Hoje em dia os aldrabões estão baratos e Ricardo Salgado já dizia que estamos rodeados deles. São carismáticos, falam alto, julgam-se espertos e, no final, convencem-nos que as vítimas são eles. Sim, para todo o mentiroso existe o idiota para acreditar – eles precisam um do outro para sobreviver.
Miguel Esteves Cardoso escrevia que aldrabar não era enganar, mas que o aldrabão podia ser confrontado; já o calado, como não tendo falado, não mentiu – é o que adormeceu de boca aberta. E, por falar em mentira, nunca se mente tanto como antes de uma eleição, durante uma guerra ou após uma caçada. A eleição está aí e há uma guerra pela caça ao pato.
Enquanto o Governo barbeia o país, ele vive do ‘lixo’ e não se recicla – porque há quem prefira o silêncio do desprezo e esperar. O país está míope e na política não há eloquência – porque baixamos a cabeça e seguimos adiante. Eça já lembrava que quanto mais a um se prova a sua incapacidade, tanto mais apto ele se torna a governar o seu país.
Portugal está profundamente doente e há trinta anos que se atrasa. Continuamos a apostar na pobreza porque é o que nos dá subsídios. Temos más políticas e maus políticos – falta-lhes competência e responsabilidade. Mas, porque continuamos a fazer más escolhas? Simples: porque sessenta por cento dos portugueses vivem, direta ou indiretamente, dependentes do Estado e se houver mudanças, que mudem os outros.
Nos últimos três anos emigraram quatro estádios de futebol cheios de pessoas (Luz, Alvalade, Dragão e Braga); somos os europeus que mais saem do país e temos os níveis de capital humano mais baixo da Europa ocidental; o capital financeiro é baixíssimo, a fiscalidade é sufocante e as instituições estão a degradar-se sem que alguém tenha coragem de dizer que temos de mudar de vida.
Por cá, há menos ‘pró-mercado’ e mais ‘pró-negócio’ – as instituições são mais rentistas e mais vocacionadas para as negociatas. O dinheiro que vem da Europa está a distorcer o sistema político português e a preguiçar a nossa economia. Portugal precisa de uma agenda liberal que defenda, não o lucro, mas a concorrência que beneficia os consumidores e promove o capital de coesão.
À direita há manipulação, populismo e partidos que defendem as rendas de certas empresas; ao centro há moderados, acobardados e assustados que não resolvem os problemas mas subsidiam-nos, permitindo que o uso não impeça o abuso; à esquerda há antidemocratas que distorcem e mentem, destruindo a criação de valor.
Portugal tem muita tática e pouca estratégia – tática é o que faz ganhar um jogo e estratégia é o que faz ganhar um campeonato. Os governantes que querem sobreviver de hoje para amanhã, preferem cortar fitas que lhes dá votos a curto prazo, do que promover reformas que darão resultados para outros que venham a seguir. Gostemos, ou não, Sócrates foi o último reformista.
Agora, já não basta chorar para ‘mamar’, é preciso rosnar, rugir – porque roda que chia é a que leva óleo. Enquanto reclamarmos muito e exigirmos pouco, os europeus estarão a tratar da sua vida e os portugueses a tratarem da sua vidinha – é bar aberto com a boca no espicho até ao escorropicho.