Os quatro à esquina a cantar o só-li-dó…

Bela jornada esta entre os quatro primeiros da tabela: Braga-Benfica e Sporting-FC Porto!

Entre domingo, em Braga, pelas 20h30, e segunda-feira, em Alvalade, pelas 20h15, na frente do campeonato é possível que haja algo de novo, embora também seja muito possível que continue tudo na mesma como a lesma, esse molusco gastrópode, ainda por cima hermafrodita, que calhou a jeito para o ditado popular que percorre o país de lés-a-lés, lá do alto de Lamas de Mouro aos cafundós de Monte Fino, com exceção de Abrantes onde preferem fazer anexins com o quartel-general.

Braga-Benfica e Sporting-FC Porto: eis dois jogos que juntam os quatro da vida vida airada, repetitivamente o quarteto que termina o campeonato na frente, variando a classificação de cada um. Veremos quem tem artes para tocar concertina e cantar o só-li-dó, tão curiosa peça musical composta por apenas duas notas, e sair desta embrulhada com alguma vantagem sobre os restantes. A verdade é que apenas três pontos separam os dois primeiros da classificação (FC Porto e Sporting com 31) do quarto (Braga com 29), estando o Benfica solitariamente dependurado em terceiro com 30. Ou seja, tudo pode ficar virado do avesso no espaço curto de 24 horas, sendo apenas impossível que os minhotos cheguem ao primeiro posto já que leões e dragões vão ter de fazer pontos, pelo menos um deles ou ambos.

Quando as orelhas de Herr Schmidt ficaram a arder no momento de fazer as primeiras substituições na última jornada, frente ao Farense, voltando a perder dois pontos contra um dos chamados pequenos, uma expressão ligeiramente embirrenta que o nosso léxico futebolístico engoliu, ninguém imaginaria que tudo seria menos grave do que parecia à primeira vista. Dirão os benfiquistas mais empedernidos que se estão a quilhar para contas de somenos e que os quatro pontos perdidos consecutivamente face a Moreirense e Farense davam para que o seu clube estivesse de cadeirinha no primeiro lugar da tabela. Têm razão, evidentemente, não é preciso aplicar aqui nenhuma teoria euclidiana. Mas quando se assa o porco, ao menos que não arda a casa. E a casa do treinador alemão ainda não ardeu. Sporting periclitante “Ó inclemência! Ó martírio! Estará porventura periclitante a saúde desse querido menino que eu ajudei a criar!”, soltava aquela fascinante personagem de O Pai Tirano do fundo dos seus pulmões. Sim, está periclitante este Sporting que Rúben Amorim tanto ajudou a criar, incapaz de aguentar, na Luz face ao Benfica, e em Guimarães, frente ao Vitória, duas vitórias que pareciam ser suas. E, com tais resultados, ao invés de estar tranquilamente na frente, viu o FC Porto colar-se-lhe aos calcanhares e vai ter o berbicacho de procurar na segunda-feira deixar os azuis-e-brancos novamente para trás.

É minha convicção que o resultado do jogo da véspera vai mexer com a forma como os dois treinadores encararão o início da partida. O Benfica parece ter recuperado alguma qualidade de jogo, volta a ter um ritmo ofensivo parecido com o da época passada (com a diferença de que não tem quem faça golos como Gonçalo Ramos) e trouxe de Salzburgo uma dose acrescida de confiança, o que não deixará de provocar ao Braga arrelias com que há duas semanas não contaria. Se essa melhoria for suficiente para o fazer vencer na Pedreira, tenho ideia de que tanto Sérgio Conceição como Rúben Amorim serão mais cuidadosos na abordagem ao seu duelo particular, talvez pensando que um empate possa ser um resultado interessante, deixando a molhada quase intocável (nesse caso o Braga cairia do poleiro).

Mas, claro!, os jogos de futebol também têm muito de melancias e é preciso abri-los para sabermos com certeza o que lá está dentro. Um erro, uma falha, um golos caído dos céus aos trambolhões, muda por completo os acontecimentos. E aí, cada um terá de puxar pelo bestunto de forma a resolver os problemas que lhe surgirem pela frente. Promete este campeonato ser bem mais renhido do que o anterior e estamos a chegar a janeiro e à tal fase das das transferências que podem alterar a face de qualquer conjunto. Rui Costa já se posicionou para conduzir o Benfica ao mercado e ninguém esconder a urgência de um lateral-esquerdo e de um fulano que faça golos com regularidade e não apenas um de vez em quando. Até agora, FC Porto e Sporting têm estado calados o que pode significar que ou gastaram tudo o que tinham para gastar no início da época ou que estão contentes com os plantéis de que dispõem. Só que o mercado tem a porta de entrada e a porta de saída, e também ninguém garante que algum jogador esteja, neste preciso momento, no cadernos de aquisições de algum daqueles clubes da Europa cujo dinheiro lhes corre para fora dos bolsos. Nesse caso, talvez valha a pena esperar para fazer análises mais concretas para o resto de competição que aí vem.