0s nossos filhos saem de casa tarde: a média de idade na União Europeia é 26 anos e os nossos meninos só abandonam o lar pelos 30. Diz que houve uma melhoria: em 2021, Portugal era o país onde os “jovens” saíam mais tarde de casa dos pais: aos 33,6 anos. A comparar com os nossos, só os filhos dos croatas, gregos, búlgaros, espanhóis e italianos. Já as crias dos países gélidos, como a Suécia, Finlândia, Dinamarca, Alemanha ou Estónia, fogem ou são expulsos mal dobram os 20 aninhos.
Vários estudos elaborados que analisam este fenómeno lusitano apontam como várias as causas: as precárias condições financeiras, o preço das casas, a ausência de ordenados decentes e até uma questão cultural. No entanto, esta não é uma realidade nova, mas uma tendência que as circunstâncias se encarregaram de agravar. Hoje é pior, mas sempre foi assim.
Estes jovens, que saem de casa dos pais depois dos 30 anos, não são jovens, são homens e mulheres com idade para serem donos das suas vidas, de uma casa e de sustento próprios. Pessoas formadas a todos os níveis: académico, personalidade, caráter, gostos e ambições. Com 30 anos, estão no apogeu das suas capacidades, competências e energia. Ainda não têm medo de arriscar e já têm sabedoria suficiente para o fazer. Mas por continuarem a viver na casa que os viu crescer, adiam tudo. Adiam constituir família, iniciar projectos, começar uma vida só deles. Adiam o dito risco.
A vida não está fácil para os nossos jovens. Mas eu tenho uma teoria sem qualquer base científica. A minha teoria é que a mais bem preparada geração de sempre é uma geração de meninos dos papás. Se eu fizesse parte desta geração não havia força da natureza que me tirasse de casa dos meus pais. Para quê e porquê? Em casa dos pais há tudo o que querem e fazem tudo o que lhes apetece. Carro, wi-fi, contas pagas, comida, cama, roupa lavada. Alguns ainda levam semanada. Mais: já não têm idade para dar satisfações e ninguém se atreve a pedi-las. Por onde andaram, com quem, a que horas chegaram, o que fizeram, são perguntas que não se fazem a homens e mulheres de 30 anos. É invasão de privacidade e a violação de um direito constitucional. Os hábitos dos nossos velhos jovens também são religiosamente respeitados. Eles jogam Playstation quando querem, comem os mesmos cereais desde os 12 anos e já se habituaram a não pendurar a toalha de banho.
A origem deste fenómeno que lhes atrasa a vida e arruína as finanças dos pais, não é dos nossos meninos. A culpa é do país que não lhes dá condições para crescerem e das mães e dos pais que não vivem sem eles. Ou melhor, que só vivem para eles. Um filho sair de casa é como arrancar os sisos a sangue frio a um pai ou como amputar os braços a uma mãe portuguesa. Os pais portugueses são dependentes dos filhos, os quais crescem a serem servidos numa espécie de suborno para não abandonarem o lar. São os pais latinos que precisam dos filhos e não o contrário. Podemos encontrar inúmeros motivos para explicar as razões que levam os nossos filhos a ficar em casa até aos 30 anos, mas a verdade que se os pais os encaminhassem para a saída, com jeitinho e muito amor, eles iriam mais cedo. E, com toda a certeza, conseguiriam ter mais sucesso que a média dos jovens da UE. Como se vê quando eles decidem emigrar.