Wolfgang Schäuble. O homem que mandou na Europa numa cadeira de rodas

1942-2023. «Dizer que sou obstinado, ou amargo, ou mau é uma palermice»

Foi advogado, político, braço-direito de Helmut Köhl, líder da CDU, ministro das Finanças de Angela Merkel e presidente do Bundestag, o parlamento alemão. Wolfgang Schäuble, o homem que comandou com mão de ferro, a partir da sua cadeira de rodas, a política económica da Europa nos duros anos da austeridade grega e portuguesa, morreu no dia 26 de dezembro, de cancro, aos 81 anos. «Dizer que sou obstinado, ou amargo, ou mau é uma palermice», disse um dia ao Die Zeit.

Filiado nos democratas-cristãos (CDU)_desde a juventude, foi membro do Parlamento alemão durante mais de 40 anos. Subiu na carreira à sombra do líder conservador Helmut Köhl, tendo chegado a perfilar-se como seu sucessor à frente do governo. Na altura, a revista Stern perguntava: «Um aleijado como chanceler?». Mas a CDU perdeu as eleições de 1998 e no final de 1999 o homem da cadeira de rodas viu-se envolvido num escândalo relativo ao financiamento do partido que minou o seu prestígio e credibilidade. Kohl não o defendeu.

Na verdade, Schäuble foi-se deparando, ao longo da vida, com várias crises e obstáculos. O maior deles surgiu-lhe no caminho a 12 de outubro de 1990. Apenas nove dias após a cerimónia da reunificação das duas Alemanhas, de que foi um dos principais artífices, foi atingido durante um comício por um dos três tiros disparados por um homem mentalmente perturbado. Esteve entre a vida e a morte. Os médicos conseguiram evitar o pior mas não que ficasse paralisado da cintura para baixo.

Mesmo diminuído, conseguiu regressar aos lugares cimeiros do poder. Em 2004 viu Merkel negar-lhe o apoio para uma candidatura à Presidência, mas logo no ano seguinte foi convidado a assumir a Pasta do Interior, que tão bem dominava.

Em 2009 tornou-se ministro das Finanças alemão, cargo que ocupou até 2017, nem sempre de forma consensual. O cognome ‘tesoureiro da Europa’ assenta-lhe bem, não só por Schäuble gerir as finanças da UE_como pela sua política de cortes. O ex-primeiro-ministro português José Sócrates, numa entrevista ao Expresso, chamou-lhe «estupor» e ainda disse: «Todos os dias esse filho da mãe punha notícias nos jornais contra nós».

Após a saída do Governo em 2017 Schäuble tornou-se presidente do Bundestag, aí permanecendo até 2021.