Querida avó,
A cabei de ler um artigo que fala da cantora, norte-americana, Breenda Lee. Refere que acabou de entrar para a história, pois o clássico Rocking Around the Christmas Tree atingiu o primeiro lugar no top americano, 65 anos depois do lançamento, imagina.
Como sabes, cá em casa começa-se a ouvir músicas de Natal a partir de meados de novembro. Os CDs do Michael Bublé, da Celine Dion, da Sia, da Diana Krall e, como não podia deixar de ser, o Merry Christmas, da Mariah Carey (que celebra 30 anos no próximo ano), rodopiam no leitor de CDs como se não houvesse amanhã.
Last Christmas, dos Wham, foi lançado em 1984. Não hei de sentir o peso da idade… A canção e o “clip” (teledisco, como se dizia na época) marcaram a minha geração.
Claro que também oiço os “clássicos” como Jingle Bells, canção que nem sequer foi escrita a pensar no Natal, mas sim nas célebres corridas de trenós do séc. XIX, em Massachusetts, assim como Stille Nacht (Noite Feliz), canção que parou a 1.ª Guerra Mundial, e tantas outras que fazem parte das nossas memórias natalícias.
Tradição também é assistir ao Natal dos Hospitais. Programa de televisão que se realiza todos os anos em parceria com a RTP e o Diário de Notícias, onde trabalhaste tantos anos.
Esta iniciativa teve início em 1944, pelo jornal Diário de Notícias, para trazer um sorriso às pessoas que estão nos hospitais durante o Natal. Começou a ser transmitido na RTP em 1958, com a apresentação de Henrique Mendes e de Beatriz Costa, tornando-se assim no programa de entretenimento mais antigo da RTP.
A partir de 1980 ganhámos mais um clássico de natal, com a canção A todos um Bom Natal do Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras que fechava sempre o Natal dos Hospitais.
Este ano não sei se teremos Natal dos Hospitais, com tanto Hospital fechado e com a crise que está no Grupo que dirige o DN.
Bjs
Querido neto,
As saudades que tenho dos trabalhos que fazia, ano após ano, no Natal dos Hospitais.
As pessoas que se refastelam num sofá a ver o Natal dos Hospitais, na RTP 1, nem sonham o trabalho que isso dava aos jornalistas há uma data de anos. E no Diário de Notícias era sempre eu que o fazia. Era gravado, mas depois transmitido como se fosse em direto. Aquilo nunca mais acabava, “e agora vamos repetir porque aquela artista tropeçou à entrada”, “e agora vamos repetir porque aquele cantor engasgou-se”, etc..
Tinha de chegar com grande antecedência ao Hospital onde ele era realizado – para falar com o realizador, e ele dar-me algumas indicações. E ver se os artistas intervenientes já lá estavam (num cubículo, a serem maquilhados), e dizer-lhes quando cada um entrava e o tempo que cada um tinha.
É claro que às vezes, com aquela espera toda, alguns já iam, como dizer…, um pouco alegres. Lembro-me sempre de uma, muito conhecida, que, antes de entrar, bebia uma data de chávenas de “chá de tília” («este chá acalma-me muito», dizia sempre)… e depois eu tinha de a segurar, pelas costas, para ela não cair… Mas cantava sempre muito bem, lá isso cantava, e como era muito conhecida (não, desculpa lá mas não digo o nome…) era sempre a última a cantar.
Tenho uma fotografia que o meu colega fotógrafo do DN me tirou, com um ar muito chateada, a olhar para o relógio e cheia de papelada nas mãos.
Depois era chegar ao jornal e ainda escrever aquilo tudo, e escolher as fotografias, e todos os intervenientes tinham de aparecer numa fotografia, e escrever as legendas…Enfim, um dia e uma noite a trabalhar.
Nunca mais me esqueci daquilo.
Mas olha, às vezes até tenho saudades daqueles tempos.
Hoje tudo é diferente.
Assim que souberes o dia, e a hora, da transmissão deste ano avisa a avó, por favor.
Não comas demasiados doces de natal.
Bjs