Até às eleições, marcadas para 10 de março, os candidatos à Assembleia da República, e por força do modelo português que elege o Primeiro-Ministro, necessitam de um bom revestimento do estômago por causa da muita carne assada que vão comer (possíveis exceções porque algumas ementas são prolongamento de ideais políticos) e de ter a voz bem afinada para os discursos preparados ou improvisados.
Deixo as questões estomatológicas para quem disso percebe. Não me privo, no entanto, da oportunidade de neste espaço partilhar algumas ideias sobre a voz por causa da minha carreira de locutor de rádio, que caminha para os 40 anos…
A voz é singular em cada um de nós e por isso elemento de identidade. Transmite a quem escuta informações capazes, em alguns casos, de colocarem em causa a veracidade do que está a ser dito. Assim se descobrem alguns mentirosos…
Desde cedo que o Homem percebeu a importância de tão importante ferramenta. Platão, Cícero, Jesus Cristo, Gandhi, Obama, Martin Luther King são alguns dos que souberam utilizar o potencial das suas vozes. Os registos sonoros permitidos desde a passagem do século XIX para o XX possibilitam o estudo de alguns casos. De outros, nada sabemos: Que timbre teria a voz de Aristóteles? Como falava Platão? Que eloquência terá aplicado Jesus Cristo no Sermão da Montanha?
Hoje a palavra dita enquanto compromisso depende da moral e ética de cada um. O dito, pelo não dito faz esvoaçar e perder o valor da palavra. É o oposto das expressões/sentimentos como dou-lhe a minha palavra e palavra de honra, que tentam dotar a voz de um carimbo e de uma fixação.
Uma boa voz não tem de possuir características de bel canto ou ser apropriada para spots de rádio e televisão. Uma boa voz é a que se faz ouvir de forma agradável com uma boa dicção. Que se faz notar no tempo adequado e ritmo certo. Deve ter a dose correta de eloquência exigida pelo texto que está a ser lido ou pela dinâmica do momento. Tem de cativar.
Voltando às vozes que vão soar na campanha eleitoral, e sem querer ser presunçoso, tomo a liberdade de deixar dois conselhos. Até ao dia das eleições haverá momentos que as vozes vão ser feias, estridentes e tonitruantes. Candidatos e candidatas: não esforcem em demasia as vossas cordas vocais que ainda arranjam calos nessas amigas. Isso só vos vai trazer chatices e problemas no futuro. Segundo conselho: nos momentos mais tensos, tomar um chá. O de perpétua roxa é ótimo para a voz e para combater a rouquidão…enfim, para acalmar.
Professor Universitário
Diretor da licenciatura em Ciências da Comunicação – Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona -Centro Universitário de Lisboa