A votação que teve início no domingo e terminou na terça-feira – e cujos resultados serão revelados no dia 18 –, ao que tudo indica, vai conceder um terceiro mandato consecutivo a Abdul Al-Sisi. Após uma alteração constitucional proposta pelo chefe do Executivo, o mandato, que tinha a duração de quatro anos, passará a seis.
Uma inflação próxima de máximos históricos, a escassez de moeda estrangeira e a guerra entre Israel e Hamas não serão obstáculos que impeçam o líder egípcio de continuar em funções, avançou a Reuters. As eleições decorrem num período instável, mas o conflito em território vizinho coloca na sombra as dissidências internas.
O regime de Al-Sisi
Visto pela maioria da população egípcia como um salvador, o único capaz de resgatar o país do caos político em que se encontrava parece não estar a corresponder às expectativas iniciais e a economia é o principal fator. Com uma inflação a rondar os 40%, a crise aprofunda-se e o entorno geopolítico, novamente desestabilizado, em nada veio ajudar.
A ascensão de Al-Sisi é explicada pelo desastre criado pelos antecessores, a Irmandade Muçulmana, que chegou ao poder após a Primavera Árabe de 2010/2011 e dividiu o Egito com a tentativa de implementar uma constituição árabe fundamentalista. O momento conturbado fez com que o apoio à Irmandade Muçulmana diminuísse consideravelmente, e a chegada de um líder muçulmano moderado foi vista com bons olhos. Al-Sisi – que primeiro serviu como presidente interino após o golpe de estado que destituiu Mohamed Mursi – tornou-se Presidente após vencer as eleições em 2014.
As promessas de desenvolvimento económico foram cumpridas numa fase inicial, com o crescimento do PIB egípcio para 5%. A ajuda externa, principalmente da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos – que partilham o receio do crescimento de movimentos fundamentalistas – foi também um balão de oxigénio para a economia do Cairo. Porém, o regime do Presidente egípcio tem apresentado tiques autocráticos: a prisão de jornalistas, os ataques ao sistema judicial, a reforma que alterou a longevidade do mandato presidencial – e que lhe permitirá exercer um terceiro consecutivo – e a tentativa de afastamento dos principais opositores têm sido os assuntos mais delicados do período governativo que conta já nove anos.
Nas mais recentes eleições, o principal candidato da oposição desistiu da corrida presidencial, alegando ter sofrido ameaças. Al-Sisi defrontou apenas candidatos pouco conhecidos da população egípcia.
Os espinhos do terceiro mandato e a posição em Gaza
O Presidente do Egito terá seis anos de mandato, caso se confirme a vitória, que prometem não ser tranquilos. A decadência económica e social, juntamente com a guerra em Gaza – na qual o Egito tem um papel fundamental – serão as dores de cabeça de Al-Sisi.
A rejeição ao acolhimento de refugiados palestinianos não espelha apenas a posição egípcia quanto ao conflito, mas também as feridas profundas deixadas pelas ações da Irmandade Muçulmana. Al-Sisi teme o fortalecimento do fundamentalismo islâmico, que contribuiria para uma maior divisão social e até poderia pôr em causa a sua permanência no poder.
O Presidente será ainda um dos principais players no futuro da região, uma vez terminado o conflito. Sendo um aliado histórico do povo palestiniano e tendo estabelecido relações amigáveis com Israel, o Egito poderá ser um ponto de equilíbrio fundamental para o ‘dia seguinte’. O país tem sido também apoiante de um cessar-fogo em Gaza.
Caso se confirmem as previsões, Al-Sisi terá uma tarefa difícil, mas à qual vem associada uma oportunidade histórica: ficar imortalizado como um dos arquitetos do processo de paz – caso seja possível – e da restruturação do tabuleiro geopolítico no Médio Oriente.