JFK é uma figura icónica, imortalizada na cultura e história americana pela coragem, carisma, misticismo, vida pessoal e até pelas doenças. A morte prematura – sobre a qual pairam incertezas e mistérios – deixa no ar uma série de “ses” e contribuiu para a mística criada em torno da sua figura.
Ao fim de seis décadas, o seu legado continua vivo e os seus ideais permanecem atuais.
De Brookline a Londres e de Londres a Boston
Kennedy nasceu a 29 de maio de 1917, em Brookline, no Estado do Massachusetts. Filho de Joseph P. Kennedy, um homem de negócios de sucesso que serviu posteriormente como embaixador americano em Londres, e de Rose Fitzgerald, uma fervorosa seguidora do catolicismo romano e filha de uma figura política de relevo em Boston, John Fitzgerald.
JFK teve uma juventude abastada e formou-se em Harvard – um bastião protestante anglo-saxónico (os WASP) – onde se licenciou em Governo, focalizado em relações internacionais, depois de uma curta passagem pela LSE e pela Universidade de Princeton, ambas encurtadas por motivos de saúde. Em Harvard integrou a equipa de futebol americano, onde contraiu uma lesão nas costas que o perseguiria até à sua morte.
De Tenente a Senador
Tendo crescido numa família em que os valores do patriotismo e da coragem eram imperativos, John F. Kennedy alistou-se no exército em 1941, durante a II Guerra Mundial, e serviu até 1945. Foi Tenente dos inovadores torpedos de patrulha – que o fascinavam – e foi um acidente no Pacífico que o fez regressar e ser condecorado. Na sombra do seu irmão mais velho, no qual o pai colocava grandes aspirações políticas, a possível morte na guerra era vista como uma vantagem política para Joe Jr. Mas JFK voltou a casa e o seu irmão acabou por falecer numa missão aérea. Começou então o investimento político no jovem Kennedy, ainda que contra a sua vontade. Queria ser jornalista e lecionar História. O pai determinado, ainda que descrente nas suas capacidades, começou a exercer a sua influência e a preparar JFK para as lides políticas. Kennedy torna-se Senador pelo Massachusetts deixando pelo caminho adversários de peso.
A chegada à Casa Branca
Já com alguma reputação e estatuto em Washington, John F. Kennedy anuncia a sua candidatura à presidência pelo Partido Democrata em 1960. Derrotou nas primárias Adlai Stevenson, Lyndon B. Johnson – o seu futuro vice-presidente – e Stuart Symington, o favorito do ex-Presidente Harry Truman. Numa longa e dura campanha, gerida pelo seu irmão Robert F. Kennedy e pelo seu redator de discursos Ted Sorensen, Kennedy conseguiu a nomeação democrata e enfrentaria o republicano Richard Nixon nas presidenciais. A sua juventude, aparência, carisma e aura de Hollywood – numa época em que a televisão passou a ser um fenómeno de massas – foram grandes propulsores da sua vitória eleitoral.
A presidência
A chegada dos Kennedy revolucionou em todos os aspetos a Casa Branca. Esteticamente, a redecoração e os frequentes jantares pomposos, organizados pela esposa, Jackie, atribuíram-lhes o estatuto de realeza americana. Politicamente, o recém-eleito Presidente desafiou o status quo do aparato governativo do país: queria manter um punho firme, principalmente nas agências de informação e na política externa, e para isso nomeou o seu irmão Bobby para a Procuradoria-Geral e escolheu um Secretário de Estado que não lhe colocaria entraves às suas ideias para os negócios estrangeiros.
A sua presidência fica marcada por altos e baixos, num paralelismo com a sua vida pessoal. O mandato começou da pior maneira com o desastre da Baía dos Porcos. Kennedy foi convencido a levar a cabo a operação que tinha como objetivo derrubar Fidel Castro, e se este episódio afundaria muitos líderes, não foi o caso. Num exemplo de liderança, o Presidente assumiu o erro. Porém, o problema não desapareceu e os seus desenvolvimentos colocaram o mundo à beira de uma guerra nuclear. Na infeliz Conferência de Viena, onde se reuniu com Krushchev, Kennedy saiu inferiorizado e subestimado pelo líder soviético, o que levou à colocação de mísseis em Cuba. A forma como lidou com esta crise foi o expoente máximo da sua presidência, evitando a guerra nuclear e engrandecendo a diplomacia. Internamente, foi o pai da Lei dos Direitos Civis, o maior passo para o fim da segregação e discriminação dos afro-americanos. A Lei seria aprovada já no mandato de Lyndon B. Johnson.
Mas um fator-chave, umas vezes esquecido e outras encoberto, é o impacto que as doenças tiveram no processo de decisão de Kennedy. O Presidente, para além do desconforto crónico nas costas, sofria da doença de Adison, e a forma como a enfrentava – recorrendo a quantidades elevadas de medicamentos e drogas – não lhe anestesiava apenas a dor, mas também a lucidez.
A morte e o legado
Trata-se provavelmente do assassinato mais mediático da história moderna e despertou várias teorias sobre o seu autor moral. Lee Harvey Oswald foi o culpado e, nos dias seguintes, detido e pronto para prestar declarações, foi assassinado em direto. Paul Landis, um agente dos serviços secretos presente naquele dia e que guardou uma bala presente na limousine presidencial, acredita que Oswald agiu sozinho. Mas numa entrevista ao jornal espanhol ABC declarou que para ele «(…) [a bala] prova que houve erros no relatório da Comissão Warren (destinada a investigar o assassinato). (…) Há questões que precisam de ser respondidas».
A desclassificação dos documentos, prevista ao fim de cinco décadas, ainda não aconteceu e suscita o sentimento de que houve intervenientes superiores na morte do Presidente.
Um democrata convicto e um dos pais da igualdade racial nos Estados Unidos, deixa um legado forte e admirável. Mostrou que a diplomacia é o caminho, e a sua abordagem não podia ser mais atual. JFK representava um Partido Democrata de ideias fortes, de progressismo racional e, apesar de ser um idealista, rejeitava a utopia. São valores que parecem à deriva no ideário democrata atual, guiado por uma onda de wokismo num dos períodos geopolíticos mais tensos deste século. Já não se fazem políticos como John F. Kennedy.