Portugal atravessa um momento complexo em que quase tudo é colocado em causa, fruto da perda de confiança das pessoas na classe política. A sucessão de casos no governo foi nefasta para a credibilidade dos políticos, mas a bem da verdade, os governos anteriores, de direita e de esquerda, também contribuíram imenso para chegarmos até aqui.
A propósito disso, não sei se ria ou se chore, ao ler um artigo de opinião desta semana, do ex-Presidente da República e ex-Primeiro Ministro, Professor Cavaco Silva. Ao ler o seu escrito, vinham-me à memória os seus governos e os seus mais próximos, como o ex-Ministro Dias Loureiro, o ex-Secretário de Estado Oliveira e Costa ou o seu líder parlamentar Duarte Lima, entre outros.
Este artigo, é um exemplo elucidativo de como a classe política vê os Portugueses, julgando-nos a todos ignorantes, permissivos, acomodados e sem memória. Esse, é um dos grandes problemas, o menosprezo pela inteligência das pessoas, o descaramento com que o demonstram e posteriormente, a forma como as pessoas reagem a essas afrontas, “comem e calam”.
Bem sei que nem tudo foi mau nos governos de Cavaco Silva e que apesar de não serem de boa memória, a seguir os Portugueses elegeram-no Presidente da República. Portanto, é legitimo dizer-se que a maioria dos Portugueses gostavam de Cavaco, tal como é legitimo dizer-se que gostavam de Sócrates ou de Costa.
Foram as opções dos Portugueses, boas ou más, numa democracia o povo é soberano e os políticos eleitos acabam por ser o reflexo de quem os elege. A falta de exigência, a cegueira partidária e o alheamento dos problemas reais do País, trouxeram-nos ao ponto em que nos encontramos, porque contribuíram para a construção de um terreno fértil para o parasitismo, a incompetência e a desonestidade vigentes.
Regressando ao artigo de Cavaco Silva, foi uma mãozinha que pretendeu dar à provável coligação do PSD com o CDS que Cavaco sempre rejeitou enquanto líder do PSD, num período em que Portas que lhe tinha feito a vida negra no Independente, ironia do destino, é o mesmo Portas que está a colaborar no processo dessa coligação pela parte do CDS. É a tal falta de memória conveniente e que descredibiliza o sistema político-partidário.
Mas eu e muitas outras pessoas como eu, temos memória, sou de direita e nunca votei Cavaco, independentemente do partido onde militava o ter apoiado nas eleições para a Presidência da República, porque nunca esqueci os seus governos e porque não faço parte do grupo dos que “comem e calam”.
É por essa mesma razão que agora demonstro o meu repudio publico ao artigo de Cavaco Silva, não tanto pelo conteúdo, mas pela falta de moral do autor para o escrever. Não tanto pelo conteúdo, mas pelo descaramento com que o escreve. Não tanto pelo conteúdo, mas pelo menosprezo demonstrado pela memória dos Portugueses.
Ao contrário do que muitos pensam, a envolvência de Cavaco Silva nesta campanha, pode implicar uma perda de votos para a provável coligação PSD/CDS.
Só me ocorre dizer, por qué no te callas?