Os dias passam e parece que o ambiente de irresponsabilidade, de impunidade, de “sem vergonha” e de inoperância permanece. Escolho cinco temas para demonstrar a que me refiro.
- Novo aeroporto de Lisboa – se nos lembrarmos de que a discussão à volta da localização do “novo” aeroporto da capital do país já vem desde a década de 70, a única conclusão que devemos tirar é que, em matérias estratégicas, de que esta é um exemplo, o TGV outro, o país estuda, estuda, estuda, mas não decide. Ou, se decide, logo a seguir é questionado por outrem. Por palavras simples, passa a “batata quente” de uma mão para a outra – de Governo em Governo – cria grupos de trabalho, comissões técnicas independentes, ausculta autarquias e populações… e nada sucede! Haverá neste país alguém que conheça o custo de todos estes estudos técnicos, de consultoria de localização de infraestruturas, de pareceres jurídicos, do tempo de trabalho de quem neles participou? E de quanto perdeu Portugal por não ter ainda decidido em definitivo (passe o pleonasmo), permitindo-se por tantas dezenas de anos ter um aeroporto com localização bem conveniente para nós, lisboetas, mas que está a “rebentar pelas costuras” e a provocar índices de poluição atmosférica e sonora difíceis de suportar?
- A informalidade ou a cunha – um Governo, qualquer que ele seja, que se permite não legislar sobre o lobbying e legalizá-lo, não registar todos os contactos/reuniões entre políticos e cidadãos, admitir que uma indemnização a atribuir a um alto quadro duma empresa pública seja “aprovada” por whatsapp; deixar que um Chefe de Gabinete do Primeiro-Ministro tenha guardado (escondido) na residência oficial, em livros ou caixas de vinho, um valor pecuniário apreciável; permitir que parte da tramitação administrativa dum processo de tratamento (e naturalização prévia) de duas pacientes gémeas fosse acelerada com a aparente intervenção dum ex-Secretário de Estado; que o “Dr. Nuno Rebelo de Sousa, meu filho” recorresse ao seu pai para o mesmo fim, todos esses são exemplos do que não deveria suceder sem a indignação generalizada e a consequente “penalização”. Sim, todos nós, aqui e ali, já recorremos a um amigo para nos facilitar a vida, para evitar a burocracia que nos asfixia diariamente (porque muita coisa funciona au ralenti) mas nós não estamos na política, nem exercemos cargos públicos. E recordo o que o próprio ainda PM, em 2016, referiu – “Nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo!”
- O novo grafismo do Executivo – confesso que pouco mais tenho a dizer sobre este tema que não seja utilizar o adjetivo ridículo para esta decisão de modificar a representação gráfica do Executivo para um símbolo como o que foi selecionado. Por mais justificações “técnicas” que possam ser dadas no Manual de Identidade Visual, que tive o cuidado de ler, não consigo perceber como se afirma a nova imagem como “inclusiva, plural e laica”. De facto, há momentos em que sinto que estão objetivamente a gozar com o pagode, desculpem-me a expressão!
- O respeito pelo cliente e contribuinte – sabiam que um carteiro que tenha um objeto registado para nos entregar não é obrigado a ir além do terceiro andar dum prédio? Sucedeu-me há dias – não me foi entregue em casa uma carta da EMEL (notificação normalmente de conteúdo desagradável) supostamente por não estar ninguém em casa, o que não correspondia à realidade. Tive, por isso, que me deslocar no dia seguinte a uma estação dos CTT para levantar a carta, dizendo à funcionária que não estava ali de bom grado, tendo explicado porquê. Resposta dela “Isso é um flagelo! Não calcula a quantidade de pessoas que se queixam do que me conta!”. E foi ela quem me pôs ao corrente desse alegado procedimento em vigor nos CTT: acima do terceiro andar bem podem os destinatários estar à espera que o objeto lá chegue! Mesmo que já haja elevador…
- O tédio – os principais canais da televisão portuguesa desde há muito que entraram num frenesim de repetição após repetição das mesmas notícias, colocando as mesmas questões sobre os mesmos temas aos mesmos especialistas. Ad nauseam… A única coisa que sofre ligeira alteração é a expressão do pivot quando a resposta não corresponde à sua linha de pensamento ou não aprecia a côr política do entrevistado que convidou. Neste tempo pré-eleitoral, quantas vezes já se ouviu questionar os responsáveis dos partidos sobre os futuros desígnios para Portugal, sobre os modelos de desenvolvimento, sobre a sua posição face ao impacto de grandes negócios como o lítio ou o hidrogénio?
Proibir? Nunca. Mas, felizmente, podemos sempre carregar no botão e desligar.