Portugal foi campeão da Europa de futebol há menos de oito anos, tem um dos melhores jogadores do mundo, vende jovens futebolistas a preços exorbitantes e exporta treinadores para todo o mundo. Porém, quando analisamos o desempenho das equipas portuguesas nas competições europeias deparamos com uma triste realidade. As eliminatórias e a fase de grupos da Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conferência deste ano não trouxeram nada de bom a Portugal, que ficou mais longe da França e dos Países Baixos e da possibilidade de voltar a ter mais clubes nas provas europeias nas próximas temporadas. Não é azar, é o estado do futebol português.
Para melhorar a competitividade internacional é necessário que os clubes que estão abaixo dos chamados grandes tenham mais qualidade, isso consegue-se com maior investimento na formação e com bons treinadores, e, eventualmente, com a alteraração dos quadros competitivos, nomeadamente reduzindo o número de participantes nas competições profissionais, um trabalho que deveria ter sido feito, mas não foi, pela Liga Portugal e pelos clubes. É imperioso elevar a qualidade e a competitividade das competições internas para melhorar a performance externa.
Os pontos acumulados por FC Porto, Sporting, Benfica, Braga e Guimarães colocam Portugal no modesto 11.º lugar esta época, mantendo o sétimo lugar no ranking europeu no acumulado dos últimos cinco anos, mas são insuficientes para encurtar a distância para os Países Baixos e França e, assim, tentar chegar ao Top 5 da EUFA, como aconteceu em 2015/16. No que se refere a clubes, o FC Porto surge na 19.ª posição no ranking de UEFA, o Benfica é 20.º, o Sporting ocupa a 34.ª posição e o Braga a 41.ª. Importa salientar que o ranking da UEFA é determinado pela soma dos coeficientes dos últimos cinco anos, incluindo o presente. O total de pontos somados por cada equipa é dividido pelo número de clubes de cada país que participa nas três provas europeias. A atribuição dos pontos na Liga dos Campeões é feita da seguinte forma: quatro de bónus de participação na fase de grupos, quatro de bónus de participação nos oitavos de final, dois pela vitória, um pelo empate e um por cada ronda que os clubes chegam a partir dos oitavos de final.
Más contas O balanço da época europeia é negativo. Das quatro equipas que disputaram a fase de grupos apenas o FC Porto tem garantida a passagem aos oitavos de final da liga milionária, onde vai defrontar o Arsenal. Benfica e Braga não se aguentaram na Liga dos Campeões e foram despachados para o playoff da Liga Europa e, em fevereiro, vão defrontar o Toulouse e o Qarabag, respetivamente. O Sporting foi segundo no grupo na Liga Europa e tem de disputar a mesma eliminatória, ou seja, nenhuma das três equipas tem assegurada a continuidade nas competições europeias. Bem pior fizeram o Guimarães e o Arouca, que foram eliminados por equipas medianas na qualificação da Liga Conferência. Pela terceira vez consecutiva não tivemos nenhuma equipa na fase de grupos de uma competição secundária, o que demonstra a falta de competitividade internacional das equipas abaixo do quarto lugar no campeonato português.
A perda de duas equipas nas pré-eliminatórias/playoff tornou-se um mau hábito e contribuiu para a recente queda de Portugal. Ter representantes nacionais nas provas da UEFA é positivo desde que as equipas tenham andamento para tal, mas não é isso sucede. Aconteceu mais do que uma vez um clube participar nas eliminatórias europeias e acabar a época a jogar para não descer de divisão. Desde que foi criada a Liga Conferência em 2021/22, Portugal conseguiu apenas 14,5 pontos com o Guimarães, Gil Vicente, Paços de Ferreira, Arouca e Santa Clara, ao passo que os Países Baixos conquistaram 95,5 pontos, com o PSV, AZ Alkmar, Vitesse e Feyenoord, e a Bélgica 81 pontos com o Brugge, Gent e Genk, o que mostra que os clubes belgas e neerlandeses de segundo plano têm claramente mais qualidade do que os portugueses.
Terminada a fase de grupos das competições da UEFA, as contas são fáceis de fazer. Como segundo classificado do grupo, o FC Porto vai receber 62,50 milhões de euros; 15,64 milhões pela presença na fase de grupos, 11,20 milhões pelas quatro vitórias e 26,15 milhões referentes ao ranking dos clubes na edição deste ano, a que se juntam 9,60 milhões de euros da qualificação para os oitavos de final. Apesar do desempenho desportivo negativo, o Benfica vai receber 43,74 milhões de euros; 15,64 milhões de euros pela presença na fase de grupos, 23,87 milhões referente às performances nas competições da UEFA nos últimos dez anos, 2,8 milhões de euros pela vitória, 930 mil euros pelo empate e 500 mil euros por participar no playoff da Liga Europa. O Braga vai receber 32,47 milhões de euros; 15,64 milhões pela participação na fase de grupos, 12,50 milhões pelo ranking dos clubes, 2,8 milhões pela vitória, 930 mil euros pelo empate, 500 mil euros por participar no playoff da Liga dos Campeões e 100 mil euros por ter ultrapassado a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões. O desempenho do Sporting na Liga Europa permite-lhe receber até agora 10,60 milhões de euros; 3,63 milhões pela participação na fase de grupos, 3,52 milhões euros referentes ao ranking dos clubes participantes, 1,89 milhões pelas três vitórias, 420 mil euros pelos dois empates, 550 mil euros pelo segundo lugar no grupo, 500 mil euros pelo playoff de acesso aos oitavos de final e 126 mil da redistribuição feita aos clubes pelos empates obtidos.
Acesso aos milhões Os resultados obtidos nos últimos cinco anos pelas equipas portuguesas fizeram com que Portugal tivesse sido ultrapassado pela França e, mais recentemente, pelos Países Baixos, e começa a ficar ameaçado pelos belgas. Se mantiver este registo, o nosso país pode ser ultrapassado pela Bélgica, que subiu do 13.º lugar, em 2021/22, para o oitavo posto, em 2023/24, e tem apenas a 7,149 pontos de atraso. Em termos prático, Portugal vai ter apenas cinco equipas nas provas europeias em 2024/25 em vez das seis como acontecia anteriormente. Na próxima temporada só o campeão nacional tem entrada direta na nova Liga dos Campeões e o segundo classificado tem de disputar duas eliminatórias para entrar na fase de grupos. Há outras possibilidades (teóricas) de ter mais equipas nesta competição, caso o FC Porto ganhe a Liga dos Campeões e/ou o Benfica, Sporting ou Braga vençam a Liga Europa. As outras três vagas são para a Liga Europa (2) e Liga Conferência (1). O vencedor da Taça de Portugal entra diretamente na Liga Europa e o terceiro classificado tem de fazer a qualificação, mas se o vencedor da Taça for o campeão nacional ou o segundo classificado, o terceiro classificado tem acesso direto à Liga Europa. Na Liga Conferência vai participar o quarto classificado, caso o vencedor da Taça de Portugal vá à Liga Europa, ou o quinto, se o vencedor da Taça for um dos dois primeiros do campeonato.