O Relatório Preliminar da Comissão Técnica Independente (CTI) está em consulta pública. Seguem algumas pérolas do livro, a publicar brevemente, que esmiúça o Relatório.
i. A projeção do número de passageiros a 2050 é o indicador mais importantes para justificar o aeroporto no Centro de Tiro da Força Aérea (CTA). Eis dois dos erros da CTI que deitam abaixo este indicador.
Os relatórios da CTI publicados no Verão são de 52 e 67 milhões passageiros em 2050, hipótese alta e baixa. Em dezembro, os números já são 66, 85 e 108 milhões, em baixa, média e alta. Entre os valores máximos do verão e os do outono, 67 e 108 milhões, há um aumento de 61%. Nestes três meses não houve alteração do mercado que justifique este salto. O que mudou? No Portugal em que vivemos, apenas mudou a necessidade de números que garantam a rentabilidade de todas as Opções que a CTI inventou.
Mais, o número de Residentes em Portugal que viajará de avião em 2050 será de 9.5, 12.3 e 15,8 milhões. Azar, a previsão do INE para a População Residente de Portugal é de 7,5 milhões. A CTI põe toda a População do País a viajar de avião pelo CTA e com muitos residentes a viajar mais de uma vez.
ii. A CTI quer fazer do CTA um ‘aeroporto hub’, coisa que não existe. Há hubs de companhias aéreas nos aeroportos que são a sua base. Na métrica do Airports Council International, o hub da TAP vale cerca 6.500 unidades. Os 5 ‘majors’ (Francoforte, Amesterdão, etc.) valem cerca de 50.000 unidades. Até 2050, o hub da TAP teria de multiplicar esta métrica por 8 para atingir 52.000, objetivo impossível. A CTI prevê que os turistas em hub passem de 1,9 milhões em 2019, a 5.3, 6.8 e 8.7 milhões em 2050, um exagero. Seriam necessárias centenas de voos diretos da TAP para os aeroportos das Américas e Africa, já servidos por grandes companhias europeias.
Um número de passageiros excessivo e um ‘aeroporto hub’ impossível deitam abaixo o segundo grande argumento da CTI a favor do CTA, o de vir a ser um ‘aeroporto hub’.
ii. No seu Podcast, Daniel Oliveira questiona a presidente: «Portugal terá condições, pela sua localização, para ser a porta de entrada das Américas para a Europa?». A presidente não se fica «Toda a análise económica que fizemos está fortemente apoiada nesse pressuposto». Pum! Ambos ignoram a escala do tráfego aéreo entre as Américas e a Europa via os hubs das grandes companhias. Não há ‘porta para a Europa’, há um hub de nicho em Lisboa e meia dúzia de grandes aeroportos de entrada/saída na e da Europa.
iv. A CTI prevê o CTA operacional em 2031 com duas pistas. A ligação ferroviária entre CTA e Gare do Oriente exige via-férrea dedicada que não estará pronta. A CTI tem resposta: «Aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete poderá avançar e vir a funcionar sem acessos ferroviários e, apenas, com acessos rodoviários». A CTI já perguntou às companhias aéreas se aceitam voar para ‘este’ CTA?
v. A CTI ignora que o CTA implica deslocalizar cerca de 21.000 postos de trabalho, atualmente no AHD. Não prever o indispensável Planeamento Urbano «vai resultar numa pressão urbanística brutal. E os municípios, que estão articulados, já sabem disso. Vemos já enormes pressões urbanísticas» segundo Gonçalo Byrne. É aberta a via livre para a especulação imobiliária.
Em conclusão, construam o CTA porque sim, mas não com base neste Relatório e ofendendo a inteligência dos portugueses.