O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, retomou no passado dia 24 a habitual mensagem de Natal que todos os anos era transmitida pela RTP, exceto no anterior, em que não foi emitida pela primeira vez desde 1967. Sem papas na língua, o Patriarca apontou as fragilidades, a instabilidade no mundo e em Portugal e o flagelo da migração. Dirigindo-se em especial a todos os que passaram o Natal no “cumprimento do dever profissional e social; num hospital, num lar de idosos ou em casas de acolhimento para crianças e jovens; em viagem ou em condições de doença e debilidade; em companhia de outras pessoas ou na solidão do esquecimento”, D. Rui Valério enfatizou a realidade de um “país que dificilmente consegue estar à altura de dar uma vida digna aos seus cidadãos”. Destacando a pobreza, a crise na habitação e nos cuidados de saúde e as dificuldades em se conseguir proporcionar uma “educação condigna”.
Sem esquecer uma mensagem de esperança, o Patriarca começou por afirmar que “chegamos ao Natal com a amarga sensação de que o projeto de civilização inaugurado pelo próprio nascimento de Jesus Cristo, e maturado ao longo dos séculos, está a regredir”. Destacando “as guerras em curso, na Ucrânia, no Médio-Oriente, ou na República Centro Africana; a crise ecológica mundial; a tragédia do não-acolhimento dos migrantes” como sintomas dessa sensação.
“Todos, Todos, todos”
Quanto à realidade nacional, D. Rui especificou: “Também no nosso país, as notícias do aumento da pobreza, do número de famílias que, na labuta do dia-a-dia, têm cada vez mais dificuldade em fazer face às necessidades básicas são sinais de um país que dificilmente consegue estar à altura de dar uma vida digna aos seus cidadãos: de lhes proporcionar os devidos cuidados de saúde e de habitação; uma educação condigna, onde haja professores e condições para ensinar e aprender, enfim, de abrir perspetivas de futuro para todos”. E acrescentou: “Evoco estas circunstâncias porque é o Natal, que nos move a considerar os inóspitos panoramas humanos e existenciais, porque é aí, sempre aí, nos estábulos da exclusão, nas manjedouras da marginalização e nas periferias da noite que o Filho de Deus nasce”. Esclarecendo que é “nos não-lugares que Jesus Cristo nasce incessantemente. Nos escombros de projetos fracassados, nas ruínas de sonhos desvanecidos, Deus faz-se homem”.
Lembrando a mensagem de Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude, o Patriarca cita o Santo Padre sublinhado o Natal como revelação “dos caminhos de esperança e de vida; para estabelecer pontes de encontro com todos, todos, todos”. Sendo esta a época que “convoca o melhor do ser humano, e sintoniza-nos com o que de mais belo ele é capaz”. Vai ainda mais além: “Independentemente da etnia e da cultura, o mundo inteiro vê confirmado o Projeto de Deus na humanidade. Ele não desiste das pessoas. Sente-se a força de uma confiança renovada em cada um, em cada mulher e em cada homem. Ele próprio se faz homem, faz-se um de nós, em todas as circunstâncias da vida”.
Mensagem de esperança
No final, D. Rui Valério deixa uma mensagem de esperança, concluindo que é “quando o próprio Deus se faz homem, em Jesus Cristo, se identifica connosco, estamos perante a mais pujante afirmação de confiança na humanidade e na presença da mais bela declaração de amor aos homens e mulheres por Ele amados. E, pressentimos que só o amor é decisivo para afirmar, promover e salvaguardar a dignidade dos seres humanos criados à sua imagem e semelhança”.