O Sporting venceu o FCPorto (2-0) na última segunda-feira e naquele que era o jogo mais ansiado da jornada, ganhou e ganhou bem, foi superior em todos os aspetos, os dragões mostraram fraquezas velhas e que se vêm agudizando por falta de aposta no mercado e, infelizmente, deixaram o campo com um rasto de arruaceiros que cada vez mais se lhes cola à pele sempre que perdem.
Pode Sérgio Conceição vir lamentar-se de já ter visto a sua equipa jogar mais de duas horas com um jogador a menos durante este campeonato, mas se calhar, em vez de fazer má cara aos jornalistas com quem entra em conflito nas Conferências de Imprensa, deveria franzir o sobrolho e dar um gritos bem merecidos a jogadores como Pepe, logo este, que se fez expulsar irresponsavelmente durante o clássico, ainda por cima por um gesto que já se torna insuportavelmente inadmissível no capitão portista, deixando os seus companheiros diminuídos em campo e incapazes de resolverem um problema irresolúvel.
Com esta vitória estão os leões na frente com 34 pontos, mais um do que o seu rival favorito, Benfica, que vencendo em Braga por 1-0 no domingo deu a ideia (consentânea com o que fizera em Salzburgo) de que se encontra, se não em fase de crescimento, pelo menos em fase de maior consistência – e não faltaram momentos do jogo da Pedreira que não nos fizessem pensar que o Benfica de há um mês teria acabado por perder o jogo.
Assim sendo, os três habituais da vida airado do futebol nacional passam o Natal todos juntos – o FC Porto só está a dois pontos (um empate) do Benfica e a três (uma derrota) do Sporting, e vai receber ambos na segunda volta, o que não é despiciendo. Se era equilíbrio que se desejava – e só não o desejam os adeptos mais empedernidos – aí temos equilíbrio à espera dos próximos confrontos que só estão marcados para 29 e 30 de dezembro.
‘What’s new pussycat?’
Lembrei-me, de repente, da velha canção de Tom Jones: “What’s new pussycat?/Whoa, whoa, whoa, whoa/Pussycat, pussycat/I’ve got flowers and lots of hours to spend with you”, que depois deu um filme com Woody Allen, Peter Sellers, Peter O’Toole, Romy Schneider e o diabo a quatro. Na verdade é preciso perguntar o que virá aí de novo? Chega-se a janeiro e abrem-se de novo as portas do mercado o que faz com que, a partir daí, passemos, de repente, a jogar um campeonato diferente daquele que foi disputado até ao momento.
Rui Costa, o presidente do Benfica, não se coibiu de afirmar publicamente que o clube iria tentar reforçar a equipa que Roger Schmidt tem em mãos e que, apesar de algumas exibições miseráveis, continua a contar apenas com uma derrota, sofrida logo na primeira jornada, no Bessa, frente ao Boavista. As deficiências visíveis nas laterais defensivas e a dificuldade de encontrar entre os três que estão no plantel um ponta-de-lança que faça golos com regularidade pesarão certamente nas decisões dos responsáveis encarnados.
O Sporting, por seu lado, tem o caso do ponta-de-lança mais do que resolvido, e com uma qualidade rara, mas poderá Gyökeres vir a ser alvo do interesse internacional ainda que a sua cláusula seja bastante gorda. Estamos habituados a que as cláusulas valham o que valham: ou seja, apenas um primeiro ponto para a discussão posterior do negócio. É minha opinião que nenhum dos clubes grandes portugueses pode, neste momento, recusar nem 50 milhões de euros que seja porque jogador for (João Neves estará, por exemplo, numa situação similar), ainda por cima depois de Sporting e Benfica terem esbanjado esta época os milhões da Liga dos Campeões. O FC Porto somou verbas interessantes, continua em prova, mas sofre de outro tipo de problemas – está a viver uma crise económica e política grave, o seu presidente eterno sofre críticas como nunca sofreu, talvez não tenha capacidade para ir ao mercado, como já não foi no Verão, mas também, tirando Diogo Costa, não possuí nenhum jogador que possa vir a entusiasmar os compradores que estão, neste momento, à coca de apenas uma ou outra peça para completarem os seus puzzles.
Não consigo deixar de me convencer que esta próxima dança de compras e vendas irá ter um peso significativo na decisão do campeão nacional. É tido e sabido que os próximos três meses são muito duros, sobretudo quando regressarem as competições europeias e mesmo que Benfica e Sporting possam ter a tendência habitual de desprezarem a Liga Europa, poupando-se nesses confrontos para ficarem mais frescos para a luta interna. Já o FC Porto tem sempre que dar o seu melhor contra o Arsenal porque a importância da prova a isso o obriga.
Estamos à beira do fim da primeira metade do campeonato. Atirar para o ar o nome de um favorito obrigaria a uma certa dose de estultícia. Numa jornada apenas, todas as cadeiras poderão trocar de dono, o que atira para as costas dos candidatos a pressão que merecem. Ou não fossem eles candidatos.