, no futuro, haja espaço à unidade. Linhas vermelhas? Se tivermos “adultos na sala”, todos concordarão no essencial: a grande linha vermelha tem de ser ao PS.