Para o nosso pequeno mundo político-mediático, o espetro político caseiro é sui generis. Ele estende-se da esquerda ao centro-direita, segue-se um inexplicável vazio e depois a ‘extrema-direita’. Vejamos: temos dois partidos, o BE e o PCP, um trotskysta e o outro estalinista, ambos totalitários, ou seja, de extrema-esquerda. Contudo, em Portugal, nenhum jornalista, ou comentador os situa nessa área. Pudicamente, o sistema situa-os na esquerda democrática, consensual e conversável. A essa extrema-esquerda, oculta sob o manto diáfano da esquerda, seguem-se a esquerda socialista e democrática do PS e o centro-esquerda e centro-direita ocupados pelo PPD/PSD. E, daí, salta-se para uma mítica ‘extrema-direita’ onde se tenta enfiar o partido liberal e conservador que, pelo seu programa e pela sua práxis política é, indiscutivelmente, o Chega. Ignorância? Não: má-fé. Resumindo: temos dois partidos totalitários a quem justamente cabe a etiqueta de extrema-esquerda mas rotulados de esquerda e um partido que é o contrário de um partido totalitário de direita, mas rotulado de extrema-direita. E, não, não me esqueci do bizarro fenómeno político que é a IL. João Cotrim disse e repetiu que a IL não era um partido de direita. Nunca foi desmentido por nenhum dos responsáveis da IL. Pertence a um partido do Parlamento europeu que declaradamente se situa no centro-esquerda. Quando das últimas legislativas, quis que o seu lugar no parlamento se situasse entre o PSD e o PS e só não o conseguiu porque o PSD, cioso dos seus pergaminhos de centro-esquerda, a isso se opôs. Tudo isto é uma verdade assente e objetiva. Mas a comunicação social, comentadores e os restantes partidos insistem em colocar a IL na direita e a IL finge que não vê, ou que não percebe. Ora, que a IL não é de direita, fica bem claro pelas suas posições nas vitais questões de sociedade. Como claro fica, também, pela arrogância moral e intelectual que demonstra no Parlamento, nos debates e entrevistas, bem próxima daquela que é a imagem de marca do BE. E a pergunta a fazer é esta e apenas esta: por que razão se tenta incluir a IL à força na área política da direita quando a própria IL não aceita situar-se nesse segmento do espetro político? Contudo, esta ambiguidade já está a custar à IL a sua sobrevivência política. Chegados os tempos do voto útil, os eleitores não votam em animais mitológicos, mas no comezinho, no pão-nosso-de-cada-dia. Na sereia política que é a IL, os sonhadores escolherão a mulher, os realistas apostarão no peixe. Sem estados de alma. As sereias colhem nos livros infantis, nunca nos boletins de voto. Os 5% da última sondagem da Aximage são uma lição de vida. E de estratégia política. Por fim, o caso das gémeas alegadamente protegidas por Belém. A confirmar-se uma intervenção direta de Marcelo Rebelo de Sousa, será o desastre total, o ruir do último pilar do regime que se mantinha de pé, ou seja, o fim do próprio regime. Talvez os portugueses, então, entendam aquilo que o Chega quis dizer quando, há três anos, defendeu a necessidade de uma IV República, frente à óbvia falência da terceira. Os sinais já, então, estavam todos lá. O Chega teve a capacidade de os entrever e a coragem de os apontar. Uma tragédia? Não, os franceses já vão na V República, sem sobressaltos. Assim são as democracias, elas encontram dentro de si próprias a força para se renovarem.
A necessidade de uma IV República
Por que razão se tenta incluir a IL à força na área política da direita quando a própria IL não aceita situar-se nesse segmento do espetro político?