Quando a solução foi sair do país ou recorrer a ceias de Natal em hotéis

Para muitos, o Natal já não é o que era. E se há quem preferiu passar estes dias em casa com a família houve quem optasse por sair do país ou mesmo ficando cá recorreu a restaurantes para fazer a ceia ou o almoço de Natal, onde os hotéis foram os campeões da procura.

Se para muitos, Natal é sinónimo de família e de tradições familiares, para outros esta época pode ser usada como espécie de escape para quebrar a rotina e há sempre quem opte por fugir do país. Aliás, há vários filmes que retratam essa realidade de quem opta por ir para algum país tropical, por exemplo, para fugir da restante família ou apenas para tentar evitar os seus dramas pessoais durante esta época. Quem não se lembra do filme O amor não tira férias com Cameron Diaz,Kate Winslet,Jude Law?

Contactado pelo nosso jornal, um responsável de uma agência de viagens admitiu que se assistiu a um aumento da procura nesta época, mas reconheceu que o ponto alto das viagens nesta altura é a passagem de ano. Por outro lado, lembrou que as viagens realizadas no mercado nacional são na sua maioria organizadas em família e sem recurso a um intermediário.

Já um outro responsável do setor afirma que há sempre casos de pessoas que estão sozinhas e não querem passar esta época nos locais que conhecem ou de casais que optam por fazer uma espécie de lua-de-mel. 

Do lado da hotelaria, as perspetivas são animadoras, apesar do aumento de preços que estão a ser cobrados. Os números ainda não estão fechados, mas a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) já tinha revelado que para o período de Natal está prevista uma ocupação na ordem dos 78% para a Madeira, 63% para Lisboa e 61% para o Algarve. “Apenas a região Centro e os Açores não têm expectativas superiores em taxa de ocupação no período do Natal em relação ao ano passado”, admitiu Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP.

Quanto ao preço médio, entre 22 e 26 de dezembro, o custo por noite terá subido 14%, de 118 euros para os 135 euros, quando comparado 2022 com 2023. No entanto, há regiões a apontarem para valores superiores. Um desses exemplos é a área metropolitana de Lisboa e o Algarve, onde terão registados aumentos de preço de 21% face ao ano passado, atingindo 169 euros e 126 euros, respetivamente. O mercado português foi um dos principais clientes dos hotéis durante o período do Natal. 

Ceias em hotéis com tendência crescente

Outra realidade que tem vindo a crescer todos os anos, apenas interrompida na altura da covid, e que tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos, é fazer as refeições de 24 ou de 25 de dezembro ou até mesmo os dois dias num hotel, o que não implicou que tenham passado a noite no espaço escolhido. E este ano não foi diferente. “Temos assistido a uma tendência cada vez mais crescente de procura por parte de pessoas que querem fazerem os jantares ou os almoços fora de casa nesta época, mesmo não ficando nas unidades hoteleiras”, revela ao nosso jornal, Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) e a ceia de Natal foi uma das emblemáticas.

A responsável explica que esta tendência pode ser explicada por várias razões. “As pessoas andam sempre numa roda viva, estão cansadas e, por isso, preferem fazer as refeições fora. Às vezes, as casas também não têm a possibilidade de juntar tantas pessoas, para outras até pode ser comodismo”.

No entanto, apontou para a existência de disparidades regionais. Ainda sem dados concretos explica que no caso das microempresas, “localizadas em regiões de menor procura e mais dependentes do mercado nacional”, as perspetivas são “menos animadoras” face à procura, devido à perda do poder de compra das famílias e tendo em conta que as despesas com restauração são as primeiras a serem cortadas. Por outro lado, os grandes centros urbanos conseguem atrair mais pessoas, perante a oferta cultural disponível e o investimento “das entidades públicas em eventos e programas de fim de ano”, o que não acontece em vários municípios de pequena dimensão. 

“Aqueles locais e aquela oferta que está mais dependente do mercado interno está mais apreensiva do que aquela oferta que está mais dependente do mercado internacional. E depois também temos os centros urbanos e alguns locais onde as câmaras principais apostam muito nesta época e isso também atrai turistas. E há outros que não apostam tanto e atraem menos turistas”, acrescenta. 

Entraves

Apesar do aumento da procura nesta época, Ana Jacinto reconhece que a falta de mão-de-obra ganhou maiores contornos. “A problemática da falta de trabalhadores é transversal durante o ano todo, não é só nesta época. Agora é sempre mais complicado porque se atinge um pico de trabalho. Este problema adensou-se um bocadinho nestes dias, mas as empresas já sabem que nessa altura acontece este pico do trabalho e procuraram reforçar as suas equipas dentro do possível”.

A somar há que contar com custos acrescidos. A secretária-geral da AHRESP lembra que os trabalhadores que trabalham aos feriados, aos fins de semana e quem faz trabalho noturno implica acréscimos salariais. “São mais custos para as empresas e perante isso é normal que haja necessidade de levar a cabo um ajuste de preço”, acrescentando que “é sempre muito difícil esse equilíbrio, porque depois os clientes especialmente do mercado interno não têm tanta disponibilidade financeira para acompanhar esses aumentos. Mas sempre que é possível ajustar o preço obviamente que o devem fazer, sempre com esta ideia de equilíbrio”. 

Ainda assim, admite que é mais fácil fazer ajustes de preço na hotelaria do que na restauração. “No caso de restauração todos aqueles que puderam estão a fazer ajustes de preço, mas a maioria não o consegue fazer porque isso também se reflete na perda de clientes porque o poder de compra dos portugueses diminuiu. Isso é uma realidade. No caso do alojamento é mais fácil ajustar o preço por causa do mercado internacional. Na maioria dos casos, o seu alvo é mais o mercado internacional do que a maioria dos restaurantes e, portanto, foi mais fácil ajustar. Mas mesmo para o mercado interno é sempre possível ir ajustando um bocadinho o preço. E é isso que também as empresas estão a fazer”, conclui.