A P21 Motorsport organiza a Porsche Sprint Challenge Ibérica, uma competição monomarca onde os melhores sobressaem ao volante do 911 GT3 (450 cv), carro que exige uma condução apurada e, em troca, dá sensações únicas aos pilotos. São seis fins de semana cheios de muita adrenalina, grande espetáculo e algumas boas surpresas como é o caso da presença da piloto Francisca Queiroz.
Com apenas 17 anos, Kika, como é carinhosamente tratada no paddock, está a surpreender no ano de estreia naquela que é uma das competições mais exigentes e difíceis realizadas na Península Ibérica. Calma e divertida fora das pistas, quando veste o fato de competição e coloca o capacete muda de registo e torna-se competitiva e destemida.
A piloto bracarense é a primeira mulher a competir na Porsche Sprint Challenge e a subir ao pódio depois de ter terminado a corrida realizada no circuito espanhol de Motorland na terceira posição da categoria 991.1. Foi um resultado fantástico conseguido na segunda corrida que disputou. Voltou a subir ao pódio com o segundo lugar conquistado em Jerez de La Frontera na penúltima corrida da época.
A jovem Kika começou a correr de karting em 2020. Sem qualquer experiência de competição, impressionou no ano de estreia ao conquistar o título nacional na categoria de júnior feminina. No ano seguinte sagrou-se campeã nacional na categoria sénior e começou a competir de karting no estrangeiro, com participações em Espanha e Itália. A partir daí foi sempre a evoluir até chegar ao troféu Porsche. O enorme potencial do 911 GT3, um carro que nasceu para as corridas de pista, não a intimidou. «Foi o primeiro ano nos carros, por isso ainda estou num processo de habituação. É um mundo completamente diferente. No karting, parece-me tudo pequeno, no Porsche é tudo enorme e não tinha bem a noção das dimensões do carro», disse Francisca Queiroz, que admitiu que «no início tinha um pouco de receio, porque não conhecia o carro e não fazia ideia do seu comportamento». «Isso criou-me alguma ansiedade, mas com o passar das voltas ganhei confiança», e surpreendeu com uma comparação curiosa: «Até parece ser mais fácil do que o karting, que exige bastante fisicamente e onde há mais empurrões em pista. Além disso, estamos muito próximos do chão e levamos com o vento na cara», contou.
Além de competir na Porsche Sprint Challenge, Francisca Queiroz disputa também o campeonato nacional de karting, o que é uma importante ajuda. «Deu-me as bases necessárias para andar no 911 GT3, no karting aprende-se a ter a noção de trajetória e a saber controlar a derrapagem. Anda-se muito de lado e temos de saber controlar esse efeito para não fazer piões, essa experiência ajudou-me muito na condução do Porsche», disse quem sabe. Onde não há qualquer ponto de comparação é na velocidade entre um karting e um 911 GT3, que acelera de 0 a 100 km/h segundos e atinge 310 km/h. Foi com a maior naturalidade que confidenciou: «Isso não me assusta».
Bem recebida
A Porsche Sprint Challenge tem quatro provas em Espanha e duas em Portugal, e o programa de cada evento é composto por treinos livres, qualificações e duas corridas de 28 minutos com partida lançada, mais uma volta. É disputada por quase duas dezenas de pilotos de diferentes gerações, e a adaptação foi bastante fácil, como nos disse Kika. «Fui muito bem recebida, são todos muitos simpáticos comigo. Em pista, correu tudo bem, nunca tive nenhuma situação complicada com outro piloto».
É o primeiro ano que corre em automóveis, mas já tem ideia clara do que quer fazer no futuro. «Já experimentei os fórmulas, mas não é isso que quero. Prefiro os GT, para o ano vou continuar com o Porsche e no campeonato nacional de karting». O objetivo é sagrar-se campeã nacional absoluta e não apenas na categoria feminina, e deixou uma dica: «O sonho era fazer as 24 Horas Le Mans».
O apoio dos pais foi, naturalmente, fundamental. «Têm sido extraordinários e estão presentes em todas as corridas», mas há quem sofra bastante nos bastidores: «A minha mãe está nos circuitos, mas não vê as corrias. Está nas boxes a ver os tempos, mas não assiste às provas».
Francisca Queiroz está a estudar, pretende tirar o curso de gestão, e as corridas não interferem no seu dia a dia. «Faço uma boa gestão do tempo para não perturbar os testes e as avaliações», e foi por isso que falhou uma corrida esta temporada. Fora das corridas tem a vida social própria dos jovens. «Tenho sempre os amigos por perto, embora por vezes tenha de abdicar da sua companhia para ir treinar. Eles apoiam-me muito e acompanham as minhas participações. Consideram-me uma princesinha e nunca imaginaram que estivesse a fazer uma competição destas», confessa.