Para a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) há o risco de derrapagem orçamental nos Estados que realizam eleições em 2024, com metade da população mundial a ser chamada às urnas. “Quase 80 países vão ter eleições e sabemos o que está a acontecer, a pressão que existe para gastar durante os ciclos eleitorais”, disse Kristalina Georgieva, em entrevista à AFP. Ainda assim, admitiu que a economia global foi mais sólida do que o esperado em 2023, o que permitiu aos países fazer poupanças, no entanto, lembra que o esforço deve continuar enquanto “a economia deverá experimentar uma aterragem suave”, depois do pico de inflação observado nos últimos dois anos.
“A política monetária levada a cabo é a correta, mas o trabalho não está concluído. Por isso, é importante não a relaxar demasiado rapidamente ou demasiado tarde, mas também não ter uma política fiscal” que vá numa direção diferente, alertou. E refere que neste ano devem ser aplicadas as “lições aprendidas nos últimos anos”, acrescentando que os países devem “estar sempre prontos para enfrentar o inesperado”, referindo que “devemos estar preparados para as incertezas que surgirão”, o que exige margem em matéria de finanças públicas, que muitos Estados não têm depois de três anos de sucessivas crises.
Mas deixa uma garantia: o FMI “trabalha para ajudar os países a encontrar as melhores medidas a manter, o que devem continuar e onde concentrar a sua política fiscal. Porque, se a política monetária permanecer restritiva, se a despesa orçamental aumentar, isso irá contra o objetivo de reduzir a inflação”, chamando a atenção para o facto de a dívida de todos os países aumentou significativamente, o que criou, no seu entender, “dificuldades nos Estados mais vulneráveis, mas também em vários países emergentes, que enfrentam dificuldades de reembolso num contexto de subida das taxas de juro, disse a líder do FMI.
“O custo da dívida pública aumentou em todo o lado, mas permanece gerível em muitos países, porque tiveram a sabedoria de modificar a estrutura da sua dívida”, referindo que “para certos países o problema da dívida torna-se dramático, quer porque se tornam insolventes, quer porque têm de gastar uma grande parte dos seus rendimentos” a pagar a dívida, limitando a sua capacidade de investir e financiar serviços essenciais.