À medida que ouvimos os partidos, a propósito das próximas eleições, verificamos que todos têm consciência de quem vota e de quem não vota. Por isso, as suas propostas são dirigidas, prioritariamente, ao universo dos votantes habituais. Ou seja, a cerca de 60% dos adultos. Sabemos que quem mais vota são os ‘insiders’ – os eleitores mais velhos e os que dependem diretamente do Estado, seja pelo seu emprego ou o de um familiar próximo, seja pela sua pensão de reforma. É por isso que as propostas assentam, sem exceção, em maior garantismo por parte do Estado. Da direita à esquerda, dizem-nos que há que melhorar os serviços do Estado Social, garantir maiores salários na Administração Pública, distribuir reformas mais generosas. Não contesto a justeza de tais políticas: melhor seria se todos fossem bem pagos, se tivessem mais garantias, se os serviços públicos de que todos carecem fossem de qualidade. Mas sei que o inevitável aumento da despesa corrente que decorre destas medidas, tradicionalmente de esquerda, só é sustentável com ganhos de produtividade que garantam, por um lado, crescimento económico e receita fiscal no setor privado e, por outro, maior eficiência nos serviços do Estado. Se assim não for, qualquer receita para assegurar estas políticas exige um inexequível aumento da dívida e/ou uma extorsão tributária. Nesta luta de prebendas, desde a troika que o PS é o campeão que os outros tentam destronar, apenas oferecendo mais do mesmo. Quem conhece bem esta realidade são os ‘outsiders’ – os que menos votam, ou seja, os pequenos empresários; os trabalhadores por conta de outrem cujo emprego depende da sobrevivência das empresas onde trabalham; os que têm uma ocupação precária e rendimentos variáveis e incertos; os mais jovens do setor público, que veem as progressões tapadas pelos ‘insiders’ que dominam o movimento sindical. O filósofo Daniel Innerarity explica que «todos os partidos com pretensões a governar (…) enfrentam um dilema similar (…): a necessidade de escolher entre governar ou dramatizar os próprios princípios, entre parecer plausível para que os eleitores lhes confiem o governo de todos ou manter uma identidade que possam monopolizar na oposição, entre arriscar e procurar novas adesões ou assegurar a unidade da clientela habitual». Assim promete-se mais a quem já tem lugar à mesa do orçamento, mas pouco ou nada se oferece aos ‘outsiders’. A estes resta reclamar no silêncio indignado das redes sociais ou acantonar-se em lutas pela habitação e pelo clima, no combate ao racismo e à discriminação de género, em movimentos inorgânicos que correspondem a agendas justas mas sem impacto nas suas vidas, por serem fracionados ou por se desacreditarem pelo estilo de intervenção tantas vezes mais exibicionista do que convincente. Os ‘outsiders’ estão, pois, reféns de um círculo vicioso: não votam nas eleições, porque não sentem que haja quem os represente, e os partidos não o fazem por desvalorizar o seu voto relativamente inexpressivo. As mais recentes sondagens apontam para um grande número de indecisos entre os mais novos: é o prenúncio de mais uma enorme abstenção. Um dia surgirá um partido que, em nome dos jovens, reclamará o seu acesso a direitos iguais e exigirá que esse princípio de igualdade se sobreponha aos sacrossantos direitos adquiridos. A nossa democracia celebra 50 anos e precisa que quem ainda não tem essa idade se sinta representado.
Insiders e outsiders
Desde a troika que o PS é o campeão que os outros tentam destronar, apenas oferecendo mais do mesmo…