Nuno Artur Silva queria ter programa na RTP3

Parecer jurídico pedido pelo Conselho de Administração da estação pública conclui que ainda é cedo para ex-secretário de Estado poder voltar a ser contratado.

O ex-secretário de Estado, Nuno Artur Silva, quis voltar à televisão com um programa na RTP3, sabe o Nascer do SOL. O ex-governante chegou mesmo a negociar com a direção de Informação da estação pública, liderada por António José Teixeira, e o Conselho de Administração, tendo este pedido um parecer jurídico sobre a eventual incompatibilidade ou conflito de interesses. E o parecer jurídico foi afirmativo.

Assim, por agora, Nuno Artur Silva não pode ter um programa na estação pública, facto que o próprio diretor confirmou internamente.  O Nascer do SOL tentou uma reação da RTP mas não foi possível até ao fecho desta edição.

Recorde-se que, antes de ser secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Média, Nuno Artur Silva foi administrador da RTP de 2015 a 2018. Além disso, esteve à frente das Produções Fictícias que chegou a vender programas à RTP. Na televisão, passou ainda pelo Canal Q.

Pressões?

Este caso surge numa altura em que a RTP volta a viver tempos de mal-estar, designadamente depois do conflito entre a jornalista Joana Santos e a diretora-adjunta Joana Garcia. Em causa está um texto iniciado por vários jornalistas e reenviado pela jornalista para um grupo de Whatsapp de trabalhadores do país inteiro da estação pública, onde a jornalista destaca a greve realizada pelos trabalhadores “pelos salários e pelos reenquadramentos”, garantindo que existe “por parte de diretores e administradores ameaças de processos disciplinares contra alguns grevistas”.

Apesar de nunca referir quem são os diretores e se era a própria jornalista a sofrer essas ameaças, recebeu um email de Joana Garcia que tentou perceber quem eram os diretores e se a jornalista sentia essas pressões. 

Na troca de emails, a que o Nascer do SOL teve acesso, Joana Garcia faz várias questões, como se a jornalista se vê ameaçada, quem são os diretores, por que não comunicou esses casos e sobre aquilo que chama de ‘movimento’. E questiona: “Consideras que a plenitude dos teus direitos fundamentais está coartada no exercício da tua função como jornalista da RTP? Porquê? O jornalismo que fazes não é livre, independente e sem pressões?”. 

Joana Santos responde num longo email, onde começa por explicar não se tratar de um ‘movimento’ mas sim de uma carta por um “jornalismo livre e com direitos”. E atira: “Terás de concordar que receber estas perguntas sobre coisas que nunca afirmei, recebê-las da minha diretora, recebê-las por escrito e com cópia para a DI e para toda a equipa de coordenação do online poderá ter esse efeito”.

Quem já se pronunciou sobre o assunto foi a Comissão de Trabalhadores, que, em defesa da jornalista, refere que o único ponto em que a diretora podia ter razão é o de referir que, não dizendo quais são os diretores que exercem a pressão, poderia ser qualquer um. E a CT acrescenta: “Referíamo-nos ao diretor Luís Silveira e ao subdiretor Rui Matos”.