A Venezuela da Europa

E temos ainda os funcionário públicos, mais de 700 mil, a quem o Estado, generosamente, lhes confere um vencimento e condições acima das correspondentes às do sector privado, pelo que a tentação de votar no polvo socialista é bem real.

Numa recente entrevista de rua, uma senhora reformada, quando questionada sobre o seu próximo sentido de voto, respondeu prontamente que por ela não se muda nada, invocando a sua condição de retirada da vida laboral activa para não haver necessidade de mudanças.

Interrogada acerca dos escândalos de corrupção que têm manchado o actual executivo, desculpou-se de que nos outros países existe o mesmo problema e apontou aos mais jovens para que sejam eles a insurgir-se contra este estado de coisas.

Esta criatura não aparece como um caso isolado. Uma percentagem significativa dos pensionistas, se não mesmo a larga maioria, pensa exactamente o mesmo,  ou seja, estão conformados com o Estado socialista e nem lhes passa pela cabeça mudar o seu sentido de voto.

Trata-se de um universo de mais de três milhões de almas e no qual o PS tem sempre pescado, oferecendo umas migalhas que, apesar de pouco significativas, revelam-se como atractivas para quem vive remediado. 

Junta-se-lhe a quase totalidade dos subsídio-dependentes, que deverão rondar mais de três centenas de milhar, naturalmente dispostos a não abdicarem de um salário para o qual não contribuíram com o seu trabalho.

E temos ainda os funcionário públicos, mais de 700 mil, a quem o Estado, generosamente, lhes confere um vencimento e condições acima das correspondentes às do sector privado, pelo que a tentação de votar no polvo socialista é bem real.

A verdade é que mais de metade do eleitorado português vive na órbita do Estado, dele dependendo para a sua sobrevivência, e na hora de votar vão apenas olhar para a folha de vencimentos e chegar à conclusão de que esta está ligeiramente mais choruda desde o início do ano, razão pela qual se vêem constrangidos a agradecer, através do seu voto, essa suposta benesse.

A ignorância não lhes permite observar para além do ordenado que auferem, caso contrário facilmente verificariam que os encargos que têm com a habitação, nos quais se inclui igualmente a electricidade, a água, o gás e as telecomunicações; e com a alimentação; com os transportes; com os combustíveis e com todos os restantes serviços fundamentais para a sua vivência em sociedade, tiveram um acréscimo bem superior ao aumento com que o patrão Estado os obsequiou.

E bastaria fazerem uma simples pesquisa para também concluirem que os nossos parceiros europeus, em particular aqueles que até há duas décadas viviam na miséria imposta pelo capitalismo de estado, nos ultrapassaram já em rendimentos e bem-estar social.

Se espreitassem para além do seu umbigo e observassem como se vive fora das nossas fronteiras, veriam, com clareza, que o socialismo que se apoderou do Estado está a conduzir Portugal, gradualmente, a uma condição de acentuada pobreza, aproximando-o dos países onde a fome impera e afastando-o daqueles que apostaram no desenvolvimento social e económico.

Este é o grande drama da democracia, que se tem constituído como um entrave para que certos países possam evoluir, e que consiste em que o voto do ignorante vale tanto como o do culto, o voto do preguiçoso vale tanto como o do enérgico, o voto do corrupto vale tanto como o do honesto, o voto do faltoso vale tanto como o do cumpridor, o voto do beligerante vale tanto como o do apaziguador, o voto do analfabeto vale tanto como o do instruído, o voto do traidor vale tanto como o do patriota; em suma, o voto dos mais inaptos vale tanto como o dos mais aptos.

Infelizmente, factor a que não será alheio o baixo nível da classe política que nos tem caído em sorte, cada vez há mais portugueses que se caracterizam pela quase total ausência de atributos virtuosos, e são precisamente esses que se vão encarregando de garantir a continuidade dos socialistas nas rédeas do poder.

Nos corredores do Palácio das Necessidades conta-se o registo de uma conversa que terá ocorrido entre um jovem diplomata, no início da carreira, e um embaixador, já no inverno da sua dedicação à causa pública.

O mais novo terá desabafado como ser possível que o País tenha chegado ao estado em que se encontra, sendo nós descendentes dos bravos aventureiros que descobriram novos mundos, que expandiram a Fé cristã por onde passaram, que tornaram a língua portuguesa universal e falada em todos os continentes e que criaram a portugalidade que sobreviveu até aos nossos dias, misturando-se com outros povos e por lá deixando raízes, ao que o mais experiente dos dois retorquiu que nós não descendemos dessa gente.

Perante o olhar incrédulo de quem dava os primeiros passos na arte da diplomacia, o embaixador concluiu, dizendo-lhe que nós descendemos, sim, daqueles que cá ficaram!

É esta a nossa sina. Já há cinco séculos, a nata dos portugueses levou o seu saber e experiência para as paragens mais distantes e os que aqui ficaram foram-se entretendo, ao longo dos tempos, em trucidar o legado por aqueles construído.

Hoje, a história repete-se: os melhores partem à procura de condições de vida mais vantajosas, enquanto que os que permanecem entre portas se resignam a um triste destino, recusando-se a mexer uma palha que seja no sentido de libertarem Portugal do jugo daqueles que teimam em o destruir.

Pouco se importam com o que se passa à sua volta e, por inacção ou por desempenharem um papel activo nesse propósito, são os verdadeiros responsáveis por Portugal caminhar, em velocidade acelerada, para se tornar na Venezuela da Europa.

Já falta muito pouco para lá chegarmos!

Se dentro de um mês Deus não incutir juízo dentro da cabeça de quem perder o seu tempo em deslocar-se a uma assembleia de voto, o martirizado destino da Pátria que nos viu nascer estará, irremediavelmente, traçado!