No tempo em que os animais ainda não falavam, num país distante, havia um rei vaidoso (não, não era Presidente, ao tempo ainda não havia presidentes) que se preocupava apenas com a sua aparência e com as suas vestes. Sabendo disso, chegam um dia ao palácio dois vigaristas apresentando-se como alfaiates. Confessam ao Rei possuírem o segredo do fabrico de um magnífico e invulgar tecido que apenas os olhos das pessoas inteligentes podiam ver. Encantado, o rei encomendou uma túnica e um manto. Os alfaiates ficaram a viver principescamente no palácio. Todas as semanas, pediam uma fortuna ao Rei, alegando ser muito caro o fio com que eram tecidas as vestes e muito perigoso e delicado o seu trabalho.
Um ano depois, começaram as provas, na presença de toda a Corte. O Rei nada via no espelho, mas não querendo passar por estúpido, calava-se e sorria. O mesmo se passava com a maior parte dos cortesãos que viviam na bolha do palácio, os quais, querendo passar por muito inteligentes, uns aos outros se ultrapassavam em elogios às tão faladas vestes. E iam-se prolongando as provas, os elogios, e… o esvaziamento do real tesouro. Alguns cortesãos, mais vividos e argutos do que os restantes, rapidamente perceberam a coisa e, sorrindo, dirigiram-se aos alfaiates, exigindo ter parte naquele saque, sob pena de tudo delatarem ao rei. Outros, mais ingénuos, murmuravam pelos cantos, mas os bobos da Corte, regiamente pagos pela clique que dividia os despojos, apodavam-nos, alto e bom som de ‘burros’ e de ‘terraplanistas’. Um ou outro dos céticos, mais renitente, viu-se acusado de ‘conspiracionista’, e enfiado nos calabouços reais.
Os alfaiates, tendo de dividir os lucros, aumentaram, em muito, os pedidos de dinheiro. Esvaziado o tesouro, começou o Rei a pedir empréstimos a alguns reis amigos e, quando estes se cansaram de emprestar, começou a carregar o povo de impostos. Vendo o filão prestes a esgotar, os alfaiates deram por terminado o seu trabalho.
Felicíssimo, o Rei convocou a multidão à imensa praça frente à fachada do palácio para se mostrar em todo o esplendor das suas novas vestes. Dia de sol, multidão sorridente. Tocam as charamelas, foguetes estalam no ar. Aparece o Rei. Silêncio sepulcral. Ninguém queria confessar a sua suposta estupidez. E, de repente, do coração daquele silêncio estupefacto, o grito de um rapazinho: «Mas o rei vai nu…!».
Neste momento, todos se aperceberam da dimensão e do risível da fraude. Gargalhadas. Rei e cortesãos recolhem-se à confortável bolha do palácio. Pela porta dos fundos há muito já que os artistas haviam fugido, em direção a novos reinos governados por velhos idiotas.
Este rapazinho foi o primeiro populista da História.
Abraham Lincoln, no seu famoso discurso de Gettysburg, definiu a democracia como «o governo do povo, pelo povo e para o povo».
Este, Lincoln, foi o segundo populista da História.
O povo suíço, um dos mais abastados do planeta, é o único onde a última palavra, em tudo o que importa, pertence ao povo e não aos burocratas de Berna.
Este, o povo suíço foi e é, o terceiro populista da História.
Um politólogo, lendo isto ficará escandalizado. Mas isto não é politologia, é a realidade política. E a realidade é que conta.
PS. Consta, mas não se conhece documentação credível, que o aparecimento do rei nu ao seu povo se deu, precisamente, num dia 10 de março l
Deputado do Chega