Hoje tudo merece ser fotografado. Das viagens aos momentos mais absurdos, como uma imagem na rua só para anunciar a alguém que vamos a caminho. Não invariavelmente para confirmar que já estamos em marcha. Ou simplesmente para justificar algum atraso – ”tudo parado no Viaduto Duarte Pacheco“ – como sempre, aliás, mas a fotografia já se sabe, é obrigatória e por isso lá vai ela. E o mesmo acontece quando se vai jantar fora: que não falte bateria no telemóvel e que os esfomeados não tenham a ousadia de lançar um garfo ao prato antes de ser conseguido o melhor retrato do bacalhau com broa em cama de legumes. Mas com tantos momentos dignos de registo, só é de estranhar quando estranhamos o aviso que acaba sempre por chegar: “memória do telemóvel cheia”. E quando o funcionamento do smartphone começa a ficar em causa lá percebemos a razão: além das várias aplicações que se vão tornando uma coleção, muitas delas em que nem sequer tocamos, o ícone que indica a galeria do telefone costuma também ter a resposta para o problema: são milhares de imagens e vídeos, normalmente em série (não esquecer que cada momento representa pelo menos 15 tentativas). Muitas delas, olhando mais tarde, são facilmente descartáveis. E quando se quer encontrar uma imagem em concreto, a missão pode tornar-se heróica. O que torna tudo ainda mais anedótico. Mas o verdadeiro problema é quando o simples ato de fotografar passa a ser uma atividade perigosa. É recorrente presenciarmos casos em que os avisos de segurança, as grades ou baias que pretendem delimitar certas zonas, são como pentes para carecas. Há dias, uma mulher caiu de uma arriba na praia de São Pedro, no Estoril, ao que tudo indica, enquanto tirava fotografias. Se há imagens que valem mais do que mil palavras, não há fotografia que mereça a pena quando se coloca a vida em risco: seja no sítio mais bonito da Linha de Cascais ou do Mundo.
Fotografar tudo e muito
Se há imagens que valem mais do que mil palavras, não há fotografia que mereça a pena quando se coloca a vida em risco: seja no sítio mais bonito da Linha de Cascais ou do Mundo.