Tinha voo, na quinta-feira de há duas semanas, às 7h25, da TAP para Barcelona; chegou ao aeroporto da Portela às 6h, com uma hora de antecedência, mas as filas eram intermináveis.
«Consegui passar a segurança, mas fui a correr para a porta de embarque e já estava fechada. A fila simplesmente não andava e a rapariga da porta de embarque também não facilitou. Depois, disseram-me que haveria um voo a seguir e pediram-me que fosse ao balcão da TAP. Fui para o átrio principal do aeroporto e tive de dar uma diferença de 90 euros por cada passageiro, pois estava a viajar com o meu marido, e conseguimos embarcar no voo seguinte», explica Joana Guedes ao Nascer do SOL. «Já correu melhor, não houve a espera imensa da primeira vez. A parte da segurança está, sem dúvida, um caos. Nunca me tinha acontecido algo assim. Para além de nós, um casal com três miúdos perdeu o voo. Espero que façam mais zonas de embarque e segurança. Em Barcelona foi sempre a andar, não me confrontei com nada disto».
Quem concorda com Joana é Isabel Lima, que viajou na semana passada para Bruxelas. «Tanto as partidas como as chegadas estão um caos. Essa é a palavra certa para definir aquilo que se passa. Não sei se faltam recursos humanos, não sei se faltam recursos materiais, mas alguma coisa tem de ser feita. Quem parte para uma viagem a partir do Aeroporto de Lisboa ou aterra de uma lá não fica nada bem impressionado. Que imagem queremos transmitir?», questiona. «Mesmo chegando com 1h30 de antecedência, pensei que ia perder o voo. Eu e muitas mais pessoas que estavam comigo. Tudo demora imenso tempo e parece que as filas se prolongam infinitamente», frisa.
Alinhado com Joana e Isabel está João dos Santos, que viajou para Zurique em novembro. «Tem de ser feita alguma coisa para mudar este panorama e não sei se a construção de um aeroporto longe do centro de Lisboa será a solução mais acertada. Viajar a partir do Aeroporto de Lisboa tornou-se complicado, pelo menos por aquilo que tenho visto nas minhas últimas viagens, e parece que os decisores políticos não se importam minimamente com aquilo que se passa. Estão focados na construção de uma nova infraestrutura quando nem sequer conseguem manter a principal funcional».
O Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, foi novamente classificado como um dos piores aeroportos do mundo de acordo com o ranking anual da AirHelp. Numa análise de 194 aeroportos divulgada recentemente, a organização internacional de defesa dos direitos dos passageiros aéreos posicionou a Portela como o quarto pior aeroporto do mundo no AirHelp Score 2023, ocupando a 191ª posição na lista.
Comparando com o ranking de 2022, onde o Aeroporto de Lisboa estava no 143º lugar entre 151 aeroportos avaliados, houve uma queda significativa na avaliação geral atribuída ao Humberto Delgado, diminuindo de 6.75 pontos para 6.48 pontos. Os últimos lugares da lista são ocupados por outros aeroportos: o Aeroporto de Gatwick, em Londres, o Aeroporto Internacional de Malta e, na última posição, o Aeroporto Syamsudin Noor em Banjarbaru, na Indonésia.
Já o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, localizado na cidade do Porto, está classificado em 91º lugar no ranking da AirHelp, com uma pontuação de 7.52. Apesar de estar entre os 100 primeiros aeroportos, houve uma queda em relação à posição 54 no ano anterior. O Aeroporto Internacional de Muscate, em Omã, ocupa o primeiro lugar no ranking, seguido pelo Aeroporto Gilberto Freyre no Recife, no Brasil, e o Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo.
Quanto à avaliação das companhias aéreas no mesmo site, a TAP subiu dois lugares em comparação com o ano anterior, ocupando agora a 31ª posição. Os problemas de pontualidade foram o principal fator de penalização na avaliação da transportadora portuguesa. Na lista das companhias aéreas com melhor classificação, a Qatar Airways lidera, seguida pela alemã Eurowings e a polaca LOT Polish Airlines completa o pódio. A Tunisair, da Tunísia, está classificada como a menos bem avaliada, ou seja, no último lugar.
O novo aeroporto
O primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o próximo Conselho de Ministros tomará medidas imediatas em relação ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, em resposta ao relatório preliminar da Comissão Técnica Independente (CTI) sobre o futuro aeroporto da cidade. Costa destacou a importância do tema, que tem sido discutido ao longo de 50 anos, e considerou o momento como um marco de «maturidade democrática».
O líder do Executivo reconheceu a urgência de lidar com a capacidade esgotada do Aeroporto Humberto Delgado. Destacou também que não haverá consenso unânime sobre a localização do novo aeroporto, dada a diversidade de opiniões, mas ressaltou a importância de uma metodologia que traga conforto a todos na tomada de decisão.
A CTI avaliou oito opções para o novo aeroporto com base em cinco fatores críticos, incluindo segurança aeronáutica, acessibilidade, saúde pública, conectividade e investimento público. A conclusão indicou que a solução mais vantajosa seria manter o Aeroporto da Portela, em simultâneo com Alcochete, até que este último esteja pronto para operar como aeroporto único, com pelo menos duas pistas. Outra opção considerada viável seria manter a Portela e construir um novo aeroporto em Vendas Novas até que este também possa operar como único.
O relatório preliminar será agora submetido a consulta pública até 19 de janeiro, antes da elaboração do relatório final. Além disso, o primeiro-ministro anunciou que o próximo Conselho de Ministros aprovará uma resolução para impor à ANA (Aeroportos de Portugal) a execução imediata de obras no Aeroporto Humberto Delgado, incluindo a remodelação e ampliação do Terminal 1. A resolução também abordará ajustes no sistema de navegação aérea pela NAV.
Entretanto, e como revelou a RTP, o Ministério Público (MP) está a investigar 16 contratos realizados pela CTI do futuro aeroporto de Lisboa, todos efetuados por ajuste direto. Há suspeitas de violação da legislação de contratação pública, especialmente devido à relação entre uma das empresas contratadas e um membro da CTI (Rosário Macário). O caso foi encaminhado para o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que está a avaliar se há fundamentos para abrir um inquérito-crime, conforme informado numa nota oficial.
Os três contratos em questão somam um montante superior a 612 mil euros e foram firmados com a empresa TIS PT – Consultores em Transportes, Inovação e Sistemas (213.730 euros), a Associação – Instituto para a Construção Sustentável (ICS) (212 mil euros) e o Instituto do Ambiente e Desenvolvimento (186.560 euros). A investigação visa esclarecer se houve irregularidades na adjudicação destes contratos e se as relações entre a CTI e as empresas contratadas violaram as normas da contratação pública.
A presidente da CTI, Maria Rosário Partidário, assegurou à RTP1 que o processo de contratação pública «decorreu no mais escrupuloso cumprimento de todos os procedimentos legais exigíveis». Afirmou que Rosário Macário, também envolvida na investigação, não participou em nenhuma fase do procedimento e não exerce funções executivas na empresa há vários anos. Estas declarações foram feitas em resposta a uma investigação da RTP1 que revelou uma rede de interesses e negociações questionáveis no contexto do novo aeroporto de Lisboa. A reportagem envolve nomes como Diogo Lacerda Machado e Vítor Escária, ambos arguidos na Operação Influencer e próximos do primeiro-ministro António Costa. A situação levanta questões sobre potenciais influências e ligações entre decisores políticos e o processo de contratação para o novo aeroporto.